Alguém mais forte

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07/12/2020 - 00:45

A palavra de Deus deste 2º Domingo do Advento vem como um bálsamo para a humanidade, no final de um ano da angústia e sofrimento. Quanta incerteza suportamos ao longo da pandemia de COVID-19! Quantos irmãos nossos ficaram doentes e quantos outros faleceram! E tantos perderam seu trabalho e segurança econômica! Alguns não resistiram, ficaram desorientados e tiveram crises e depressões.

Talvez experimentamos um pouco daquilo que o povo de Deus passou, conforme nos fala o profeta Isaías na 1ª leitura da missa deste domingo (cf. Is 40, 1-5.9-11): o povo havia perdido tudo e vivia numa total insegurança, exilado e escravo na Babilônia; a muitos pareceu que Deus os havia abandonado à própria sorte e não poucos entraram em desespero e perderam a fé no Deus salvador.

O Profeta lhes dirige palavras de conforto e encorajamento, por ordem de Deus: “Consolai, consolai o meu povo!” Renova-se a esperança e a certeza de que Deus não estava longe do seu povo sofredor, mas o acompanhava também durante os dias da desgraça. “Preparai no deserto o caminho do Senhor”. O deserto do sofrimento, da incerteza e da própria insuficiência é o lugar onde Deus pode melhor se manifestar. O caminho a preparar, é o da volta à pátria e a Jerusalém, para reconstruir a vida com novas disposições e na fidelidade renovada a Deus.

“Levanta com força a tua voz, tu que trazes boas notícias a Jerusalém!” O bom anúncio refere-se à vinda de Deus ao encontro do seu povo, com a força do guerreiro e a ternura do pastor, que tem cuidado de cada ovelhinha... No Advento, a Igreja recorda aos seus filhos e a toda a humanidade a salvação plena de Deus. A experiência de nossas limitações e fragilidades nos deve fazer ansiar por essa salvação, que só Deus pode nos dar.

No Evangelho deste domingo, João Batista prepara o povo para acolher, Jesus, o prometido de Deus (cf Mc 1,1-8). As pessoas acham que o próprio João é esse “ungido de Deus”, mas ele nega e esclarece: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu”. Esse “mais forte” será capaz de batizar com o Espírito de Deus, curando as feridas e fraquezas, salvando-nos plenamente daquilo que nos ameaça e aflige na vida.

A humanidade quer dar salvação a si mesma, mas isso não está ao seu alcance. No Advento, a Igreja renova o convite a nos abrirmos mais plenamente à salvação de Deus, acolhendo Aquele que é “mais forte” que todos, o único capaz de nos consolar e renovar nossas esperanças. 

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo

Publicado no Folheto Povo de Deus em São Paulo, 06.12.2020