A Migração é oportunidade e não problema

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A situação dos imigrantes e refugiados em todo o mundo pede que a Igreja e a sociedade pensem na acolhida e na integração de pessoas que são forçadas a deixar seus países de origem.
Publicado em: 20/06/2018 - 14:00
Créditos: Redação
Imagens:ACNUR/UNHCR/Reynesson Damasceno;Francielle Oliveira/Cáritas Brasileira;Relatório Tendências Globais/ACNUR

A lanchonete foi inaugurada há cerca de dois anos e está localizada em frente à estação de metrô Parada Inglesa, na zona norte de São Paulo. O proprietário, que veio com a família da Síria, não sabia falar nenhuma palavra em português, mas atendia os clientes sempre com um sorriso no rosto. A lanchonete, que serve lanches e vende doces sírios caseiros, cresceu e hoje conta com uma clientela fiel. 

Há menos de um ano, Francisco Daniel deixou Curitiba (PR) e foi, com a esposa e as duas filhas pequenas, morar no Japão. Artista, formado pela Academia de Florença, Francisco está trabalhando em uma área diferente da sua, até conseguir estabilizar-se em Tóquio, cidade que agora o acolhe. 

O que leva uma pessoa a deixar sua cidade ou o país em que nasceu e procurar um novo lugar para recomeçar a vida? E o que dá a alguém o direito de permanecer em algum lugar? As perguntas, embora genéricas e superficiais, fazem pensar sobre uma questão que afeta pessoas em todo o mundo: a migração. 

Guerras, catástrofes naturais, crises políticas, perseguição religiosa. Muitas pessoas são obrigadas a deixar suas casas, no entanto, outras escolhem sair, em busca de uma especialização ou mesmo de uma oportunidade de trabalho. O fato é que nunca como hoje o mundo viu crescer o número de pessoas que chegam, desejam ou precisam permanecer em regiões que, em princípio, parecem não ter lugar para elas. 

Em 2017, 68,5 milhões de pessoas foram forçadas a sair de seus países, segundo o Relatório Tendências Globais – deslocamento forçado em 2017, divulgado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados  (ACNUR), publicado na terça-feira, 19. Entre elas, 16,2 milhões foram deslocadas de forma forçada em 2017 pela primeira vez. A Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Mianmar e Somália são os países de origem da maior parte dos refugiados. 

Os números evidenciam que, em média, 1 em cada 110 pessoas em todo mundo foi forçada a se deslocar – uma população maior que a da Austrália. Isso equivale a 1 pessoa se tornando deslocada a cada 3 segundos. Duas outras realidades que o relatório Tendências Globais traz são que a maioria dos refugiados vive em áreas urbanas (58%), não em acampamentos ou áreas rurais; e que a população deslocada global é jovem – 53% são crianças, incluindo muitas que estão desacompanhadas ou separadas de suas famílias. Ao todo, 244 milhões de pessoas em todo o mundo vivem como migrantes internacionais, número que inclui migrantes e refugiados.

 

DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO 2018

No dia 14 de janeiro, celebra-se – há 104 anos – o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, data instituída pela Igreja Católica. Na mensagem escrita pelo Papa Francisco para a ocasião, o Pontífice salienta que, durante os primeiros anos do seu pontificado, ele sempre expressou especial preocupação pela triste situação de tantos migrantes e refugiados que fogem das guerras, das perseguições, dos desastres naturais e da pobreza. 

“Trata-se, sem dúvida, de um sinal dos tempos que, desde a minha visita a Lampedusa em 8 de julho de 2013, tenho procurado ler sob a luz do Espírito Santo. Quando instituí o novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, quis que houvesse nele uma Seção especial (colocada temporariamente sob a minha guia direta) que expressasse a solicitude da Igreja para com os migrantes, os desalojados, os refugiados e as vítimas de tráfico humano”, afirmou o Papa.

Com o tema “Acolher, proteger, promover e integrar os migrantes e os refugiados”, a mensagem aborda a grande responsabilidade da Igreja frente à realidade migratória. “Essa solicitude deve expressar-se, de maneira concreta, nas várias etapas da experiência migratória.” 

 

COMPARTILHE A VIAGEM

Pensada pela Cáritas Brasileira, a campanha “Compartilhe a Viagem” tem caráter internacional e seu grande objetivo é promover a cultura do encontro, aumentando os espaços e as oportunidades para que os imigrantes e as comunidades locais se encontrem e tenham uma troca de experiências. Inspirada pelo Papa Francisco, a Cáritas pensou numa campanha que, com um conceito simples, fosse suficientemente flexível para ser traduzida de várias formas e adotada em diferentes contextos.

“Compartilhe a viagem” foi oficialmente aberta em setembro de 2017 e tem a estátua do Cristo Redentor como embaixador. De fevereiro de 2018 em diante, os organizadores começaram a participar das negociações intergovernamentais do Pacto Global das Nações Unidas. O Seminário sobre migração e refúgio, que aconteceu em Brasília (DF), durante os dias 12 a 14, também foi um evento pensado dentro da programação da Campanha, que durará até o fim de 2019. Em setembro de 2019, a Cáritas pretende marcar presença nas Nações Unidas, quando da adoção de dois Pactos Globais sobre Migrações e Refugiados.

Algumas dicas para participar e promover a Campanha “Compartilhe a viagem”, são:

  • Conhecer um migrante, acolhendo-o nas comunidades e reconhecendo seus direitos e dignidade humana.
  • Envolver-se com um migrante, sendo solidários em suas necessidades básicas e valorizando, por exemplo, sua cultura, seus talentos profissionais e artísticos.
  • Advogar por mudanças estruturais na migração no âmbito local, nacional e internacional. 

 

SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE MIGRAÇÕES E REFÚGIO

A Cáritas Brasileira promoveu entre os dias 12 a 14, em Brasília (DF), o Seminário Internacional de Migrações e Refúgio, com o tema: “Caminhos para a cultura do encontro”. Representantes de cerca de 50 países participaram do Seminário, entre eles, o Cardeal Luis Antonio Tagle, presidente da Caritas Internationalis e arcebispo de Manila, nas Filipinas.

Com a Cáritas, foram parceiros na promoção do Seminário o Setor Pastoral da Mobilidade Humana (SMH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR), o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), o Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH), o Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (CSEM) e a Missão Paz. 

O objetivo do Seminário foi refletir sobre a realidade das pessoas migrantes e refugiadas, na perspectiva global e local, para assim oportunizar a criação e fortalecimento de redes de organizações das Igrejas, denominações religiosas, sociedade civil e governo que atuam junto aos migrantes a refugiados.

Aceita no Brasil após enviar uma solicitação de refúgio, Myria Tokmaji veio da Síria,  vive no Brasil desde 2013 e participou do Seminário Internacional em Brasília.  “É uma honra estar com vocês e falar, colocar mais luz às coisas que precisam ser reveladas sobre as dificuldades que todos os refugiados passam desde a saída de seus países até recomeçar uma nova vida no Brasil e tentar se integrar à nova sociedade”, disse Myria, em entrevista publicada no site da Cáritas Brasileira. 

 

A CARTA

Os participantes do Seminário Internacional de Migrações e Refúgio publicaram na quinta-feira, 14, uma carta que traz a síntese das experiências compartilhadas pelo grupo, bem como as inquietações e propostas para o fortalecimento da cultura do encontro. A carta é composta por verbos que evidenciam valores em relação à realidade da migração, bem como palavras que exprimem compromisso e atitude frente às dificuldades e desafios de acolhida e integração dos migrantes. 

Logo no início, há um anúncio da beleza e riqueza que a migração proporciona, frente a uma tendência de vê-la sempre como uma situação a ser evitada. “Anunciamos que a presença dos migrantes e refugiados entre nós é uma valiosa oportunidade de desenvolvimento da nossa inteligência cultural de relações inter-religiosas, fundamentais ao nosso amadurecimento como humanidade e comunidade que acredita que somos filhos de Deus”, afirma a Carta.

“Denunciamos a criminalização das migrações, a xenofobia, o racismo, a linguagem discriminatória com estereótipos e preconceitos, alarmismos infundados, o uso e a propagação de informações distorcidas sobre temáticas relacionadas com as migrações e o refúgio e todas as violações aos direitos humanos de migrantes e refugiados, incluindo o tráfico de pessoas e o trabalho análogo à escravidão”, continua o texto. 

 

NAVIO EM ALTO MAR

Recentemente, a notícia de que o primeiro ministro do interior da Itália, Matteo Salvini rejeitou um navio que estava no Mar Mediterrâneo com 629 pessoas, entre elas mais de 100 crianças e sete mulheres grávidas, abalou o mundo e gerou muitas discussões sobre a questão da acolhida a imigrantes e refugiados. De acordo com as autoridades italianas, a decisão faz parte de uma tentativa de envolver toda a Europa na acolhida dos imigrantes. 

Para Rita Urbano, assistente social da Casa Scalabrini 634, a Itália passa por um momento crítico. “Temos ouvido muito o discurso de que a Itália está sendo invadida por imigrantes e isso é muito complicado. Muitos italianos saem para estudar e trabalhar em outros países da Europa, por que os africanos ou pessoas provenientes de outros países não têm este mesmo direito?”, questiona Rita. 

“Para mim, o maior desafio é pensar além da questão de uma acolhida de emergência e avançar para pensar em uma acolhida que possa ser realmente eficaz. Temos de criar uma cultura da integração. Quem chega precisa conseguir caminhar com as próprias pernas, sem nenhum outro suporte”, disse, em entrevista à reportagem do O SÃO PAULO

A Casa Scalabrini 634 é uma obra dos missionários scalabrinianos em Roma, na Itália. A Casa acolhe 30 pessoas em situação de refúgio. Os imigrantes podem permanecer de 6 meses a um ano na casa. 

O perfil dos imigrantes que residem na Casa é composto por pessoas que já foram reconhecidas e têm permissão de permanência na Itália. O objetivo é ajudar essas pessoas a se tornarem autônomas, pois a maioria dos imigrantes, mesmo com documentação regular e algum tipo de atividade remunerada, tem grandes dificuldades para alugar uma casa, conseguir um trabalho estável ou mesmo manter relações que possam ajudá-los nos momentos de dificuldade.

Imagens:ACNUR/UNHCR/Reynesson Damasceno;Francielle Oliveira/Cáritas Brasileira;Relatório Tendências Globais/ACNUR

A lanchonete foi inaugurada há cerca de dois anos e está localizada em frente à estação de metrô Parada Inglesa, na zona norte de São Paulo. O proprietário, que veio com a família da Síria, não sabia falar nenhuma palavra em português, mas atendia os clientes sempre com um sorriso no rosto. A lanchonete, que serve lanches e vende doces sírios caseiros, cresceu e hoje conta com uma clientela fiel. 

Há menos de um ano, Francisco Daniel deixou Curitiba (PR) e foi, com a esposa e as duas filhas pequenas, morar no Japão. Artista, formado pela Academia de Florença, Francisco está trabalhando em uma área diferente da sua, até conseguir estabilizar-se em Tóquio, cidade que agora o acolhe. 

O que leva uma pessoa a deixar sua cidade ou o país em que nasceu e procurar um novo lugar para recomeçar a vida? E o que dá a alguém o direito de permanecer em algum lugar? As perguntas, embora genéricas e superficiais, fazem pensar sobre uma questão que afeta pessoas em todo o mundo: a migração. 

Guerras, catástrofes naturais, crises políticas, perseguição religiosa. Muitas pessoas são obrigadas a deixar suas casas, no entanto, outras escolhem sair, em busca de uma especialização ou mesmo de uma oportunidade de trabalho. O fato é que nunca como hoje o mundo viu crescer o número de pessoas que chegam, desejam ou precisam permanecer em regiões que, em princípio, parecem não ter lugar para elas. 

Em 2017, 68,5 milhões de pessoas foram forçadas a sair de seus países, segundo o Relatório Tendências Globais – deslocamento forçado em 2017, divulgado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados  (ACNUR), publicado na terça-feira, 19. Entre elas, 16,2 milhões foram deslocadas de forma forçada em 2017 pela primeira vez. A Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Mianmar e Somália são os países de origem da maior parte dos refugiados. 

Os números evidenciam que, em média, 1 em cada 110 pessoas em todo mundo foi forçada a se deslocar – uma população maior que a da Austrália. Isso equivale a 1 pessoa se tornando deslocada a cada 3 segundos. Duas outras realidades que o relatório Tendências Globais traz são que a maioria dos refugiados vive em áreas urbanas (58%), não em acampamentos ou áreas rurais; e que a população deslocada global é jovem – 53% são crianças, incluindo muitas que estão desacompanhadas ou separadas de suas famílias. Ao todo, 244 milhões de pessoas em todo o mundo vivem como migrantes internacionais, número que inclui migrantes e refugiados.

 

DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO 2018

No dia 14 de janeiro, celebra-se – há 104 anos – o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, data instituída pela Igreja Católica. Na mensagem escrita pelo Papa Francisco para a ocasião, o Pontífice salienta que, durante os primeiros anos do seu pontificado, ele sempre expressou especial preocupação pela triste situação de tantos migrantes e refugiados que fogem das guerras, das perseguições, dos desastres naturais e da pobreza. 

“Trata-se, sem dúvida, de um sinal dos tempos que, desde a minha visita a Lampedusa em 8 de julho de 2013, tenho procurado ler sob a luz do Espírito Santo. Quando instituí o novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, quis que houvesse nele uma Seção especial (colocada temporariamente sob a minha guia direta) que expressasse a solicitude da Igreja para com os migrantes, os desalojados, os refugiados e as vítimas de tráfico humano”, afirmou o Papa.

Com o tema “Acolher, proteger, promover e integrar os migrantes e os refugiados”, a mensagem aborda a grande responsabilidade da Igreja frente à realidade migratória. “Essa solicitude deve expressar-se, de maneira concreta, nas várias etapas da experiência migratória.” 

 

COMPARTILHE A VIAGEM

Pensada pela Cáritas Brasileira, a campanha “Compartilhe a Viagem” tem caráter internacional e seu grande objetivo é promover a cultura do encontro, aumentando os espaços e as oportunidades para que os imigrantes e as comunidades locais se encontrem e tenham uma troca de experiências. Inspirada pelo Papa Francisco, a Cáritas pensou numa campanha que, com um conceito simples, fosse suficientemente flexível para ser traduzida de várias formas e adotada em diferentes contextos.

“Compartilhe a viagem” foi oficialmente aberta em setembro de 2017 e tem a estátua do Cristo Redentor como embaixador. De fevereiro de 2018 em diante, os organizadores começaram a participar das negociações intergovernamentais do Pacto Global das Nações Unidas. O Seminário sobre migração e refúgio, que aconteceu em Brasília (DF), durante os dias 12 a 14, também foi um evento pensado dentro da programação da Campanha, que durará até o fim de 2019. Em setembro de 2019, a Cáritas pretende marcar presença nas Nações Unidas, quando da adoção de dois Pactos Globais sobre Migrações e Refugiados.

Algumas dicas para participar e promover a Campanha “Compartilhe a viagem”, são:

  • Conhecer um migrante, acolhendo-o nas comunidades e reconhecendo seus direitos e dignidade humana.
  • Envolver-se com um migrante, sendo solidários em suas necessidades básicas e valorizando, por exemplo, sua cultura, seus talentos profissionais e artísticos.
  • Advogar por mudanças estruturais na migração no âmbito local, nacional e internacional. 

 

SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE MIGRAÇÕES E REFÚGIO

A Cáritas Brasileira promoveu entre os dias 12 a 14, em Brasília (DF), o Seminário Internacional de Migrações e Refúgio, com o tema: “Caminhos para a cultura do encontro”. Representantes de cerca de 50 países participaram do Seminário, entre eles, o Cardeal Luis Antonio Tagle, presidente da Caritas Internationalis e arcebispo de Manila, nas Filipinas.

Com a Cáritas, foram parceiros na promoção do Seminário o Setor Pastoral da Mobilidade Humana (SMH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR), o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), o Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH), o Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (CSEM) e a Missão Paz. 

O objetivo do Seminário foi refletir sobre a realidade das pessoas migrantes e refugiadas, na perspectiva global e local, para assim oportunizar a criação e fortalecimento de redes de organizações das Igrejas, denominações religiosas, sociedade civil e governo que atuam junto aos migrantes a refugiados.

Aceita no Brasil após enviar uma solicitação de refúgio, Myria Tokmaji veio da Síria,  vive no Brasil desde 2013 e participou do Seminário Internacional em Brasília.  “É uma honra estar com vocês e falar, colocar mais luz às coisas que precisam ser reveladas sobre as dificuldades que todos os refugiados passam desde a saída de seus países até recomeçar uma nova vida no Brasil e tentar se integrar à nova sociedade”, disse Myria, em entrevista publicada no site da Cáritas Brasileira. 

 

A CARTA

Os participantes do Seminário Internacional de Migrações e Refúgio publicaram na quinta-feira, 14, uma carta que traz a síntese das experiências compartilhadas pelo grupo, bem como as inquietações e propostas para o fortalecimento da cultura do encontro. A carta é composta por verbos que evidenciam valores em relação à realidade da migração, bem como palavras que exprimem compromisso e atitude frente às dificuldades e desafios de acolhida e integração dos migrantes. 

Logo no início, há um anúncio da beleza e riqueza que a migração proporciona, frente a uma tendência de vê-la sempre como uma situação a ser evitada. “Anunciamos que a presença dos migrantes e refugiados entre nós é uma valiosa oportunidade de desenvolvimento da nossa inteligência cultural de relações inter-religiosas, fundamentais ao nosso amadurecimento como humanidade e comunidade que acredita que somos filhos de Deus”, afirma a Carta.

“Denunciamos a criminalização das migrações, a xenofobia, o racismo, a linguagem discriminatória com estereótipos e preconceitos, alarmismos infundados, o uso e a propagação de informações distorcidas sobre temáticas relacionadas com as migrações e o refúgio e todas as violações aos direitos humanos de migrantes e refugiados, incluindo o tráfico de pessoas e o trabalho análogo à escravidão”, continua o texto. 

 

NAVIO EM ALTO MAR

Recentemente, a notícia de que o primeiro ministro do interior da Itália, Matteo Salvini rejeitou um navio que estava no Mar Mediterrâneo com 629 pessoas, entre elas mais de 100 crianças e sete mulheres grávidas, abalou o mundo e gerou muitas discussões sobre a questão da acolhida a imigrantes e refugiados. De acordo com as autoridades italianas, a decisão faz parte de uma tentativa de envolver toda a Europa na acolhida dos imigrantes. 

Para Rita Urbano, assistente social da Casa Scalabrini 634, a Itália passa por um momento crítico. “Temos ouvido muito o discurso de que a Itália está sendo invadida por imigrantes e isso é muito complicado. Muitos italianos saem para estudar e trabalhar em outros países da Europa, por que os africanos ou pessoas provenientes de outros países não têm este mesmo direito?”, questiona Rita. 

“Para mim, o maior desafio é pensar além da questão de uma acolhida de emergência e avançar para pensar em uma acolhida que possa ser realmente eficaz. Temos de criar uma cultura da integração. Quem chega precisa conseguir caminhar com as próprias pernas, sem nenhum outro suporte”, disse, em entrevista à reportagem do O SÃO PAULO

A Casa Scalabrini 634 é uma obra dos missionários scalabrinianos em Roma, na Itália. A Casa acolhe 30 pessoas em situação de refúgio. Os imigrantes podem permanecer de 6 meses a um ano na casa. 

O perfil dos imigrantes que residem na Casa é composto por pessoas que já foram reconhecidas e têm permissão de permanência na Itália. O objetivo é ajudar essas pessoas a se tornarem autônomas, pois a maioria dos imigrantes, mesmo com documentação regular e algum tipo de atividade remunerada, tem grandes dificuldades para alugar uma casa, conseguir um trabalho estável ou mesmo manter relações que possam ajudá-los nos momentos de dificuldade.

 

33ª SEMANA NACIONAL DO MIGRANTE

Além do dia 14 de janeiro, outras datas recordam os migrantes e refugiados na esfera internacional e nacional. A ONU tem duas datas significativas: 18 de dezembro, que é o Dia Mundial do Migrante; e 20 de junho, Dia Mundial do Refugiado. A data foi criada como expressão de solidariedade à África, continente que, tradicionalmente, já celebrava o Dia Africano do Refugiado nesta mesma ocasião.

No Brasil, no dia 25 de junho (ou no domingo que precede este dia), é celebrado o Dia do Migrante, data que foi instituída pela CNBB. O dia é precedido pela Semana Nacional do Migrante (17 a 24 de junho), que em 2018 está na sua 33ª edição. O objetivo é mobilizar as comunidades em todo o Brasil para refletir sobre um tema relacionado à realidade da migração. Promovida pelo Serviço Pastoral dos Migrantes Nacional (SPM), a semana produz materiais de divulgação como cartazes, texto-base e um livro com sugestões de encontros.

Em 2018, o tema proposto para a Semana e o Dia Nacional do Migrante é: “A vida é feita de encontros”, com o lema “Braços abertos sem medo para acolher”. Este ano, além do SPM, houve a participação da Cáritas Brasileira na organização da Semana.

“O convite que a 33ª Semana do Migrante traz este ano é para ir ao encontro, como gesto natural dos crentes que vivem uma Igreja em saída, para abraçar, escutar, apoiar, dar a mão, compartilhar trajetórias, alegrias, dores e fazer-se próximo. Migrantes, refugiados ou moradores da comunidade que nela nasceram ou que dela fazem parte há mais tempo, juntos, podemos ser a nova sociedade que queremos e a Igreja que sonhamos, em convivência, em que todos saem de si mesmos e acolhem quem chega”, descreve o texto que introduz o tema.

Além disso, o texto traz dados que mostram, por exemplo, que o Brasil, diante de um cenário global, é um país que acolhe um baixo número de imigrantes e refugiados. “Na América Latina, a média de imigrantes sobre a população local é inferior a 2%. O Brasil tem uma incidência ainda menor, com cerca de 1%, incluindo as estimativas sobre aqueles que se encontram em situação migratória irregular.”

Além disso, o texto-base preparado para a 33ª Semana do Migrante chama a atenção para as migrações como uma oportunidade, inclusive para a Igreja, de perceberem-se num contexto multicultural. Na Arquidiocese de São Paulo, entre as atividades que serão realizadas pelo Dia Nacional do Migrante, acontecerá uma missa presidida pelo Cardeal Scherer, na Catedral da Sé, no domingo, 24, às 11h.