Dom José Gaspar d'Afonseca e Silva

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14º Bispo Diocesano
2º Arcebispo
(1939 - 1943)

Lema: VT OMNES VNVM SINT "Para que todos sejam um"

BIOGRAFIA

Nascido em 06 de janeiro de 1901, na cidade de Araxá, estado de Minas Gerais, foi batizado no dia 12 de fevereiro do mesmo ano, na Igreja Matriz. Seus pais eram Sebastião d’Afonseca e Silva e Prosalina d’Afonseca. Aos sete anos, ingressou no Colégio São Luís de Itu, onde cursou o ensino fundamental e médio. Em 09 de dezembro de 1916, transferiu-se para São Paulo e ingressou no Seminário Episcopal para estudar Filosofia e Teologia.  



PREBISTERADO

Ordenado sacerdote em 12 de agosto de 1923, contando com 22 anos de idade, na Paróquia de Santa Cecília, pelas mãos de dom Duarte Leopoldo e Silva. Celebrou sua primeira missa na Igreja Matriz de Araxá. Até o ano de 1929, pertenceu ao clero de Uberaba (MG), mas depois transferiu-se para o presbitério de São Paulo.

Nomeado coadjutor da paróquia da Consolação, em São Paulo, seguiu logo para Roma, onde se doutorou em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana, no ano de 1926. Concluídos seus estudos, retornou ao Brasil, tendo ingressado no seminário provincial, em São Paulo, como professor e vice-reitor, tendo a responsabilidade de transformar o seminário em central. Permaneceu em tais funções entre os anos de 1927 e 1934. Exerceu as cátedras de direito canônico, teologia, moral e história da arte. Em 1934, assumiu o cargo de reitor do Seminário Central da Imaculada Conceição, no Ipiranga.



EPISCOPADO

Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva foi nomeado bispo titular de Barca e auxiliar de São Paulo, em 23 de fevereiro de 1935, aos 34 anos, por breve apostólico do papa Pio XI. Foi sagrado por seu arcebispo dom Duarte Leopoldo e Silva, sendo consagrantes dom Antônio Colturato, bispo de Uberaba e dom Gastão Liberal Pinto, bispo coadjutor de São Carlos, em 28 de abril de 1935. Como bispo auxiliar, orientou a Ação Católica e organizou a Obra de Assistência Social aos Operários.

Em 13 de novembro de 1938, enquanto realizava um retiro em Itanhaém, recebeu a notícia do falecimento de dom Duarte Leopoldo e Silva, então arcebispo de São Paulo. Regressou à São Paulo, onde pode participar dos funerais do prelado.

Em 27 de junho de 1939, o papa Pio XI nomeou-o segundo arcebispo de São Paulo. Dom José Gaspar fez sua entrada solene na Catedral Provisória de São Paulo, em 17 de setembro de 1939, na presença das mais altas autoridades civis e militares, e de todos os bispos diocesanos que compunham a Província Eclesiástica de São Paulo. Recebeu o pálio em 06 de janeiro de 1941.

Ao assumir a Arquidiocese, como o arcebispo mais novo do Brasil, já que contava com 38 anos de idade, dom José Gaspar procurou unificar a linha de atuação de todos os párocos, criou novas paróquias e decanatos (conjunto de paróquias que lembram a atual divisão de setores), procurando iniciar um trabalho de pastoral de conjunto. Os decanatos eram visitados periodicamente por visitadores diocesanos.

Em 1939, dom Gaspar reorganizou a comissão das obras de construção da Catedral Metropolitana. Outra preocupação do arcebispo era a formação do clero. Durante seu pastoreio, fundou três escolas apostólicas e criou um curso propedêutico para o Seminário Central do Ipiranga.

Dom Gaspar foi vanguardista em relação à participação mais efetiva e direta dos leigos na Igreja. Realizou, em 1942, o IV Congresso Eucarístico Nacional, que contou com a participação efetiva dos leigos.  

O catolicismo paulista possuía características que se assemelhavam ao projeto do Estado Novo: preocupação com o bem-estar social e manutenção da ordem familiar da moral cristã católica. Neste sentido, dom José Gaspar foi um arcebispo que acompanhou as transformações no processo de modernização da Igreja, seguindo fielmente as propostas por Roma. Destaca-se a expedição de uma carta pastoral coletiva do episcopado da Província de São Paulo sobre a defesa da fé, da moral e da família, que alcançou grande repercussão.  

Em 20 de março de 1941, recebeu o título de doutor honoris causa pela faculdade de Filosofia de São Bento. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e vice-presidente deste instituto, a partir de 25 de janeiro de 1942. A partir de 1943, passou a ser membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Deixou diversas cartas pastorais, destacando-se entre elas: Carta Pastoral de Saudação (1939); Circular coletiva ao episcopado paulista (1941); Oração congratulatória pronunciada no Aeroporto Santos Dumont (1942); discurso pronunciado no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em nome do episcopado brasileiro, reunido no 1º Concílio Plenário (1939); elogio fúnebre de dom Sebastião Leme (deixou escrito e foi, posteriormente, lido no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, pelo arcebispo dom Aquino Correia, em 17 de setembro de 1943).

Dom José Gaspar faleceu na manhã de 28 de agosto de 1943, vítima de um desastre aéreo: quando o aparelho “Cidade do Rio de Janeiro”, procurava aterrissar no aeroporto “Santos Dumont”, espatifou-se de encontro à Escola Naval, na então capital da República. No acidente, faleceu também o jornalista Cásper Líbero. O clero paulistano chorou a morte de seu representante máximo, e o povo, durante a cerimônia que paralisou São Paulo, deu com tristeza o último adeus a seu pastor. Em sua lápide, na cripta da Catedral Metropolitana, é possível ler:


“SPERAT.AVTEM.IVSTVS.IN.MORTE.SVA
ANNIS.ALIQVOT.SACERDOTIO.OBEVN.DATIS
PRO.SVPPERTIIS.AD.EIVS.PLENITVDINEM
IV.KAL.MAIIS.AN.MCMXXXV.PROMOTI
IN.ARCEPISCOPVM.PAVLOPOLITANVM.ELECTI
HABENIS.XV.KAL.OVT.AN.MCMXXXIV.ARREPTIS
EXMI.DD.IOSEPHI.GASPAR.DE AFFONSECA.E.SILVA
ANNORVM.ANGVSTVM.QVIDEM.CVRSVM.EMENSI
AMORE.AVTEM.ARDORE.ORE.RE.PASTORIS
MIRVM.IN.MODVM.APPRIME.PROTACTVM
CVIVS.HERCVLEAE.SOLICITIAE.MERITO.TRIBUES
QVARTVM.CELEBRANTVM.EVCHARISTICVM.CONVENTVM
ITINERI.AEREO.VI.KAL.SEPT.AN.MCMXLIII.TRADITI
AD.ORAS.FLVMINIS.IAN.INFAVSTA.CLADE.E.VIVIS.SVBLATI
HVC.MONVMENTA.VISVRVS.ACCEDENS
GRATE.PIEQVAE.PAC.RECOLAS
ME.MEMORANDOS.CINERES.TEGERE”

1O justo conserva a esperança memo ao provar a morte. Ao te aproximares deste jazigo, recorda-te com animo alegre, piedoso e sereno de que contenho as cinzas veneráveis do Excelentíssimo Senhor dom Jose Gaspar de Afonseca e Silva. Após exercer o ministério presbiteral durante alguns anos, foi, na qualidade de bispo auxiliar, elevado a plenitude do sacerdócio aos 28 de abril de 1935. Nomeado arcebispo de São Paulo, assumiu o governo pastoral da arquidiocese, aos 17 de setembro de 1934. Embora tenha vivido exíguo número de anos, tornou-se sobremaneira grande por seu amor, sua palavra e sua ação de Pastor. À sua solicitude hercúlea sem favor podes atribuir a celebração do IV Congresso Eucarístico. Em viagem aérea de infeliz desfecho junto ao litoral do Rio de Janeiro, foi dentre os vivos arrebatado aos 27 de agosto de 1943. Neste sepulcro estão as cinzas que conservamos e cultivamos com piedosa gratidão.


BRASÃO E LEMA

Lema
VT OMNES VNVM SINT
"Para que todos sejam um"

Descrição: Escudo eclesiástico cortado. O 1º partido, sendo I: de blau com o monograma ICVM de argente, encimado de uma cruzeta do mesmo; e II de goles com um leão de jalde, armado e lampassado de blau – Armas modificadas dos Silvas. O 2º de jalde, com uma águia de asas estendidas de sable. O escudo está assente em tarja branca, na qual se encaixa o pálio branco com cruzetas de sable. O conjunto pousado sobre uma cruz trevolada, de dois traços, de ouro, entre uma mitra de prata adornada de ouro, à dextra, e de um báculo do mesmo, à senestra, para onde se acha voltado. O todo encimado pelo chapéu eclesiástico com seus cordões em cada flanco, terminados por dez borlas cada um, tudo de verde, forrado de vermelho. Brocante sob a ponta da cruz um listel de blau com a legenda: VT OMNES VNVM SINT, em letras de jalde.

Interpretação: O escudo obedece às regras heráldicas para os eclesiásticos. No 1º, o campo de blau representa o firmamento celeste e ainda o manto de Nossa Senhora, sendo que este esmalte significa: justiça, serenidade, fortaleza, boa fama e nobreza; o monograma é abreviado de Imaculada Conceição da Virgem Maria e a cruz representa Nosso Senhor Jesus Cristo, dela nascido, e pelo seu metal argente (prata) simboliza a inocência, a castidade, a pureza e a eloqüência, virtudes essenciais num sacerdote; no partido, estão as armas da família Silva, com seus esmaltes modificados, tal qual fizera Dom Duarte, pois originalmente são de argente com um leão de púrpura, sendo que por seu campo goles (vermelho) simboliza o fogo da caridade inflamada no coração do arcebispo pelo Divino Espírito Santo, bem como, valor e socorro aos necessitados; o leão é símbolo da fortaleza do soldado cristão e sendo de jalde (ouro) traduz nobreza, autoridade, premência, generosidade, ardor e descortínio. O 2º é retirado das armas do Papa Pio XI, que o fez bispo, sendo portanto uma homenagem àquele pontífice, sendo que seu metal jalde (ouro) tem o significado acima já descrito e sua cor sable (negro) simboliza: a sabedoria, a ciência, a honestidade, a firmeza e a obediência ao Sucessor de Pedro.

O pálio demonstra a dignidade arquiepiscopal. O lema: "Para que todos sejam um", retirado do Evangelho de São João (Jo, 17, 21) expressa o desejo do bispo para que haja um só rebanho e um só pastor.