CF 2024 – Amizade Social: quando todos se percebem irmãos, tudo se torna melhor

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Aberta na Quarta-feira de Cinzas, 14, a CF completa 60 anos em 2024.
Publicado em: 15/02/2024 - 15:45
Créditos: Redação

Inspirada na encíclica Fratelli tutti, do Papa Francisco, a Campanha da Fraternidade deste ano (CF 2024) tem como tema a amizade social, explicada pelo próprio Pontífice como “o amor que se estende para além das fronteiras” (FT 99). O lema recorda uma das orientações de Jesus a seus discípulos: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8).

Aberta na Quarta-feira de Cinzas, 14, a CF completa 60 anos em 2024. Trata-se de uma campanha tanto de evangelização quanto quaresmal, “que une em si as exigências da conversão, da oração, do jejum e da esmola vividas na linha de uma questão humana e social relevante para o País como um todo” (texto-base CF 2024, 4).

A AMIZADE SOCIAL

O objetivo geral da CF 2024 é “despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos”.

O texto-base aponta que a “a amizade social é o amor presente nas relações sociais; é o amor como base da relação entre as pessoas e os povos; é o amor feito cultura” (17); e, também, “uma convocação a valorizar o direito à vida, o direito ao seu desenvolvimento integral, sobrepondo-se ao individualismo utilitarista, que fecha as pessoas à transcendência de si mesmas, que surge na interação social. A amizade social é, para Francisco, o antídoto contra um ser humano fechado em si mesmo e, consequentemente, contra um mundo fechado aos vulneráveis e ‘improdutivos’” (18).

COMO ESTÁ O OLHAR PARA O PRÓXIMO?

O ponto de partida da amizade social é que cada um reconheça o outro como irmão, criado à imagem de Deus (cf. 24). Assim, “nem as diferenças, nem as divergências, nem a oposição devem nos impedir de cumprir o mandamento maior que Jesus nos deixou como seu testamento: ‘Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros’ (Jo 13,34)” (26).

Ao longo do texto-base é indicada a urgência de se evitar que o próximo seja transformado em um inimigo a ser eliminado. “Aquele que diverge de mim é alguém que, tanto quanto eu, tem direito de existir. Mas não só! Tem o direito de divergir, de ser diferente, de pensar diferente, de agir diferente. Por isso, nunca deve ser visto como um oponente a ser vencido, abatido, mas sempre como um irmão, uma irmã, pois o ideal cristão é a inclusão, a cooperação, a comunhão e não a indiferença, o combate e a eliminação” (31).

Também são elencadas algumas situações de desrespeito à dignidade do próximo: “assédio moral e sexual, defesa do aborto, devastação ambiental, feminicídios, bullying, intolerância religiosa, algumas vezes com perseguição e destruição, tráfico de drogas, tráfico de pessoas, apologias ao armamentismo, situações análogas à escravidão, discurso de ódio, corrupção e fome” (32), e a cultura do cancelamento nas redes sociais (cf. 33).

ALTEROFOBIA

A CF 2024 alerta para o atual panorama de divisões, polarizações, conflitos e hiper-individualismo nas relações (62-68), e traz um diagnóstico: “Nossa sociedade padece de uma enfermidade bem específica a qual podemos denominar como ‘alterofobia’, ou seja, medo, rejeição, aversão a tudo aquilo que é outro, tudo o que não sou eu mesmo […] A outra pessoa, a outra causa, o outro sonho, o outro esforço, tudo, enfim, que não seja eu mesmo, acaba por se tornar desnecessário, ameaçador, destinado à rejeição e até mesmo à extinção” (73). E é a vivência da amizade social o remédio para a alterofobia (cf. 76).

‘VÓS SOIS TODOS IRMÃOS E IRMÃS’

O texto-base apresenta passagens bíblicas acerca da fraternidade querida por Deus, expressa especialmente nos gestos e palavras de Cristo.

“A Nova Aliança, em Jesus, é comunidade na qual todos são irmãos, porque estão unidos pelos vínculos do amor a exemplo do Mestre. A comunidade de Jesus é comunidade daqueles que se reúnem ao redor de uma mesma mesa e celebram o Sacramento que forma comunhão, que faz irmãos. Ao redor desse altar, apenas um pode ser o Senhor e Mestre – o lugar do ensino e a autoridade do senhorio não são do discípulo” (92).

Nessa perspectiva, um mundo justo e igual – a desejada fraternidade –  só será possível se todas as pessoas viverem como irmãs uma das outras e reconhecem a Jesus como seu único Mestre e o seu Evangelho como único ensinamento. O texto-base lembra, ainda, que o primeiro passo para a reconstrução da fraternidade é a reconciliação em âmbito pessoal, familiar e comunitário, sempre escolhendo o caminho da paz e não o da guerra (cf.99).

Além das passagens bíblicas, há alusões a santos que deram exemplos edificantes de fraternidade e amizade social (cf. 114 a 118) e são recordadas mensagens e documentos de São João Paulo II, de Bento XVI e do Papa Francisco acerca desta temática (119-121).  

OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA CF 2024
1) Analisar as diversas formas da mentalidade de indiferença, divisão e confronto e suas consequências para a humanidade, inclusive na dimensão religiosa;
2) Compreender as principais causas da atual mentalidade de oposição e conflito, geradora da incapacidade de ver nas outras pessoas um irmão ou irmã;
3) Identificar iniciativas de comunhão, reconciliação e fraternidade, capazes de estimular a cultura do encontro;
4) Redescobrir, a partir da Palavra de Deus, a fraternidade, a amizade e a comunhão como elementos constitutivos do ser humano;
5) Acolher o magistério da Igreja sobre a fraternidade universal, como ajuda ao discernimento nas inúmeras situações de conflito e divisão;
6) Aprofundar a compreensão da comunhão e da fraternidade como caminho para a realização pessoal e para a paz em todas as situações da vida;
7) Conscientizar sobre a necessidade de construir a unidade em meio à pluralidade, superando divisões e polarizações;
8) Estimular a espiritualidade, os processos, os hábitos e as estruturas de comunhão na Igreja e na sociedade;
9) Incentivar e promover iniciativas de reconciliação entre pessoas, famílias, comunidades, grupos e povos.

TRABALHAR JUNTOS PELA AMIZADE SOCIAL

O texto-base da CF 2024 também apresenta uma lista de ações de âmbito pessoal, comunitário-eclesial e social para a superação do hiper individualismo e da alterofobia e para a construção e fortalecimento da amizade social. (cf. 127 a 131).

“Se conseguirmos partir de um mínimo ponto comum e trabalhar juntos, abandonando os preconceitos, daremos grandes passos em direção à cultura do encontro e do diálogo” (123).

Também se destaca que a Igreja, ao viver sempre mais a experiência da fraternidade, “irradia, para toda a sociedade, o valor da amizade, mostrando com atitudes bem concretas que, mesmo diante de tamanha pressão em direção à inimizade, à separação e ao conflito, é possível fazer da fraternidade um valor indispensável na sociedade atual” (CF 126).

Na conclusão do texto, há o pedido do empenho de toda a comunidade católica no Brasil para viver a CF 2024, divulgá-la nos diferentes meios de comunicação e refleti-la nas mais diversas atividades, “como um instrumento de comunhão eclesial, de formação das consciências e do comportamento cristão e de edificação de uma verdadeira fraternidade cristã e amizade social entre os brasileiros” (134).

“Deus nos fez a todos seus filhos e filhas. Somos todos irmãos e irmãs! Sua eterna criatividade fez-nos únicos. Portanto, diferentes. Contudo, nossas diferenças no ser, no pensar e no agir não nos podem dividir ou separar. Nossas diferenças são riquezas, oportunidades de crescimento, encaixes de comunhão! Por meio do diálogo, construamos harmonia entre nós, sejamos construtores da cultura do encontro” (133).