O próximo mês de outubro deverá ser um mês missionário extraordinário, a pedido do Papa Francisco, como já tivemos a ocasião de tratar no artigo da semana passada neste jornal. Cada paróquia e comunidade, atendendo ao apelo do Papa, torne-se cada vez mais uma “Igreja em saída”, indo ao encontro daqueles que vivem distantes da prática da fé, convidando-os a participar da vida da Igreja. Ninguém espere que alguém de longe venha organizar esse mês missionário nas paróquias e comunidades. Além de rezar intensamente pelas missões e pelos missionários, muitas outras iniciativas podem ser desenvolvidas.

É necessário falar aos pais católicos sobre o Batismo dos filhos, a catequese em todas as fases da vida, sobretudo para as crianças e adolescentes. É urgente falar do casamento cristão, revalorizando o sacramento do Matrimônio. Voltemos a falar da assistência religiosa aos doentes e moribundos, da Unção dos Enfermos, do funeral cristão, da esperança na vida eterna. Talvez a paróquia necessite mesmo de um grande “mutirão missionário” para ir ao encontro do povo e ajudar as pessoas a reencontrar o caminho que leva ao encontro com Deus e a Igreja.

E não devem ficar esquecidos a missão universal da Igreja e os missionários que partem para longe, para o meio de povos ainda não evangelizados. Durante o “Mês Missionário Extraordinário”, é oportuno promover intensa oração pelas missões e pelos missionários. Preparar bem o Dia Mundial das Missões (20 de outubro de 2019) e incentivar a coleta para as missões que será feita no mesmo dia. Pode-se fazer uma vigília missionária, com adoração ao Santíssimo Sacramento. Pode ser convidado algum missionário, pertencente a um instituto ou congregação missionária, para que fale ao povo sobre a urgência missionária da Igreja; nas paróquias, podem ser promovidas exposições missionárias com imagens, fotos e dados numéricos sobre a “Igreja missionária”; e também pode ser feito um festival missionário com cantos, poesias, testemunhos missionários, envolvendo crianças, adolescentes e jovens.

Além de todas essas indicações, lembro que o Conselho Missionário Arquidiocesano (Comiar) também preparou e enviou uma lista de sugestões para realizar com proveito o “mês missionário extraordinário”. E não nos esqueçamos de acompanhar a assembleia especial para a Amazônia, do Sínodo dos Bispos, que vai acontecer em Roma de 6 a 27 de outubro. A evangelização da Amazônia, a nossa união espiritual e a solidariedade efetiva com a Igreja que está naquela Região são desafios que nos envolvem também e não nos devem desinteressar. Portanto, o acompanhamento do “Sínodo da Amazônia” também será parte das ações do “Mês Missionário Extraordinário”.

Como fruto desse desejado mutirão missionário extraordinário, deveria ficar organizado um serviço de “missão permanente” em cada paróquia. A missão, de fato, não se encerra com uma campanha, feita de vez em quando. A Igreja é missionária de maneira permanente e em tudo o que ela faz, ela existe para a missão, e essa Igreja somos nós! Por isso, precisamos desenvolver uma nova cultura missionária em cada paróquia, comunidade, pastoral, movimento e nova comunidade. Não devemos nos contentar em ser bons cristãos, apenas de maneira privada e individual. Somos membros da Igreja missionária, que recebeu de Cristo a “alegria do Evangelho”, para ser testemunhado e compartilhado com todas as pessoas e em todas as circunstâncias. E isso depende de todos os membros da Igreja e organizações eclesiais.

Lugar importante de exercer a missão e o espírito missionário é a família e o círculo familiar ampliado. Constatamos, com preocupação, que aumentam os católicos que já não batizam mais os filhos e não os apresentam a Deus e à comunidade da Igreja, nem lhes ensinam as primeiras orações; não os encaminham mais para a catequese, nem os introduzem na vida da Igreja. E, assim, é quase certo que depois eles não se casarão na Igreja, nem formarão um novo lar cristão. O resultado quase inevitável disso é o abandono total da fé e a perda da vinculação com a Igreja. Essas situações requerem a capacidade missionária da família, para transmitir a fé católica aos filhos. A família tem um papel insubstituível na evangelização e na transmissão da fé aos filhos. O “outubro missionário” pode ajudar muitos pais a recuperar essa dimensão importante da sua missão.

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 18/09/2019