‘Alegrai-vos e exultai’: A santidade é a meta de todo cristão

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Papa Francisco renova o convite à santidade na vida cotidiana e também com pequenos gestos, na nova exortação apostólica Gaudete et Exsultate
Publicado em: 12/04/2018 - 12:00
Créditos: Redação
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Além de admirar os santos e rezar com eles, todo cristão deve buscar a santidade em sua própria vida cotidiana, na realidade onde se encontra, e praticá-la mesmo com pequenos gestos de caridade – não de forma individualista, mas junto a toda a comunidade, na Igreja. Esta é uma possível chave de leitura da nova exortação apostólica do Papa Francisco, Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e exultai), sobre o chamado à santidade no mundo contemporâneo, publicada na segunda-feira, 9. 

“Para um cristão, não é possível pensar a própria missão sobre a terra sem concebê-la como um caminho de santidade, porque esta é, de fato, vontade de Deus”, afirma o Sumo-Pontífice no texto, citando a primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses (4,3). “Todo santo é uma missão; é um projeto do Pai para refletir e encarnar, em um momento determinado da história, um aspecto do Evangelho”, completa. 

E mesmo os santos reconhecidos não eram pessoas sem erros ou pecados. “Talvez a vida deles não tenha sido perfeita. Mas, mesmo diante da imperfeição e de quedas, continuaram a seguir em frente e são agradáveis ao Senhor. Os santos que já alcançaram a presença de Deus mantêm conosco um laço de amor e de comunhão”, explica.

Nesse sentido, “muitas vezes, temos a tentação de pensar que a santidade é reservada àqueles que têm a possibilidade de manter distância das ocupações ordinárias, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo, cada um, o próprio testemunho nas ocupações de cada dia”, insiste Francisco

 

INTEGRAR AÇÃO E ORAÇÃO

O Papa reserva parte do texto à oração, recordando que Jesus é o caminho para o bom discernimento, em meio a desafios da vida. Inclusive, dedica grande atenção à “luta constante contra o diabo”, que, segundo o Pontífice, não é “um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia”. Para vencê-lo, é preciso usar “as armas poderosas que o Senhor nos dá: a fé que se expressa na oração e na meditação da Palavra de Deus, a celebração da missa, a adoração eucarística, a reconciliação sacramental, as obras de caridade, a vida comunitária, o empenho missionário”. 

Portanto, embora veja a oração pessoal no centro da vida cristã, a proposta de santidade apresentada pelo Papa na Gaudete et Exsultate prevê o encontro com o próximo no mundo, transformando-o por meio do serviço e do “empenho evangelizador”. 

“Não é saudável amar o silêncio e evitar o encontro com o outro, desejar o repouso e rejeitar a atividade, buscar a oração e subvalorizar o serviço. Tudo pode ser aceito e integrado como parte da própria existência neste mundo, e começa a fazer parte do caminho de santificação”, diz a Exortação. “Somos chamados a viver a contemplação também em meio à ação, e nos santificamos no exercício responsável e generoso da nossa missão.” 

Dividido em cinco capítulos, o Documento tem pouco menos de 50 páginas e abrange uma série de outros temas, sempre ligados à proposta de busca da santidade no mundo atual. O Papa denuncia, por exemplo, dois “inimigos sutis” da santidade: o gnosticismo e o pelagianismo atuais. 

O gnosticismo é, para ele, uma “vaidade superficial”, isto é, “reduzir o pensamento de Jesus a uma lógica fria que procura dominar tudo”. Trata-se de negar a transcendência e explicar tudo como os raciocínios humanos. Já o pelagianismo atual é, conforme a Exortação, uma autossuficiência que ignora a vida na comunidade formada pela Igreja. Envolve “transmitir a ideia de que se pode fazer tudo com a vontade humana, como se ela fosse algo de puro, perfeito, onipotente”. 

No terceiro capítulo, Francisco propõe as bem-aventuranças como “carteira de identidade” de todo cristão. “Como fazer para ser um bom cristão? A resposta é simples: fazer, cada um do seu modo, o que diz Jesus neste sermão”, reflete.

 

POR QUE FALAR DA SANTIDADE?

Esta é a terceira exortação do Papa Francisco, lançada exatamente dois anos após Amoris laetitia . De acordo com o Vigário de Roma, Dom Angelo De Donatis, que a apresentou em coletiva de imprensa no Vaticano, o objetivo do documento é “mostrar a atualidade perene da santidade”, uma palavra vista como “antiquada” na sociedade de hoje. 

“A proposta não é fazer um tratado nem repetir definições já amplamente estudadas pelos teólogos da Igreja”, disse o Arcebispo. “Na verdade, o Papa nos pede para ampliar o nosso olhar, refletir sobre aonde estamos indo, aonde vai a Igreja, pois ela perde o sentido se não tem clara a dimensão do caminho de santidade”, acrescentou. “Portanto, a ideia é apresentar a santidade como meta desejável do próprio caminho humano. É um chamado que Deus apresenta a cada um”, definiu.