Dez anos como arcebispo de São Paulo

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03/05/2017 - 17:30

No dia 29 de abril passado transcorreu o 10º aniversário de minha posse como arcebispo de São Paulo. Lembro bem da cerimônia na catedral metropolitana, com grande participação de bispos, clero e povo. O Núncio Apostólico da época, Dom Lorenzo Baldisseri, fez ler a bula pontifícia de minha nomeação, ocorrida em 20 de março de 2007. Lembro da emoção que senti ao me dar conta, de fato, do tamanho da missão!

São Paulo e o Brasil estavam se preparando para a visita do papa Bento XVI, que vinha para a canonização de Santo Antônio de Santana Galvão e para a abertura da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida. No dia seguinte à posse, já me dirigi a Itaici para o início da assembleia geral anual da CNBB, uma vez que ainda respondia pelo cargo de secretário geral da Conferência. Concluídos os trabalhos da assembleia, no dia 9 de maio, o papa Bento XVI já estava chegando em Guarulhos e coube-me acolher e acompanhar Sua Santidade, fazendo as vezes de anfitrião. A visita de Bento XVI foi marcante, sendo a sua primeira viagem distante e prolongada. Seguiram-se as três semanas intensas da Conferência de Aparecida.

Dez anos diante da arquidiocese de São Paulo passaram muito rápido, mergulhado em atividades intensas e responsabilidades exigentes. Antes, como bispo auxiliar de São Paulo por cinco anos, pude conhecer parte da arquidiocese e do tamanho de sua vida pastoral. Como arcebispo, tendo que responder em primeira pessoa por toda a Arquidiocese, as responsabilidades aumentaram imensamente, desafiando meus limites humanos diante da tarefa de acompanhar mais de 300 paróquias, com uma diversidade muito grande; acompanhar o clero numeroso e também muito heterogêneo; animar os religiosos e leigos, nas suas numerosas expressões e organizações; estabelecer e cultivar relações fecundas com a sociedade civil, a imprensa, a comunicação social e as instituições públicas, promover a pastoral das vocações e a formação do clero, responder, em última instância, pela administração da arquidiocese.

Naturalmente, tudo isso só podia acontecer mediante a ajuda de numerosos e bons colaboradores, o que nunca faltou, graças a Deus! Sou muito grato a todos os valorosos bispos auxiliares, aos dedicados padres e diáconos, religiosos e leigos, que ajudam a animar e servir esse numeroso povo de Deus em São Paulo. O bispo não trabalha sozinho e não é o único a responder pela vida de sua diocese. Nem é preciso dizer que, nesses dez anos à frente da arquidiocese, pude experimentar a constante ajuda de Deus.

Considero que, nesse período, algumas realizações foram especialmente importantes, como a reorganização e revitalização da Cáritas arquidiocesana para o atendimento de numerosas emergências sociais aqui mesmo, ou também longe daqui; a criação de novas paróquias em áreas especialmente carentes e o estímulo à ajuda solidária entre paróquias; a reorganização do Vicariato Episcopal para a Pastoral da Comunicação e do Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade, a reorganização da cúria, especialmente da chancelaria e do secretariado de pastoral. Mas também foram importantes a inserção da Faculdade de Teologia na PUC-SP, a criação da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo e a reorganização da pastoral judiciária. O acompanhamento das numerosas organizações laicais e das entidades e instituições voltadas para o serviço dos pobres também demanda constante atenção.

Mais que tudo, porém, meu desejo é ver crescer na arquidiocese de São Paulo uma renovada consciência eclesial sobre a graça de pertencermos à Igreja de Jesus Cristo nesta cidade e sobre a vida e a missão desta mesma Igreja, que dependem de nós e de nossa colaboração com a ação de Deus. Hoje somos nós os continuadores da missão evangelizadora, já exercida aqui, antes de nós, por generosos e grandes pastores e servidores do Evangelho. Penso nos grandes arcebispos e bispos de São Paulo, nos numerosos e zelosos padres e religiosos que nos precederam! Entre eles, contamos com santos e santas, como Anchieta, Frei Galvão, Padre Mariano, Madre Paulina e Madre Assunta! Eles engrandecem a Igreja de São Paulo e nos estimulam a fazermos bem a nossa parte em nossos dias.

Agora nos encaminhamos para a realização do primeiro sínodo da arquidiocese de São Paulo. Tenho muita esperança nos bons frutos que podem vir dessa iniciativa. Desde logo, porém, precisamos todos nos dispor a realizar bem o sínodo e a rezar, para que o Espírito Santo nos ilumine e conduza. São Paulo Apóstolo, nosso Padroeiro, e os Santos desta Igreja, intercederão por nós e nos ajudarão.

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Arcebispo metropolitano de São Paulo

 

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Edição 3149 - De 4  a 9 de maio de 2017