Sínodo e renovação da vida cristã

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12/07/2017 - 18:00

O grande objetivo a celebração do sínodo arquidiocesano é a promoção da “comunhão, da conversão e da renovação missionária da nossa Arquidiocese”. O alcance dessa meta passa por etapas necessárias, sem as quais não se conseguirá alcançar o objetivo amplo do sínodo. A renovação da vida cristã é condição necessária para chegar à renovação missionária e ao aprofundamento da comunhão eclesial.

A partir do Batismo, todos somos chamados a viver “vida nova”, de acordo com o que aprendemos de Cristo. A vida cristã tem início com o grande dom da fé sobrenatural, que brota do encontro pessoal com Deus. A fé passa a iluminar e orientar toda a vida de quem crê e se volta para Deus; é a forma nova de se relacionar com Deus, com o próximo, com as coisas do mundo e conosco mesmos. A nossa fé cristã está sintetizada no binômio das promessas do Batismo: na renúncia a Satanás e na escolha de Deus, pela profissão da fé cristã, que professamos sempre nas missas dominicais.

A vida cristã é uma vocação, um chamado a viver no seguimento de Cristo, a conformar nossa vida com o exemplo de Cristo e com seu Evangelho. Aprendemos de Cristo como amar a Deus e como devemos relacionar-nos com ele. A oração faz parte desse ensinamento de Jesus, como também a observância dos mandamentos, a vida honesta, justa, caridosa e respeitosa do próximo. Jesus convida a viver segundo as bem-aventuranças, como Ele próprio viveu. Jesus Cristo mesmo deve ser a referência constante da vida dos cristãos: amar como Jesus amou, viver como Jesus viveu, tratar as pessoas como Jesus tratou, relacionar-se com Deus como Jesus se relacionou. A vida cristã deve espelhar-se constantemente na imitação do próprio Jesus. Ele é o mestre de vida cristã, o caminho, a verdade e a vida.

São Paulo recorda aos cristãos que eles foram chamados “a pertencer a Cristo” (Rm 1,6) ou simplesmente “chamados” (1Cor 24.26; 7,20). Por isso, devem levar vida digna da vocação que receberam” (Ef 4,1). Esse chamado inclui uma promessa grande, que é o reino de Deus (1Ts 2,12), e a ter parte na vida divina, a ser filhos de Deus (1Jo 3, 1-2). Na primeira Carta de Pedro, a vida cristã aparece como um chamado do Deus Santo a “sair das trevas e vir para a sua luz maravilhosa” (cf 1Pd 1,15; 2,9); um chamado do “Deus de toda graça” para participar da “sua eterna glória no Cristo Jesus” (1Pd 5,10).

A vida cristã também inclui o compromisso com Jesus Cristo e seu Evangelho, conforme Ele ordenou aos apóstolos antes de se elevar ao céu: “vós sois testemunhas dessas coisas” (Lc 24,48): testemunhas de tudo o que se refere a Jesus Cristo, sua pessoa, seu ensinamento e sua obra redentora. A vida cristã, portanto, supõe um envolvimento de todo cristão com a evangelização e a transmissão da fé, com o testemunho cristão na vida cotidiana e na transformação da vida social de acordo com o Evangelho. A vida cristã não se passa apenas na vida privada: seus frutos devem aparecer nos comportamentos sociais e nas ações comunitárias.

Como vai a vida cristã na arquidiocese de São Paulo? O sínodo diocesano deverá ser uma ocasião para rever e avaliar a nossa vida de católicos: como ela acontece nas nossas paróquias e comunidades, nas famílias e na vida pessoal? Quais são as expressões da vida cristã, seus valores concretos, seus limites e deficiências? Existe verdadeira prática de vida cristã pessoal, através da prática da oração, das virtudes cristãs, da leitura e escuta atenta da Palavra de Deus, da observância dos mandamentos? A fé ainda é vivida, cultivada e transmitida no convívio familiar? Rezamos? Até que ponto é valorizada a missa dominical e a participação na vida litúrgica e sacramental da Igreja? A palavra da Igreja, através do Papa e dos ensinamentos e normas do Magistério, é respeitada e valorizada? A catequese, como vai?

E não devemos esquecer que “a fé, se não se traduz em obras, é morta em si mesma” (Tg 2,17). A vida cristã, portanto, deve florescer nas obras da fé, que são as virtudes humanas e cristãs, sobretudo a justiça, o respeito por toda pessoa e a caridade. Por isso, o viver cristão não é apenas uma questão da vida privada, mas também precisa aparecer publicamente, na vida social, econômica e política, vivida de maneira coerente com os princípios cristãos.

O sínodo poderá nos ajudar a perceber como fazer melhor a nossa “conversão pastoral”, para promover de maneira mais eficaz a vida cristã em nossa arquidiocese.

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo metropolitano de São Paulo