É tempo de peregrinar à Casa da Mãe Aparecida

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Um ano dedicado a Maria, mãe de Jesus
Publicado em: 08/02/2017 - 15:00
Créditos: Nayá Aparecida Fernandes/ Jornal O SÃO PAULO

Há 300 anos, acharam uma imagem nas águas do rio Paraíba do Sul. Os pescadores, que em suas redes a apanharam, não poderiam imaginar que aquela estátua, pequena e negra, seria para todo o País a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil.

Em 1717, João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia foram encarregados de pescar a quantidade necessária de peixes que seria oferecida em um banquete a Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar e  governador da capitania de São Paulo e Minas de Ouro, que estava de passagem pela Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, hoje município de Aparecida (SP).
Depois de jogarem as redes diversas vezes, os pescadores apanharam a imagem de Nossa Senhora, primeiro o corpo e depois a cabeça. As tentativas seguintes foram muito bem-sucedidas, com redes cheias de peixes.


Eles levaram a imagem para casa e, após ser colada, unindo o corpo à cabeça, ela foi colocada sobre um pequeno altar. Desde então, aos sábados, os moradores da Vila começaram a se reunir para rezar o terço. Em 1732, foi construído o primeiro oratório público. Como a devoção à Nossa Senhora Aparecida crescia, em 1740, o então Vigário e a comunidade construíram uma pequena capela, onde ainda não se celebrava a Eucaristia.

Em 1743, Padre José Alves Vilela enviou ao bispo do Rio de Janeiro um relatório com as graças alcançadas pela intercessão da já conhecida “Mãe Aparecida”. Juntamente com o relatório, ele enviou o pedido para construção de uma igreja. A autorização veio no dia 5 de maio de 1943.


Construída em taipa de pilão, no Morro dos Coqueiros, a igreja resistiu até 1844, quando se avaliou a necessidade de que uma nova fosse erguida. A Basílica Velha foi então inaugurada no dia 24 de junho de 1888. Em 1894, os Missionários Redentoristas chegaram a Aparecida; em janeiro de 1895, a Congregação do Santíssimo Redentor assinou um contrato assumindo oficialmente o Santuário, e ali permanecem até hoje.


O título de Basílica Menor para Matriz Basílica foi dado pelo Papa São Pio X em 1908. No ano de 1925, o Papa Pio XI concedeu aos fiéis que visitassem o Santuário de Nossa Senhora indulgências plenárias. Assim, a devoção e as peregrinações aumentaram cada vez mais. Foi também Pio XI, a pedido do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, que declarou Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil em 1930.

A ideia da construção de um novo Santuário é de 1917, por ocasião do bicentenário do encontro da imagem; o lançamento da pedra fundamental aconteceu 29 anos depois, em 1946. Encomendado pelo Arcebispo de São Paulo à época, Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, em setembro de 1947, o projeto da Basílica é do arquiteto Benedito Calixto de Jesus. Em 1982, começaram oficialmente as atividades no Santuário, que no mês de outubro de 1983 foi declarado oficialmente, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Santuário Nacional.

A Basílica Velha foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico, e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), em 1982, e teve o projeto de restauração concluído em 2015.  Para facilitar o acesso dos fiéis, foi também construída uma ponte que liga as duas basílicas.


Um ano dedicado a Maria, mãe de Jesus

2017 é o ano do tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora nas águas do Rio Paraíba. Na comemoração desses 300 anos de incessante oração à Mãe Aparecida, a CNBB proclamou o Ano Nacional Mariano – de 12 de outubro de 2016 a 11 de outubro de 2017.

“O Ano Mariano vai certamente fazer crescer ainda mais o fervor desta devoção e da alegria em fazer tudo o que Ele disser (cf. Jo 2,5) ”, disseram os bispos da CNBB em mensagem publicada na abertura oficial. Na Arquidiocese de São Paulo, por ocasião do Ano Mariano, aconteceu a peregrinação da imagem de Nossa Senhora Aparecida por todas as paróquias e comunidades.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Padre Pedro Kuniharu Iwashita, professor de Teologia e doutor em Teologia Dogmática, explicou que “ter devoção a alguém significa admirar essa pessoa, tê-
la como modelo, aprender com ela, admirá-la, seguir seus passos, ter confiança nela, pedir a sua proteção, nos confiar à sua oração e à sua intercessão”.

Sobre a vivência do Ano Mariano no contexto em que vive o Brasil, Padre Pedro recordou que Nossa Senhora Aparecida foi um sinal extraordinário de Deus que apareceu em 1717: “O encontro da imagem foi um sinal de esperança para todos. Marcou profundamente a religiosidade do povo brasileiro, possibilitando o surgimento em todo o território nacional de ermidas, oratórios, capelas e igrejas dedicadas a seu culto. Nossa Senhora Aparecida contribuiu para a unidade religiosa e política do Brasil, e, numa época de grande carência de evangelizadores, permitiu que a fé católica fosse preservada neste país, de maneira que o Ano Mariano que estamos celebrando é fator de inspiração para superarmos a crise atual que estamos vivendo”.

Em oração, ao encontro da ‘Mãe de Deus e Nossa’

A 116ª Romaria da Arquidiocese de São Paulo a Aparecida (SP) ocorrerá no dia 7 de maio, com missa na Basílica às 10h. O tema deste ano, “Viva a mãe de Deus e nossa! ”, é o mesmo da carta pastoral escrita pelo Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer e publicada na íntegra na edição de 18 a 24 de janeiro de 2017 do jornal O SÃO PAULO. Além disso, no dia 12 de outubro, a Arquidiocese celebrará solenemente a Padroeira do Brasil com procissão pelas ruas da capital e missa campal. Cada fiel pode, contudo, fazer a sua peregrinação pessoal, seja individual ou em pequenos grupos, às igrejas de São Paulo dedicadas à Nossa Senhora Aparecida. Em cada uma das Regiões Episcopais há uma ou mais igrejas para as quais o devoto pode se dirigir com esse fim.


Durante o Ano Nacional Mariano, a Santa Sé concederá indulgência plenária àqueles que visitarem a Basílica de Aparecida ou qualquer igreja paroquial do Brasil dedicada à Nossa Senhora Aparecida. Pelas indulgências, os fiéis podem obter, para si ou para quem já morreu, a remissão das penas temporais, ou seja, remissão das penas devidas pelos pecados e que deverão ser pagas no purgatório.

As indulgências são concedidas sob as seguintes condições habituais:


- Confissão sacramental;
- Comunhão eucarística;
- Oração na intenção do Papa.

O texto da Penitenciaria Apostólica insiste que a indulgência será dada aos fiéis verdadeiramente penitentes e impulsionados pela caridade, que participarem das celebrações jubilares ou ao menos, por um conveniente espaço de tempo, elevarem preces a Deus por Maria.
Idosos e enfermos que não podem realizar a peregrinação conseguirão a obtenção das indulgências se assumirem a rejeição de todo pecado, cumprirem, na medida do possível, as três condições habituais, se dedicarem espiritualmente diante de alguma imagem da Virgem Aparecida e ofertarem suas preces a Deus por Maria.

Reportagem publicada no Jornal O SÃO PAULO - Edição 3137 - de 8 a 14 de fevereiro de 2017