Células: a Igreja doméstica, comunidades da comunidade

A A
As Células Paroquiais de Evangelização querem resgatar a convivência nas famílias: oração, louvor e partilha da Palavra tudo vivido em pequenos grupos familiares de no máximo 15 pessoas
Publicado em: 21/10/2016 - 17:15
Créditos: Edcarlos Bispo / Jornal O SÃO PAULO
Na formação das Células Paroquiais de Evangelização, uma metáfora é usada para explicar esse novo método de evangelização e catequese. Os membros do grupo que participam da formação são convidados a imaginar um grande avião, com asas gigantes.  Esse avião é a Igreja. As asas representam a vida na comunidade paroquial e a vivência de cada membro em sua comunidade familiar. Para que o avião não fique em círculos, sem sair do lugar, as duas asas precisam ter o mesmo tamanho e a mesma força.  Uma não elimina a outra. Ambas devem caminhar juntas. 
 
As Células Paroquiais de Evangelização querem resgatar a convivência nas famílias: oração, louvor e partilha da Palavra tudo vivido em pequenos grupos familiares de no máximo 15 pessoas. 
Esses pequenos grupos relembram o que foi feito por Moisés no livro do Êxodo, capítulo 19, quando dividiu a comunidade dos filhos de Israel em pequenos grupos de 10, 50, 100 e mil, pois isso facilitava o pastoreio e dava oportunidade para outras pessoas expressarem o potencial divino da liderança.
Assim acontece na Paróquia Natividade do Senhor, na Região Episcopal Santana. Desde de 2012, o pároco, Andrés Gustavo Marengo, iniciou os encontros de formação com um pequeno grupo de agentes de pastoral da comunidade. 
A época, algumas resistências surgiram, mas o Padre deixava claro que a ideia não era sobrecarregar os membros da Paróquia, que na sua grande maioria já coordenavam e participavam de outras pastorais. 
 
A ideia do Padre era justamente levar a igreja a sair de dentro do templo, ir às casas e assim conseguir mais pessoas para a animação da comunidade. 
Atualmente, quatro anos depois, a Paróquia possui 19 grupos de célula dos quais participam, em média, 200 pessoas por semana. 
Fábio Barbosa Ferreira é o principal líder das células. Ele é responsável por preparar encontros e enviar para os demais grupos, além de motivar e articular a participação da comunidade nas células e das células na comunidade. 
 
Fábio iniciou o trabalho com as células em 2011, na Paróquia São Benedito, também na Região Santana, a primeira a dar início as Células Paroquiais de Evangelização, mas depois de um ano e meio foi convidado pelo Padre Andrés para dar início ao trabalho na Natividade do Senhor.                   
“O que mais me motiva nesse trabalho é a forma de viver a fé. Criam-se vínculos, laços de amizade muito fortes, por conta de semanalmente nos encontrarmos. Uma verdadeira família. Isso me motiva a sair do bairro do Jaçanã para ir até o Jardim Fontalis. Vislumbro uma enorme comunidade em células onde possamos realmente viver como as primeiras comunidades, fazer de cada célula uma pequena igreja”, afirmou.    
                   
O processo das células é um eterno multiplicar-se. Sempre quando a célula está crescendo, ela passa pelo processo de multiplicação, ou seja, dá origem a outra que irá caminhar paralelamente aquela que lhe deu origem.
Para Marcia Molinari Bertolino, supervisora das células na Paróquia São Benedito, a evangelização em células consegue dar “boas respostas às urgências pastorais assumidas pela igreja”, garante. “A célula é uma porta de entrada para a participação na comunidade, no sentimento de pertença, de pequena comunidade”, afirma.
 
A Paróquia São Benedito possui oito anos de trabalho com as células de evangelização. São 30 células e 350 pessoas envolvidas. Márcia revela que já houve um número maior de células, 40, mas estas propõem um processo de discipulado e “ao longo do caminho muitos não querem se comprometer, alguns desistem, se afastam. Mas somos livres e o seguimento de Jesus Cristo é um caminho exigente, mas livre”. 
Há uma preocupação com os que se afastam, por isso que as células desenvolvem o discipulado, a formação de liderança e a multiplicação. 
 
A célula se baseia em um tripé: encontro nas casas, celebração no templo e o serviço.  Ela não substitui as pastorais, mas é um celeiro de serviços, no momento em que cresce no discipulado e entendem que precisam se oferecer para o serviço.
O encontro é mais que uma reunião semanal, é um grupo de irmãos que estão ligados e vinculados entre si pelos mesmos propósitos, visão e missão. Não deve durar mais que 1h45 minutos e se baseia em cinco “Es”: Encontro (Acolhida), Exaltação (Louvor e Adoração), Edificação (Ensino), Evangelização (Planejamento da ação missionária) e Entrega (Intercessão).
 
Reportagem publicada no Jornal O SÃO PAULO - Edição 3124 - 19 a 25 de Outubro de 2016