‘A Faculdade de Teologia existe para estar a serviço da Igreja’

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O novo Diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP, tem desafio de tornar a instituição mais fiel à sua missão de servir à Igreja
Publicado em: 13/03/2018 - 10:45
Créditos: Redação

Luciney Martins/O SÃO PAULO

O Padre Boris Agustín Nef Ulloa tomou posse como Diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC-SP, em 27 de fevereiro. Aos 51 anos, Padre Boris é chileno, de Concepcion, e foi ordenado sacerdote na Arquidiocese de São Paulo em 5 de junho de 1999. É Bacharel em Ciências Biológicas e Teologia, e Mestre e Doutor em Teologia Bíblica. Na Assunção, foi Coordenador de Graduação por quatro anos e, por dois anos, coordenou o programa de pós-graduação.

 

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o novo Diretor destacou que assume a função com o desafio de tornar a instituição mais fiel à sua missão de servir à Igreja e de colocar em prática as novas orientações da Constituição Apostólica Veritatis Gaudium, sobre as universidades e as faculdades eclesiásticas, publicada em 29 de janeiro. Confira a íntegra da entrevista.

 

O SÃO PAULO – COMO O SENHOR ACOLHE A NOVA MISSÃO?

 

Padre Boris Agustín Nef Ulloa – Depois do trabalho que eu realizei na faculdade nos últimos oito anos, a maior parte dos meus colegas, em conversas separadas, sempre me disseram que eu deveria ser candidato a Diretor da Faculdade, mas eu sempre resisti. Como havia a necessidade de apresentar uma lista tríplice de candidatos ao Arcebispo, eu acabei sendo um dos indicados e fui nomeado. Quando eu assumo alguma coisa, eu me dedico muito. Também sei que não vou trabalhar sozinho, pois o Padre Donizete José Leite Xavier, Diretor-Adjunto, é um bom colega. Creio que terei um bom relacionamento com a Reitora da PUC-SP [Maria Amalia Pie Abib Andery]. Quando eu era Coordenador do  programa de pós-graduação, ela era Pró-Reitora Acadêmica da pós-graduação, e, então, trabalhamos muito em sintonia. Nessa época, recebemos muito apoio dela para elevar a nota do programa de pós-graduação da Teologia.

 

E COMO ESTÁ A FACULDADE HOJE?

A graduação é o cartão de visita da instituição de ensino superior. Nós temos o curso de Teologia nos períodos diurno, no campus Ipiranga, e noturno, no campus Santana. Cerca de 90% dos estudantes do período diurno são candidatos às ordens sacras, ou seja, seminaristas. Os outros 10% são religiosas ou leigos. Já no curso noturno, 50% são candidatos ao diaconato permanente. Os demais são leigos em geral e algumas religiosas. Quanto à pós-graduação, como eu disse antes, nossa nota na Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] subiu de 3 para 4. Agora, estamos aguardando a resposta do credenciamento do doutorado, que em breve sairá. Nossa pós-graduação foi a única que subiu de nota no último quadriênio entre os 21 programas de Teologia e Ciência da Religião do Brasil.

 

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESAFIOS DA INSTITUIÇÃO?

Um é tornar o curso mais acessível para os leigos. Uma das nossas metas é encontrar parcerias para criar fundos que favoreçam o estudo dos leigos no curso noturno e, assim, prestar um serviço maior à Arquidiocese. Não podemos pensar exclusivamente na formação de futuros presbíteros, mas também nos leigos, não só de nossa Arquidiocese, como os das dioceses da Província Eclesiástica de São Paulo. Nós já temos o Fundo de para a Formação Teológico-Pastoral de Leigos (Fortal), criado pelo Padre Valeriano dos Santos Costa, que me antecedeu na direção. Esse foi um legado que ele deixou para esta gestão, que é importante mantermos e ampliarmos para favorecer um número maior de leigos. O novo Coordenador do curso noturno é o Professor João Cláudio Rufino, que é leigo, casado, estudou em Santana e conhece a realidade do campus. Isso ajudará a valorizar mais os leigos na Faculdade. Outro desafio é quanto à participação mais efetiva dos estudantes na Faculdade. Os estatutos da PUC-SP e da Faculdade de Teologia permitem 10% de representação discente nos órgãos colegiados. Pela composição do conselho, cabem dois representantes dos estudantes, mas nem sempre eles participam. Precisamos desenvolver mecanismos para despertar interesse por essa participação, porque a Faculdade pode melhorar muito se há uma participação efetiva, responsável, crítica e colaborativa dos alunos.

 

A FACULDADE DE TEOLOGIA TEM UM TÍTULO ECLESIÁSTICO. O QUE SIGNIFICA ISSO?

Embora já faça parte da PUC-SP, que é uma universidade pontifícia, a Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção é uma instituição de ensino com título eclesiástico. Isso permite que alguém graduado em Teologia na nossa Faculdade seja admitido para pós-graduação em qualquer outra universidade pontifícia do mundo sem a necessidade de fazer um exame para admissão. No Brasil, além da nossa, existem mais duas faculdades de Teologia com título eclesiástico – PUC-Rio e a Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), em Belo Horizonte (RJ). Os demais institutos de Teologia que desejam ter um título eclesiástico podem se filiar a essas faculdades eclesiásticas reconhecidas. Estão filados à nossa faculdade, a Faculdade de Teologia da PUC-Campinas; a Faculdade João Paulo II (Fajopa), em Marília (SP); o Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, em Brodowski (SP); e os institutos de Teologia da Diocese de Mogi das Cruzes (SP), da Arquidiocese de Campo Grande (MS) e da Arquidiocese de Sorocaba (SP).

 

PORTANTO, TER UM TÍTULO ECLESIÁSTICO AUMENTA A RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO?

Sim. Tanto que para os professores lecionarem Teologia nessas instituições precisam fazer a profissão pública da fé católica e a missio canonica (missão canônica). A Teologia possui um tripé: Sagrada Escritura, Tradição e Magistério. Todo professor de Teologia, independentemente da área, deve ser fiel ao espírito dessas três bases.  E se algum professor ensina algo que vá contra uma dessas três, é responsabilidade do diretor conversar com o docente para saber o que está acontecendo. Em relação aos estudantes, para receber o título eclesiástico de bacharel em Teologia, é preciso fazer o exame conclusivo chamado de Universa Theologia.

 

 

O QUE O SENHOR DESTACA DA CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA VERITATIS GAUDIUM?

Essa Constituição regulamenta e normatiza as faculdades eclesiásticas de Filosofia, Teologia e Direito Canônico dentro do espírito de uma igreja “em saída”, de um diálogo com a cultura contemporânea. Temos a missão de atualizar a nossa Faculdade com esse novo documento. Isso não diz respeito só ao projeto pedagógico do curso, mas, também, à reforma dos estatutos e regimentos não só da Faculdade, como da própria PUC-SP naquilo que diz respeito à especificidade da Teologia. A Constituição destaca, ainda, que a Teologia não existe para si mesma, não pode ser um casulo, uma seita de pessoas eleitas. Uma faculdade de Teologia tem de estar aberta e criar pontes. Ela está a serviço da Igreja. Na verdade, o Papa Francisco e a Congregação para a Educação Católica fizeram uma aplica- ção dos princípios da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium às faculdades eclesiásticas.

 

COMO A FACULDADE DE TEOLOGIA REALIZA ESSE SERVIÇO?

A Faculdade de Teologia existe para estar a serviço da Igreja e esse serviço não é só formar futuros padres ou religiosos e leigos. Também, mas não só. Por isso, vamos pedir aos chefes de departamentos para oferecerem cursos de extensão, uma necessidade da nos- sa instituição que Dom Odilo Scherer [Arcebispo Metropolitano e Grão-Chanceler da PUC-SP] manifesta há muito tempo. Nesse sentido, o sínodo arquidiocesano é uma oportunidade de colaboração da Faculdade. Ficou a tarefa para os departamentos de oferecer formação na área da renovação pastoral e da “conversão missionária”.