12º Plano de Pastoral da Arquidiocese

A A
Urgências da Ação Evangelizadora e Pastoral na Cidade
07/12/2016 - 18:00

APRESENTAÇÃO  

Tenho a satisfação de apresentar e recomendar a toda a Arquidiocese de São Paulo o 12º Plano de Pastoral, para o quadriênio de 2017 a 2020, que tem como foco as “urgências da evangelização na Cidade”.

A avaliação ampla da animação pastoral e da incidência do 11º Plano, na vida da Arquidiocese e no desempenho de sua missão de testemunhar Jesus Cristo na Cidade, nos leva a agradecer a Deus, pois, ao longo do último quadriênio, com a graça de Deus e o esforço dedicado de sacerdotes, leigos, religiosos e diáconos, foi realizado muito e houve um crescimento na consciência sobre a nossa missão de testemunhar o Evangelho do Reino de Deus.

Mas também percebemos que ainda permanecem muitas lacunas e insuficiências na evangelização em São Paulo. Continua sendo necessária uma profunda “conversão missionária” dos membros da nossa Igreja e das paróquias e demais estruturas e organizações eclesiais e pastorais. Ainda estamos longe de ser uma Igreja “em saída” e “em estado permanente de missão”, como nos pede o Papa Francisco!

Na elaboração do 12º Plano Arquidiocesano de Pastoral, a exemplo daquilo que fez a CNBB, em 2015, na elaboração das novas “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”, foi mantida a impostação fundamental do Plano anterior. Após apresentar o caminho histórico da vida pastoral em nossa Arquidiocese e de traçar um quadro da realidade, são apresentadas as “urgências na evangelização”. Mas não falta a atualização de diversos aspectos do Plano, que também foi enriquecido com as mais recentes referências do Magistério.

Temos a necessidade urgente de retomar a catequese sistemática e as demais ações e metodologias voltadas à iniciação à vida cristã e ao testemunho da fé. A desatenção à catequese, em todos os níveis, como processo sistemático e envolvente de educação na fé e na vivência cristã, seria muito prejudicial à Igreja! Uma catequese apenas superficial, esvaziada, ou até inexistente, colocaria em risco o próprio futuro das comunidades que assim o fizessem.

Pelo mesmo motivo, também é urgente que continuemos a nos voltar para a Palavra de Deus e nos deixemos conduzir por ela, para sermos comunidades animadas pela Palavra de Deus. A Igreja não prega a si mesma: ela é ouvinte e discípula da Palavra de Deus, que é sua referência e fundamento insubstituível: “Senhor, a quem iremos nós? Só tu tens palavras de vida eterna”: assim respondeu Pedro a Jesus, que questionava os discípulos, se também eles queriam abandoná-lo, para ir atrás de outros mestres e guias para suas vidas (cf. Jo 6,67-69).

A vida cristã requer a vinculação do fiel à comunidade da Igreja, através de laços próprios com uma comunidade eclesial de pertença, que vai da família cristã, comunidade pequena e importante que está na base da Igreja, à paróquia e à diocese. O Apóstolo Paulo já ensinava que a Igreja é como um corpo: apesar dos muitos membros, órgãos e funções, o corpo é um só e nenhum membro basta a si mesmo; todos dependem uns dos outros e interagem harmonicamente, para que o corpo inteiro esteja bem. Comunidade de comunidades, assim é a Igreja de Cristo; por isso, é urgente superar o individualismo, que também pode se instalar entre nós. Ninguém é discípulo de Cristo sozinho e de maneira isolada. É necessário cultivar a solidariedade eclesial e missionária nas comunidades da Igreja.

Nossa Igreja, em São Paulo, é desafiada constantemente a se colocar a serviço da dignidade e da vida plena de todas as pessoas, quer pelos trabalhos sociais, para socorrer aos irmãos que sofrem de muitas formas, quer para testemunhar, defender e promover a justiça e a dignidade de cada filho de Deus. Já se faz muita caridade organizada, mas as necessidades ainda são tantas! Portanto, é urgente que a nossa fé seja testemunhada concretamente através das obras de misericórdia, de justiça e caridade.

Em nosso 12º Plano quadrienal de Pastoral, não poderia faltar uma atenção especial à família, que precisa ser trazida para o centro de nossas atenções e práticas evangelizadoras. A Exortação Apostólica “Amoris Laetitia”, do Papa Francisco, sobre a alegria do amor em família, nos mostra o quanto temos a fazer para reatar os vínculos entre Igreja e família. É urgente cuidar bem de tudo o que diz respeito à família, em benefício da comunidade humana, da própria pessoa e da mesma Igreja.

O Plano de Pastoral deve orientar e dar expressão à “pastoral de conjunto”. As “urgências” na evangelização devem, agora, inspirar a elaboração dos projetos e programas de ação de cada organização eclesial da Arquidiocese.

Ao longo do quadriênio de 2017 a 2020, queremos encaminhar a realização de um Sínodo arquidiocesano. Por isso, desde logo, convido todos a rezarem nesta intenção e a participarem, na medida das competências de cada um, do processo preparatório. Sínodo diocesano é um evento de grande significado eclesial e pastoral, que requer um amplo envolvimento de todas as forças vivas da Arquidiocese.

Expresso um agradecimento especial a todos os que colaboraram na elaboração deste 12º Plano de Pastoral. Que Deus os recompense!

Que Nossa Senhora Aparecida, cujo tricentenário comemoramos, interceda por nós todos! Que São Paulo Apóstolo seja nosso companheiro e intercessor. Que Deus nos abençoe e ajude!

 


Cardeal Dom Odilo P. Scherer -
Arcebispo de São Paulo
São Paulo, 07 12 2016

I PARTE: UMA IGREJA EM CAMINHO


I. Atenta à sua história 

1. A Conferência de Aparecida (2007) foi para a Igreja na América Latina e no Caribe um chamado a reavivar a consciência da missão de “ajudar os fiéis cristãos a viverem sua fé com alegria e coerência, a tomarem consciência de ser discípulos e missionários de Cristo, enviados por ele ao mundo para anunciar e dar testemunho de sua fé e amor” (cf. Bento XVI, Discurso Inaugural da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, Aparecida, 13 de maio de 2007).

2. As grandes luzes contidas no Documento de Aparecida marcaram, nestes últimos anos, muitas iniciativas pastorais, sobretudo a elaboração das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2015-2019) e, na Arquidiocese de São Paulo, o 11° Plano de Pastoral (2013-2016) - “Arquidiocese de São Paulo: testemunha de Jesus Cristo na Cidade de São Paulo”.

3. No Caminho percorrido pela Arquidiocese de São Paulo, foram dados passos importantes na formação para o discipulado e a missão. Em 2008, na celebração do Centenário da Arquidiocese, que coincidiu com o Ano Paulino, foi dado um grande impulso à ação evangelizadora na cidade, com o lema “Deus habita esta cidade” e a proclamação do Apóstolo São Paulo como Patrono da Arquidiocese; em 2010 foi realizado o Congresso de Leigos, com o tema “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13.14); os anos de 2011 e 2012 tiveram como destaque pastoral a “Paróquia: comunidade de comunidades”, com a publicação da Carta Pastoral “Paróquia: torna-te o que tu és!”, do Arcebispo Metropolitano.

4. No 11° Plano de Pastoral (2013-2016), a Arquidiocese orientou sua ação evangelizadora e pastoral na grande cidade de São Paulo para despertar nos fiéis o ardor missionário, comprometido com a transmissão da fé e a promoção da vida e da dignidade da pessoa humana. Além disso, incentivou os jovens à participação na vida e na missão da Igreja, a viverem com entusiasmo as Jornadas Mundiais da Juventude (Rio em 2013 e Cracóvia em 2016); e dedicou especial atenção à celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II. No contexto desse cinquentenário, o 11º Plano de Pastoral foi ulteriormente enriquecido em sua aplicação pastoral através da celebração do Ano da Vida Consagrada (30.11.2014 a 02.02.2016) e do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia (08.12.2015 a 20.11.2016). Importante desenvolvimento inspirado pelo 11º Plano de Pastoral foi a criação do Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade, em 27 de junho de 2014.

5. O 12° Plano dá continuidade ao caminho realizado pela Arquidiocese de São Paulo com a aplicação do 11º Plano de Pastoral, “Arquidiocese de São Paulo: testemunha de Jesus Cristo na Cidade”.

6. Referências fundamentais para o 12° Plano de Pastoral são a Palavra de Deus e o Catecismo da Igreja Católica. Além disso, o 12º Plano acolhe com atenção o ensino do Papa Francisco, que deseja para a nossa Arquidiocese uma “nova etapa evangelizadora, cheia de ardor e de dinamismo” (EG 17). Nesse sentido, “urge recuperar o caráter de luz que é próprio da fé” (LF 4); incentiva a conversão pastoral de nossas estruturas, para que sejam mais missionárias, e de nossas comunidades para que sejam mais comunicativas, abertas e em constante saída (EG 27); indica o diálogo com todos acerca do cuidado de nossa cidade e da nossa casa comum (LS 3); estimula todas as pessoas a apreciarem os dons do matrimônio e da família, como uma boa notícia para a nossa cidade e para o mundo (AL 1).

 

II. Na fidelidade a Jesus Cristo e à sua missão 

7. O Plano de Pastoral é um instrumento de orientação, com o qual a Arquidiocese, “testemunha de Jesus Cristo na cidade de São Paulo”, explicita a sua referência fundamental a Cristo, Pastor, Mestre e Sumo Pontífice da Igreja, inteiramente devotado à glória do Pai e voltado para a salvação e a vida da humanidade.

8. A Igreja na Arquidiocese de São Paulo, “corpo missionário” de Cristo e testemunha do Reino de Deus, atenta e fiel à sua vocação e missão, sente-se enviada para esta Cidade, para lhe anunciar a Boa-Nova com palavras e com o testemunho da vida.

“Jesus Cristo é a fonte de tudo o que a Igreja é, e de tudo o que ela crê. Em sua missão evangelizadora, ela não comunica a si mesma, mas o Evangelho, a palavra e a presença transformadora de Jesus Cristo, na realidade em que se encontra. Ela é a comunidade dos discípulos missionários, que respondem permanentemente à pergunta decisiva: quem é Jesus Cristo? (Mc 8,27-29). O fundamento do discipulado missionário é a contemplação e o seguimento de Jesus Cristo. Como afirma o Papa Francisco, “a melhor motivação para se decidir a comunicar o Evangelho é contemplá-lo com amor, é deter-se nas suas páginas e lê-lo com o coração” (EG 264). Na comunhão eclesial, eles experimentam o fascínio que faz arder seus corações (Lc 24,32), e os leva a tudo deixar (Lc 5,8-11) e a viver um amor incondicional a Ele (Jo 21,9-17). A paixão por Jesus Cristo os leva à verdadeira conversão pessoal e pastoral (Lc 24,47; At 2,36ss)” (DGAE 2015-2019, 4).

9. O ensinamento do Papa Bento XVI, na sua Encíclica “Deus Caritas Est” (Deus é Amor), nos mostra a importância de pensar nossa ação pastoral, tendo os olhos fixos em Cristo, levando em conta sua prática e sua missão: “No início do ser cristão, não está uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (DCE 1). De fato, “a primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele, que nos impele a amá-lo cada vez mais. Um amor, que não sentisse a necessidade de falar da pessoa amada, de apresentá-la, de torná-la conhecida, que amor seria?” (EG 264).

10. Toda ação pastoral não pode dar por suposto o encontro com Jesus Cristo, sem correr o risco de agir em vão. Assim, toda ação pastoral deve ter como ponto de partida e meta o encontro com Jesus Cristo vivo e ressuscitado.

11. Neste encontro, a iniciativa é de Deus e da ação do seu Espírito Santo, que leva ao encontro com Jesus Cristo. É Ele, Jesus, que quer se encontrar conosco. É Ele que nos procura pessoalmente para uma vida de amizade e comunhão conosco. É sempre Cristo que convida e, por isso, dá o primeiro passo. À pessoa humana sempre cabe a liberdade de acolher ou rejeitar a graça que o Senhor lhe concede. “Somente graças a esse encontro – ou reencontro – com o amor de Deus, que se converte em amizade feliz, é que somos resgatados da nossa consciência isolada e da autorreferencialidade. Aqui está a fonte da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu esse amor que lhe devolve o sentido da vida, como pode conter o desejo de comunicá-lo aos outros?” (EG 8).

12. A experiência de Paulo no caminho de Damasco é emblemática. Quando se refere a esse encontro pessoal com o Ressuscitado, Paulo fala de algo que o ultrapassa, que ele não foi capaz de produzir.

13. Paulo diz ter sido “alcançado por Cristo” quando o perseguia e nem pensava em se encontrar com Ele. Jesus entrou no seu caminho, mudando para sempre sua vida. Trata-se de uma graça estupenda, que só podemos suplicar e acolher com gratidão. Em Cristo e por Ele, Deus nos amou tanto, que assumiu a nossa natureza humana. Jesus Cristo se fez pouco... fez-se pão... tornou-se o Crucificado!

14. Cristo vem ao nosso encontro a partir da sua Encarnação: Ele, que, “sendo rico, se fez pobre para a todos enriquecer” (cf. 2Cor 8,9); “que armou sua tenda entre os homens, o Filho único do Pai, cheio de amor e de verdade” (cf. Jo 1,14); “que sendo de condição divina, não se fechou em si mesmo, mas se esvaziou, até a morte e morte de cruz” (cf. Fl 2,5ss) e, à diferença das aves do céu e das raposas, “não tem sequer onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20).

15. Jesus Cristo é incessante e eterna entrega, dom de si para o outro. É contínuo convite ao seguimento, em meio às diferenças e desencontros. O encontro com Jesus é acolhimento da graça do Pai que, pela força do Espírito, revela o Salvador e atua no coração de cada pessoa, possibilitando-lhe esta resposta.

16. A vida de Jesus foi um contínuo serviço e entrega pela humanidade. Assim, o serviço e a gratuidade também devem ser a marca da vida da Igreja e dos cristãos, pois discípulos missionários, em todos os tempos.

17. Serviço: Jesus, na força do Espírito Santo, vive em comunhão com o Pai e sua existência está voltada para os outros. Os muitos encontros de Jesus no Evangelho comprovam o quanto o outro é importante para Ele. Ninguém Lhe é indiferente. Todos recebem atenção. A partir de Cristo compreendemos a fraternidade que nos une: todos somos irmãos! A diferença do outro não pode ser motivo para afastar, mas para unir. O diferente torna-se sempre apelo ao encontro, ao diálogo, à partilha e ao intercâmbio de vida e solidariedade. A vida só se ganha na entrega: “Quem perder a sua vida, por causa de mim, a encontrará” (Mt 10,39).

18. Gratuidade: A existência de Jesus é graça e a sua lógica é gratuidade. Ele sai de si, vai ao encontro dos outros, nada esperando em troca. Gratuidade está na lógica do dom sem reserva, sem esperar retribuição. É a lógica do samaritano que ultrapassa todos os limites e medidas quando vai socorrer aquele que está abandonado à beira do caminho. Santo Agostinho, quando lê a parábola do bom samaritano, vê nele o Cristo que, descendo de sua cavalgadura divina, se debruça sobre a humanidade espoliada de sua dignidade e abandonada à beira do caminho, coloca vinho e azeite nas suas feridas e a confia à Igreja (hospedaria), prometendo recompensar todo o bem que lhe é feito.

19. Gratuidade e serviço são, portanto, modos de compreender o que há de mais decisivo em Jesus Cristo: a saída de si, rumo à humanidade marcada pelo pecado, fonte de dor e morte. Jesus nos mostrou que não se vence o mal com o mal (cf. Lc 11,14-22). O mal é vencido pela graça derramada abundantemente no coração das pessoas, pela efusão do Espírito Santo.

20. A referência a Jesus Cristo não se esgota na perspectiva do dom e do encontro, mas vai além e leva a identificar-se com Ele. Leva a colocar-se a serviço da sua tríplice missão messiânica de ensinar, santificar e pastorear, como paradigma para a vida e a ação da Igreja.

21. Na Carta Pastoral “Paróquia: torna-te o que tu és” (2011), lemos: “Na paróquia torna-se presente e se realiza a tríplice missão de Cristo – o anúncio da Boa-Nova, a santificação da humanidade e o serviço pastoral – que é a razão de ser da vida e da ação de toda a Igreja e também de cada paróquia. Jesus Cristo continua vivo e presente no meio daqueles que estão congregados em seu nome; e entre eles continua a exercer sua missão no mundo; não sozinho, mas contando com a participação de todos os seus discípulos missionários, aos quais concede a assistência do seu Espírito (pág. 9)”.

22. Com o 12º Plano de Pastoral, na fidelidade a Jesus Cristo, a Arquidiocese de São Paulo quer imprimir em toda ação pastoral a preocupação de servir a Cristo Profeta, anunciador do Reino do Pai e da Palavra da Salvação; Cristo Sacerdote, Mediador da Nova Aliança, que em seu Corpo reconcilia os homens com Deus e entre si; e Cristo Pastor, que dá a vida pelo seu rebanho.

23. Será, portanto, na fidelidade à pessoa e ao agir de Cristo, por obra do Espírito Santo, que a Igreja se tornará anunciadora crível diante do mundo. À medida que se configura com Cristo e se identifica com Ele, dócil à ação do Espírito Santo, a Igreja torna-se testemunha, sinal e presença d’Ele, entregando ao mundo o Evangelho que cura, transforma, salva e liberta aqueles que o acolhem. Em relação à credibilidade do anúncio da Igreja, não se deve esquecer que “a viga que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua ação pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo. A Igreja vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia” (MV 10).

24. A Virgem Maria, perfeita discípula, é a imagem da Igreja que devemos ser: totalmente identificada com o seu Filho, Ela nos ajuda a sermos semelhantes a Jesus! Maria atua como educadora dos discípulos missionários que, à sua semelhança, se abrem totalmente à ação de Deus, podendo dizer como São Paulo: “Não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim!” (Gl 2,20; cf. DAp 269). “Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja: sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto” (EG 288).

III. Diante das possibilidades e desafios 

“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do Reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para comunicá-la a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história” (Concílio, Gaudium et Spes, n. 1).



a) Possibilidades para a ação evangelizadora e pastoral

25. Para uma autêntica ação evangelizadora é imprescindível “partir de Jesus Cristo” (DGAE 2015-2019, 4-15). Essa fidelidade dos evangelizadores a Jesus Cristo exige, por sua vez, atenção às “marcas de nosso tempo” (DGAE 2015-2019, 16-29), ou seja, aos “sinais dos tempos”, que interpelam e exigem da Igreja uma resposta corajosa e eficaz.

26. Para evangelizar na “grande Cidade”, a Arquidiocese de São Paulo procura ter um olhar de fé que permita “descobrir Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças. Essa presença não precisa ser criada, mas descoberta, desvendada” (EG 71). Confiando em Deus, que não se esconde daqueles que O buscam com coração sincero, o presente Plano de Pastoral procura identificar na grande Cidade, em seus problemas e sofrimentos, a presença do Divino Cidadão que entre nós quis fazer a sua morada.

27. Se há o individualismo que isola as pessoas, a desigualdade entre pobres e ricos, as drogas que ceifam vidas, a violência que fere a dignidade humana, há também na Cidade um espaço de liberdade e de oportunidades. A cidade de São Paulo proporciona também o encontro entre as pessoas, oportunidade de trabalho, educação, cultura e progresso pessoal, a possibilidade de interagir e conviver melhor, de lazer e de estabelecer vínculos de fraternidade e solidariedade.

28. Na Metrópole em que habitamos e somos enviados para evangelizar, é possível ver as marcas da exclusão nos rostos sofredores dos moradores de rua, dos migrantes, dos refugiados, dos enfermos, dos dependentes químicos e detidos em prisões (cf. DAp 407-430). Mas, por outro lado, em ações do poder público, organizações não governamentais, entidades, organismos e pastorais da Igreja, aparecem a beleza da solidariedade, o sonho da caridade que fala fortemente do Deus que habita esta cidade.

29. Na cidade de São Paulo é possível reconhecer, na multidão dos trabalhadores que cuidam do dia a dia dos cidadãos, na ação dos bombeiros, do pessoal da limpeza, do transporte, da saúde, da educação, da segurança, das comunidades eclesiais de base, das pastorais, das entidades sociais e filantrópicas, das novas comunidades e dos movimentos, os sinais da vitória da vida sobre a morte e do amor sobre o ódio, reflexo da ressurreição do Senhor.

30. Na vida e na ação de milhares de cristãos leigos e leigas, de catequistas, de padres, de diáconos, de religiosos e religiosas, de consagrados e consagradas, de bispos, o Espírito de Deus alimenta a fé, desperta a esperança e faz frutificar a caridade. Tantos são os que dedicaram e dedicam suas vidas à defesa dos mais pobres, à promoção da dignidade humana, ao serviço dos mais vulneráveis! Eles tornam-se, na grande Cidade, sinais luminosos de Cristo que, por amor, continua a entregar sua vida por todos.

31. A Arquidiocese de São Paulo possui um grande número de paróquias e comunidades menores dentro delas, de Comunidades de Vida Consagrada e de Sociedades de Vida Apostólica, seminários, conventos, casas de formação religiosa, escolas, colégios e faculdades ligadas à Igreja; possui uma variada organização do laicato, de novas comunidades e outras associações de fiéis. Tudo isso representa uma imensa riqueza eclesial, que tem um potencial enorme para testemunhar Jesus Cristo, presente na Cidade de São Paulo.

“A Igreja tem como missão própria e específica comunicar a vida de Jesus Cristo a todas as pessoas, anunciando a Palavra, administrando os sacramentos e praticando a caridade. É oportuno recordar que o amor se mostra mais nas obras do que nas palavras, e isso vale também para nossas palavras nesta V Conferência. “Nem todo aquele que diz Senhor, Senhor...” (cf. Mt 7,21). Os discípulos missionários de Jesus Cristo têm a tarefa prioritária de dar testemunho do amor a Deus e ao próximo com obras concretas. Dizia Santo Alberto Hurtado: “Em nossas obras, nosso povo sabe que compreendemos sua dor” (DAp 386).

b) Desafios para a ação evangelizadora e pastoral

32. Para evangelizar na megalópole, é necessário dar-se conta de que vida na nossa cidade está marcada por muitas ambivalências e contradições. Por um lado, São Paulo oferece aos seus habitantes muitas possibilidades de desenvolvimento social, crescimento pessoal, de serviços e de oportunidades econômicas, culturais e políticas. Ao mesmo tempo, a grande cidade interpõe muitíssimas dificuldades ao pleno desenvolvimento, principalmente dos mais pobres. Essas ambivalências e contradições provocam sofrimentos lancinantes. A grande Cidade é palco, tanto da prosperidade das pessoas, quanto da exclusão de milhares de seus habitantes (cf. EG 74). Na metrópole, “a Igreja é chamada a ser servidora de um diálogo difícil. Enquanto há citadinos que conseguem os meios adequados para o desenvolvimento da vida pessoal e familiar, muitíssimos são também os ‘não citadinos’, os ‘meio-citadinos’ ou os ‘resíduos urbanos’” (EG 74).

33. A cidade de São Paulo possui um acervo cultural extraordinário, mas muitos ainda não têm acesso ao “mundo” da cultura e da educação, principalmente grande parte dos adolescentes e jovens que não têm possibilidade de terminar o ensino médio.

34. Embora esteja situado em São Paulo um dos maiores mercados financeiros da América Latina, a cidade ainda convive com a triste realidade da exclusão social. A recente crise econômica e política tornou ainda mais dramática esta exclusão social.

35. São Paulo concentra um grande número de partidos políticos, movimentos sociais, sindicatos e organizações não governamentais de diferentes matrizes ideológicas, em jogo no processo democrático; entretanto, ainda há pouca formação política dos cidadãos, e, nas classes políticas, não são poucos os casos de corrupção, domínio de grandes grupos econômicos e abuso de autoridade, levando a população ao descrédito na política. Nota-se que se intensifica o preocupante fenômeno da polarização partidária que provoca desavenças e inimizades nas redes sociais, nas próprias comunidades cristãs e nas famílias.

36. O aumento da violência urbana, que gera o medo e isola as pessoas, revela a ineficácia do Estado e a sua incapacidade de coibir a violência e vencer o crime organizado. Em muitas áreas da cidade, o crime organizado e o tráfico ocupam os espaços onde não há a presença do Estado, oferecendo à população serviços em troca do silêncio e do compadrio, até daqueles que deveriam combater os crimes.

37. A exploração imobiliária desordenada privilegia famílias de condição social mais elevada e coloca famílias mais humildes em condições habitacionais precárias. Será de grande importância ajudar a criar políticas públicas que possibilitem às populações de áreas mais distantes ou de áreas de risco alcançarem condições dignas de habitação e acesso ao trabalho.

38. Jovens são vítimas fáceis do mercado da droga e da violência, da dificuldade no acesso ao primeiro emprego, da falta de oportunidades de educação de qualidade, de recreação saudável, entretenimento e lazer de fácil acesso.

39. A lógica do consumismo exclui os pobres, as pessoas com deficiência, os doentes e idosos, que acabam perdendo seu lugar social, pois são avaliados somente pelo que possuem ou aparentam possuir. Enfatiza-se o consumo como uma aspiração humana, fortalecem-se o pragmatismo e o exibicionismo (cf. DAp 50-51), levando à deterioração do tecido social (cf. DAp 78).

40. Com o individualismo nas decisões e o anonimato nas relações, as pessoas tendem a isolar-se e a viver no seu mundo. O futuro é incerto e, portanto, valem o aqui e o agora. Sobretudo os jovens se agarram ao presente, como se o passado não existisse.

41. Os meios de comunicação são instrumentos poderosos para fazer o bem, para fazer circular a verdade, para promover o direito, a cidadania, a liberdade, a solidariedade, para formar a opinião pública e exercer influência na consciência das pessoas. Porém não poucas vezes criam sonhos irreais, destroem valores, estimulam o fascínio pelo dinheiro, pelo poder e pela fama.

42. Embora a internet e as novas tecnologias de comunicação possam ser instrumentos eficazes para construir a fraternidade e a partilha daquilo que é bom e belo, muitas vezes realçam a violência, a destruição da vida, os comportamentos antiéticos e mesmo criminosos.

43. A “ética do mercado” e do lucro se impõe. A política, a religião, as práticas de solidariedade, o conhecimento, a ciência tornam-se mercadorias. O indivíduo se julga com o direito absoluto à felicidade, como bem privado. As uniões passageiras, a separação entre casamento e procriação, as parcerias conjugais do mesmo sexo, debilitam as relações humanas e familiares; o aborto tornou-se questão de ideologia e de marketing.

44. As políticas sociais na cidade, apesar de contribuírem para ampliar as oportunidades e integrar os indivíduos, não conseguem romper as barreiras da desigualdade social, da miséria e suas implicações. Uma das razões é o desvio dos recursos destinados às políticas sociais, cujos benefícios nem sempre chegam aos mais necessitados na cidade.

45. A degradação do meio ambiente, favorecida por grandes projetos viários, compromete cada vez mais a qualidade de vida dos paulistanos, colocando em risco reservas ambientais. A despoluição do rio Tietê e de seus afluentes, infelizmente, se mantém como um sonho distante, não por falta de recursos, mas de vontade política e de mobilização dos cidadãos. Embora haja um crescimento da consciência e responsabilidade ambiental, ainda é grande a dificuldade para se perceber que os impactos ambientais e sociais estão intimamente ligados entre si e a ameaça ao meio ambiente coloca em risco a vida da população.

46. A família continua a ser o grupo mais atingido pelas mudanças, pelo individualismo, pela perda das referências cristãs e éticas. Questões importantes para a vida e a dignidade da família são tratadas com descaso e até desprezo, como o casamento estável entre um homem e uma mulher, a liberdade na educação dos filhos, a transmissão da fé às novas gerações, a defesa da vida ainda no ventre materno, a sustentação da vida em fase terminal.

47. As relações humanas sofrem com as inversões de valores. As uniões tornam-se cada vez mais passageiras e fragmentadas, as separações provocam sofrimento aos esposos e aos filhos. A afetividade não amadurecida prejudica as relações humanas de crianças, jovens, adultos e idosos; consequências disso são a banalização da sexualidade, os abusos sexuais, a gravidez precoce, a transmissão de doenças, o abuso de medicamentos. Casamentos frustrados e casais em segunda união são uma realidade sempre mais frequente, que desafia a ação pastoral da Igreja; da mesma forma, as “parcerias” do mesmo sexo contradizem o desígnio de Deus sobre a pessoa humana, a família e o matrimônio, e requerem uma atenção especial.

48. O drama da saúde pública é vivido cotidianamente por grande parcela da população, que aguarda ansiosamente por uma consulta, exames médicos, cirurgias, internações, terapias especializadas. Apesar da melhora em muitos serviços à saúde da população, ainda é dramática a situação do atendimento à saúde. Os recursos destinados à saúde pública são insuficientes para as necessidades da população.

c) Desafios eclesiais na Arquidiocese de São Paulo

49. Tornou-se comum uma religiosidade descompromissada com o ser humano e com a dimensão eclesial da fé, com a difusão de propostas religiosas alienantes, fruto do individualismo e do relativismo exacerbados. A falta de convicções fundamentadas na Palavra de Deus, a avidez com que supostos líderes religiosos exploram a boa fé e as fragilidades das pessoas, a superficialidade na transmissão da fé cristã às novas gerações, a pouca convicção em matéria de fé da parte dos próprios fiéis católicos, tudo isso torna urgente uma ação evangelizadora mais consistente para aprofundar a fé e levar à conversão.

50. Num mundo em que se dá mais atenção às testemunhas do que aos pregadores, é de grande importância que os fiéis cristãos saibam mostrar “as razões de sua esperança”, através da vida coerente com a fé, do conhecimento aprofundado da Palavra de Deus e do conteúdo da própria fé.

51. À medida que os anos avançam, verifica-se uma diminuição das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Ainda são poucas as paróquias que têm um Serviço de Animação Vocacional (SAV) organizado, pelo qual padres, fiéis leigos, religiosos e religiosas ajudam os jovens no discernimento vocacional.

52. Com a realização do Congresso de Leigos, em 2010, surgiram muitas iniciativas para despertar no laicato da Arquidiocese a consciência da sua vocação e da sua missão; entretanto, resta o desafio da formação dos leigos para que, numa eclesiologia de comunhão, estejam preparados a difundir a mensagem divina da salvação a todos, em especial nos ambientes em que as pessoas não podem ouvir o Evangelho nem conhecer a Cristo, a não ser através dos leigos. Merecem estímulo as iniciativas associativas dos leigos por categorias profissionais, visando fortalecer o empenho comum na evangelização e testemunho cristão nos âmbitos que lhes são comuns.

53. A constante migração de fiéis católicos para outros grupos religiosos, em busca de solução rápida para os seus dramas, ou para obter respostas mais consistentes à sua busca de fé, deve ser vista como um sério apelo à nossa Igreja para um maior empenho na formação dos fiéis na fé católica com base na Palavra de Deus, no Catecismo da Igreja, nas orientações da Igreja e no testemunho dos santos. Somente com um autêntico e entusiasmado testemunho de fé, alimentado pela oração e sustentado pelo exemplo de tantos cristãos, é que nossas Comunidades poderão ajudar os que se encontram na dúvida e no cansaço a redescobrirem a alegria e a beleza da fé católica.

54. No contexto urbano, a importância do Domingo fica obscurecida, e o povo perde a motivação para frequentar a Igreja. Urge incentivar, de forma incisiva, criativa e dinâmica, os católicos a frequentarem aos Domingos as suas Comunidades, para o encontro com o Senhor Ressuscitado presente na Eucaristia, na Palavra e na comunhão fraterna.

55. Na cultura do “descartável”, muitos são os casais fragilizados pela pouca formação cristã superficial, pela forte mentalidade individualista e a falta de valores mais aprofundados, dissolvem com facilidade a união conjugal. Os dados estatísticos mais recentes sobre a recepção dos Sacramentos são preocupantes e revelam uma queda considerável do número dos que recebem os Sacramentos do Batismo, da Crisma, da Eucaristia e do Matrimônio. Tudo isso desafia as paróquias, a Pastoral Familiar e os Movimentos Eclesiais voltados às famílias, no acompanhamento dos casais e famílias, para viverem sua união matrimonial e a vida em família na graça do Senhor, e para comunicarem às novas gerações o maravilhoso tesouro da fé. Por outro lado, há o imenso desafio de uma boa pastoral dos Sacramentos de iniciação à vida cristã e dos demais Sacramentos.

56. A fragmentação e a fragilização dos valores humanos e cristãos levam a uma grave deterioração dos costumes. A honestidade pessoal e a moralidade pública vão se pautando pelos interesses pessoais ou de grupos, prescindindo do fundamento ético. A consciência moral é determinada, muitas vezes, pelos fortes apelos da mídia, onde prevalece o que é “politicamente correto”, sem o compromisso com a verdade e a justiça. Para muitos, a palavra da Igreja, no que diz respeito à fé e à moral, soa como agressão ao indivíduo e sua liberdade. A vida humana passa a ser vista com olhar utilitarista, e o ser humano, ainda no ventre materno, é ameaçado pela legalização do aborto.

57. A Igreja de São Paulo, apesar dos progressos já feitos, vê-se ainda muito aquém do uso adequado das muitas formas de comunicação social, para comunicar-se melhor com toda a Cidade e até mesmo no seu âmbito interno. O imperativo de evangelizar traz o desafio de aprimorar o uso dos Meios de Comunicação, de sustentar o trabalho do Vicariato da Comunicação em todos os níveis e de formar pessoas para atuarem nesse campo.

58. Desafios à missão evangelizadora da Arquidiocese de São Paulo são também a pobreza e a falta de estruturas mínimas de muitas Comunidades da periferia. A carência de recursos materiais requer vigorosos laços de solidariedade entre Comunidades e paróquias, num intercâmbio de bens e energias para que não falte a ninguém, sobretudo aos pobres, o anúncio do Evangelho. Experiências bem-sucedidas de parcerias, como as “paróquias-irmãs”, precisam se propagar por toda a Arquidiocese. Paróquias e Comunidades já estruturadas precisam ajudar outras que ainda carecem de meios adequados para sua vida e ação pastoral.

59. Constata-se a insuficiente presença física da Igreja em muitas áreas da Cidade. A ausência da Igreja, com seus templos, capelas e centros comunitários, favorece ainda mais o distanciamento das pessoas de uma vida eclesial participativa e missionária. A acelerada movimentação do mercado imobiliário e o surgimento de novos e grandes empreendimentos habitacionais requerem uma ação atenta e corajosa para tornar a Igreja visivelmente presente nessas áreas e para a formação de novas Comunidades e Paróquias. Também isso requer partilha de bens das Paróquias, para reunir os recursos necessários e manter viva a presença da Igreja em novas áreas de urbanização.

60. A atenção pastoral e evangelizadora à infância, à adolescência e à juventude é absolutamente crucial para a Igreja, sua missão e seu futuro com a catequese de iniciação cristã em todos os níveis; ao acompanhamento pastoral das escolas, colégios, faculdades e universidades. É nesses ambientes que nós temos a chance de entrar em contato com a maioria dos jovens, adolescentes e crianças, Paróquias e Comunidades. Este é um grande desafio para a evangelização, que precisa ser enfrentado, também através da ação bem coordenada pelo Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade.

61. Nota-se em muitos agentes de pastoral (sacerdotes, religiosos e leigos) um agravamento do individualismo e um declínio da alegria e do entusiasmo missionário. Percebe-se, em nossa pastoral, um clima de cansaço e de desânimo, de desgaste amargo e de excessiva crítica e cobrança. É exatamente nesse momento em que a Igreja de São Paulo mais necessita de entusiasmo missionário que se percebe que muitos agentes de pastoral (sacerdotes e leigos) procuram fugir dos compromissos e das atividades pastorais. Há uma preocupação exagerada com o tempo pessoal, com os interesses individuais e com o próprio bem-estar. Muitos caem na apatia egoísta paralisadora (cf. EG 81-83).

IV. Fiel à vocação de evangelizar! 

62. Diante do cenário desafiador em que se encontra a Igreja Católica na cidade, ela coloca sua fé e confiança no Senhor Ressuscitado, que jamais desampara os seus discípulos. Se são numerosos os desafios, não são poucos os sinais de esperança, que levam a Igreja em São Paulo a abraçar com novo ardor sua vocação e missão!

63. Os Apóstolos Pedro e João, interpelados pelo mendigo na porta do Templo, respondem: “Nem ouro nem prata possuo, mas o que tenho, isto te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!” (At 3,6). Assim, os bispos da América Latina e do Caribe, reunidos em 2007 na Conferência de Aparecida, afirmaram, diante da realidade desafiadora latino-americana para a evangelização no Continente: “Não temos outro tesouro, a não ser este; não temos outra felicidade, nem outra prioridade, senão a de sermos instrumentos do Espírito de Deus na Igreja, para que Jesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos, não obstante todas as dificuldades e resistências” (cf. DAp 14).

64. Em Jesus Cristo, todos os homens encontram a vida. No encontro com Ele, os olhos se abrem, os ouvidos se descerram, as paralisias são vencidas. Nele o coração da humanidade se abre ao amor verdadeiro, aquele amor que faz reconhecê-Lo no irmão que sofre (cf. Mt 25,31-46) e servir sem esperar recompensa. “Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-Lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher. Com os olhos iluminados pela luz de Jesus Cristo ressuscitado, podemos e queremos contemplar o mundo, a história, os nossos povos da América Latina e do Caribe, e cada um dos seus habitantes” (DAp 18).

65. Movida pela fé em Jesus Cristo, a Igreja de São Paulo reconhece que a sua vocação é evangelizar e anunciar a salvação de Jesus Cristo a todas as pessoas nesta cidade. “Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na santa Missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa ressurreição” (Evangelii Nuntiandi, n.14). “Temos à disposição um tesouro de vida e de amor que não pode enganar, a mensagem que não pode manipular nem desiludir. É uma resposta que desce ao mais fundo do ser humano e pode sustentá-lo e elevá-lo. É a verdade que não passa de modo, porque é capaz de penetrar aonde nada mais pode chegar. A nossa tristeza infinita só se cura com um amor infinito” (EG 265).

66. O potencial evangelizador da Igreja é capaz de “modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio de salvação” (Evangelii Nuntiandi, 19).

67. O Objetivo Geral da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, definido nas Diretrizes Gerais aprovadas pela 53ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil (CNBB), em abril de 2015, é o seguinte: “EVANGELIZAR, a partir de Jesus Cristo, na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária, profética e misericordiosa, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida, rumo ao Reino Definitivo”.

68. Portanto, este também é o objetivo geral para a ação evangelizadora na Arquidiocese de São Paulo, com uma conotação particular: a “conversão pastoral” e “a pastoral em chave missionária” para que a Igreja em São Paulo possa cumprir sua vocação e missão nesta cidade imensa e complexa, mas cheia de possibilidades. “A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: ‘fez-se sempre assim’. Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades. Uma identificação dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para alcançá-los, está condenada a traduzir-se em mera fantasia... Importante é não caminhar sozinho, mas ter sempre em conta os irmãos e, de modo especial, a guia dos Bispos, num discernimento pastoral sábio e realista” (EG 33).

69. A conversão pastoral, antes de tudo, é uma nova postura missionária, que deve impregnar todas as estruturas eclesiais da Arquidiocese: o 12º Plano de Pastoral, a vida das paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da Igreja em São Paulo. Nenhuma comunidade deve deixar de entrar decididamente, com todas as forças, nesse processo constante de renovação missionária (cf DAp 365). “A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação, passando a uma pastoral decididamente missionária. Assim será possível que o único programa do Evangelho continue introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial com novo ardor missionário, fazendo com que a Igreja se manifeste como mãe que vai ao encontro, como casa acolhedora, como escola permanente de comunhão missionária” (DAp 370).

70. Na Carta Pastoral “Paróquia: torna-te o que tu és!” (2011), lemos: “Uma coisa é certa: o futuro de nossa Igreja e da paróquia depende do nosso ânimo missionário hoje. Por isso mesmo, a preocupação missionária não pode deixar de colocar seu foco na formação religiosa das crianças e dos jovens, atraindo-os, ajudando-os a se sentirem parte da comunidade eclesial, formando-os nas riquezas da fé e nos caminhos da vida cristã. Os casais e as famílias católicas devem merecer toda a atenção e apoio para que façam de seus lares verdadeiras células de vida cristã; elas são a “primeira escola da fé” para as novas gerações (cf. DAp n. 302). Um grande trabalho missionário será realizado quando os pais cristãos fizerem bem a sua parte, iniciando os filhos nas coisas da fé e introduzindo-os na vida da Igreja” (Carta Pastoral, pág. 27).

 

II PARTE: URGÊNCIAS NA AÇÃO EVANGELIZADORA E PASTORAL


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71. No esforço de ser fiel à sua história, buscando uma maior fidelidade a Jesus Cristo e, atenta às imensas possibilidades que a cidade de São Paulo lhe proporciona para evangelizar, não obstante os desafios que muitas vezes são angustiantes, a Arquidiocese de São Paulo, através do 12º Plano de Pastoral, deseja apontar pistas para desencadear uma ação audaz, decidida e comprometida com o Evangelho, onde todos os seus membros se sintam corresponsáveis e participantes da sua missão, no lugar e tarefa que lhes são próprios.

72. A premissa fundamental para a escolha e a elaboração das propostas pastorais e seus respectivos projetos é evangelizar bem e formar discípulos missionários conscientes de que a conversão pastoral é o caminho necessário para a realização desse objetivo. “Diante da realidade que se transforma, a Igreja ‘em saída’ é convocada a superar uma pastoral de mera conservação ou manutenção para assumir uma pastoral decididamente missionária, numa atitude que é chamada de conversão pastoral, como caminho da ação evangelizadora. Voltar às fontes e recomeçar a partir de Jesus Cristo faz a Igreja superar a tentação de ser autorreferencial e a coloca no caminho do amor-serviço aos sofredores desta terra” (DGAE 2015-2019, 30).

73. A partir da conversão pastoral e missionária, entende-se a importância das urgências da pastoral e da evangelização. Tendo consciência da sua missão de transmitir a fé e de dar um alicerce sólido à fé, a Igreja no Brasil destaca cinco urgências na evangelização, às quais a Arquidiocese de São Paulo acrescenta uma sexta, relacionada à família:
Primeira urgência: Igreja em estado permanente de missão;
Segunda urgência: Igreja: casa da iniciação à vida cristã;
Terceira urgência: Igreja: comunidade animada pela Palavra de Deus;
Quarta urgência: Igreja: comunidade de comunidades;
Quinta urgência: Igreja Misericordiosa a serviço da vida plena para todos;
Sexta urgência: Igreja: Família de famílias.

74. Estas urgências estão profundamente ligadas entre si, de modo que, assumir uma delas, exige assumir as demais. Na elaboração dos projetos e programas pastorais para os próximos anos, será importante fazer muito mais do que um cronograma de ações ou um elenco de atividades pontuais e dispersas. As ações e programas pastorais específicos devem evitar a dispersão (cf. DGAE 2016-2019, Anexo).

75. A cada uma das urgências, seguem algumas indicações e um elenco de projetos pastorais a serem implementados pelos diversos sujeitos pastorais da Arquidiocese: Paróquias, Comunidades, Setores pastorais, Regiões episcopais, Movimentos, Associações e Organismos eclesiais e Coordenações pastorais arquidiocesanas. Para o planejamento dos programas e atividades, ver as orientações no “Anexo”, no final deste 12º Plano.

Primeira urgência: Igreja em estado permanente de missão 

76. A consciência missionária “deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais, a ponto de deixar para trás práticas, costumes e estruturas que, por corresponderem a outros momentos históricos, atualmente já não favorecem a transmissão da fé. O que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar os corações dos cristãos, é justamente a missionariedade” (DGAE 2016-2019, 40).

77. “Cada Igreja particular, porção da Igreja Católica sob a guia do seu Bispo, está, também ela, chamada à conversão missionária... A sua alegria de comunicar Jesus Cristo exprime-se tanto na sua preocupação por anunciá-Lo noutros lugares mais necessitados, como numa constante saída para as periferias do seu território ou para os novos âmbitos socioculturais. Procura estar sempre onde fazem mais falta a luz e a vida do Ressuscitado. Para que este impulso missionário seja cada vez mais intenso, generoso e fecundo, exorto também cada uma das Igrejas particulares a entrar decididamente num processo de discernimento, purificação e reforma” (EG 30).

78. A dimensão missionária não é, portanto, mais uma realidade a ser trabalhada, mas é a exigência que deve estar presente em tudo o que se faz. As iniciativas, preocupações e programas pastorais devem estar impregnados pelo anseio e o compromisso de anunciar Jesus Cristo!

79. Indicações pastorais: 

1. Cada “sujeito eclesial” (ministros ordenados, religiosos, cristãos leigos, comunidades, paróquias, pastorais, movimentos, grupos e organismos eclesiais) deve localizar quais os grupos, pessoas ou categorias sociais que merecem atenção especial, para lhes dar prioridade no trabalho de evangelização (cf. DGAE 2016-2019, 75). É preciso ir ao encontro deles, em todos os ambientes. Esta “atenção especial” pode se concretizar na formação de associações de fiéis por categorias profissionais, na criação de comunidades ambientais, ações concretas de solidariedade junto às pessoas que estão em situação de privação de liberdade, com pessoas em situação de rua, adolescentes em conflito com a lei, migrantes, refugiados etc.

2. Missões populares, com períodos de forte envolvimento dos agentes de pastoral durante o ano, visando ambientes, áreas e grupos, para um anúncio claro da pessoa, da mensagem e da redenção de Cristo e da alegria de ter fé e de ser parte da Igreja.

3. Visitas domiciliares e a outros ambientes, com o anúncio explícito do Evangelho, o convite para a participação na vida das comunidades eclesiais. Atenção especial deve ser dada aos bairros onde se verifica grande concentração de imigrantes.

4. Ação ecumênica, através de momentos de oração em comum, ação social, estudos bíblicos e teológicos, valorizando a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos; ao mesmo tempo, promover iniciativas com outras Igrejas cristãs, como a Campanha da Fraternidade Ecumênica, tendo em vista os valores evangélicos da fraternidade, da reconciliação e da paz entre “os homens e mulheres de boa vontade”.

5. Diálogo inter-religioso, para “o encontro fraterno e respeitoso com os seguidores de religiões não cristãs e com todas as pessoas empenhadas na busca da justiça e na construção da fraternidade universal. Especial atenção merece o diálogo com os judeus e os muçulmanos, irmãos de fé no Deus Uno; com as expressões religiosas dos afrodescendentes e indígenas, assim como com os ateus” (DGAE 2016-2019, 80). Com esses grupos, podem-se organizar trabalhos em conjunto pela defesa da vida humana e do meio ambiente, sem perder a identidade da própria fé.

6. Envolvimento das congregações religiosas masculinas e femininas nas iniciativas missionárias realizadas nas paróquias e promovidas pela Arquidiocese.

7. Missão “ad gentes”, oferecendo colaboração missionária através do envio missionário de agentes e disponibilização de recursos às regiões do mundo onde a presença dos cristãos é pequena, ou onde a realidade exige uma ação missionária mais determinada. Neste sentido, realizar o “mês missionário” (outubro), com a coleta para as missões.

8. Organização de grupos missionários jovens, de leigos e de profissionais voluntários em áreas e regiões de missões.

9. Confecção e distribuição de folhetos querigmáticos e com orações e passagens bíblicas, para os presídios situados no âmbito paroquial, bem como para os doentes nos hospitais e nas casas.

10. Formação dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão (MESC) com maior especificidade para sua missão de levar a Palavra de Deus e a Sagrada Comunhão para enfermos, fortalecendo-os na fé.

11. Realizar, em 2018, a celebração do Ano do Laicato para comemorar os 30 anos do Sínodo Extraordinário sobre os Leigos (1987) e da Exortação Apostólica Christifideles Laici (João Paulo II). O objetivo dessa celebração é ajudar os cristãos leigos e leigas a se tornarem, a partir de sua conversão pessoal, agentes transformadores da realidade (cf. Doc. CNBB 105,243).

12. Iniciar, durante o período de vigência deste Plano de Pastoral, um processo de Sínodo Arquidiocesano com a finalidade de promover a avaliação, a conversão pastoral e missionária das estruturas, instituições, pastorais, paróquias e dos próprios fiéis de nossa Arquidiocese.

Segunda urgência: Igreja – Casa da iniciação à vida cristã 

80. “A fé é dom de Deus! Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (DCE, 1). Por sua vez, este encontro é mediado pela ação da Igreja, ação que se concretiza em cada tempo e lugar, de acordo com o jeito de ser de cada povo, de cada cultura.

81. A adesão a Jesus Cristo implica sempre o anúncio da Palavra de Deus. Cada época tem exigências próprias para que o anúncio de Jesus Cristo se torne eficaz. Se no passado o primeiro contato das pessoas com a Pessoa e a mensagem de Jesus Cristo se dava na família, ou mesmo na sociedade que se confessava “cristã”, hoje não se pode mais dar a fé por pressuposta. “Tal pressuposto, não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade, devido a uma profunda crise de fé, que atingiu muitas pessoas” (PF, 2).

82. Por isso, é necessário “desenvolver, em nossas comunidades, um processo de iniciação à vida cristã que conduza ao encontro pessoal com Jesus Cristo” (DGAE 2016-2019, 83).

83. A iniciação cristã “não se esgota na preparação formal para os sacramentos do Batismo, Confirmação e Eucaristia, mas se refere, principalmente, à adesão pessoal a Jesus Cristo. A adesão que tal processo promove deve ser feita e refeita, fortalecida e ratificada tantas vezes quantas o cotidiano exigir. Nossas comunidades precisam ser mistagógicas, lugares por excelência da catequese, preparadas para favorecer que o encontro com Jesus Cristo se faça e se refaça permanentemente” (DGAE 2016-2019, 43), e a participação corresponsável e generosa na vida e na missão da Igreja.

84. Tornar a iniciação cristã uma característica da ação evangelizadora e, consequentemente, das comunidades eclesiais, implica rever atitudes, horários, estruturas e, até mesmo, o perfil do agente evangelizador, que deverá servir como “ponte” entre o “candidato” à fé e a comunidade que o acolhe e acompanha.

85. Indicações pastorais: 

1. Em todas as paróquias e comunidades haja uma pastoral catequética vigorosa, com catequistas bem formados e em número suficiente; que haja suficientes espaços para a catequese; que nenhuma criança e adolescente de família católica fique sem a catequese para os Sacramentos de iniciação à vida cristã.

2. Pregação assídua e sistemática sobre os temas da fé e da moral, de maneira que a doutrina da fé católica e os mistérios da fé cristã sejam anunciados a todos, conhecidos e amados.

3. Atendimento personalizado das pessoas, através da acolhida, diálogo interpessoal, reflexão sobre a experiência de vida, no respeito à liberdade de cada pessoa.

4. Destaque para o encontro com Jesus Cristo, a conversão, o discipulado, a comunhão e a missão. Sendo a comunidade eclesial o lugar da educação na fé, o processo formativo não pode se reduzir a cursos, pois exige a participação na vida da comunidade.

5. Atenção especial para a formação dos leigos, para favorecer o interesse e a participação de um maior número de pessoas na vida e missão da Igreja, servindo-se, para isso, dos recursos dos meios de comunicação, das possibilidades oferecidas pelas mídias sociais e pelas novas formas de educação.

6. Continuar a promover o estudo do Catecismo da Igreja Católica (ou do seu Compêndio), do YouCat (Catecismo Jovem), pois o conhecimento doutrinal é essencial para a vida de fé: sem saber o que se crê, não dá para saber o que viver, o que testemunhar e o que celebrar.

7. Formação e acompanhamento na fé do cristão adulto, com o aprofundamento e comunicação constante da fé integral, seja no interior das paróquias e comunidades, como também nas próprias famílias e nas instituições católicas. Também intensificar a educação e a formação na fé das crianças, adolescentes e jovens (Escolas Católicas, Universidades etc.), de modo que os católicos bem formados sejam capazes de “dar as razões de sua esperança”, conhecendo e amando a sua fé. Valorizar a participação na Liturgia, na Missa dominical e nos Sacramentos, a fonte e o ápice da vida cristã.

8. Estímulo e acompanhamento dos jovens em seu processo de educação na fé e na elaboração de um projeto de vida e de vocação.

9. Formação bíblico-teológica: as Regiões Episcopais, Setores e as Faculdades de Teologia ofereçam cursos de formação bíblica e teológica para pessoas que estão à frente de trabalhos pastorais e movimentos, e para as pessoas que queiram aprofundar seus conhecimentos bíblicos e teológicos, para o serviço pastoral das comunidades.

10. Programa de Catequese Familiar, no qual os pais, orientados por catequistas devidamente preparados, colabora na iniciação cristã dos seus filhos e na inserção gradual na prática da fé e da vida eclesial.

11. Formação de catequistas atentos à realidade, a partir da Doutrina Social da Igreja, para que contribuam para cultivar a fé encarnada, a relação fé e vida, favorecendo a vivência comunitária da fé, de modo que os católicos estejam preparados para testemunhar Jesus Cristo na Cidade.

12. A elaboração de um Catecismo arquidiocesano que sirva para o processo de iniciação a vida cristã. Tal Catecismo arquidiocesano proporá os conteúdos fundamentais de maneira adaptada à evangelização na grande Cidade. Na mesma linha, oferecer às famílias, aos adolescentes e jovens um manual com orações e práticas devocionais mais usuais dos católicos.

13. Revisar o Diretório dos Sacramentos levando em conta as mudanças sofridas e ocorridas nas famílias, a fim de que a nossa Arquidiocese possa se mostrar Mãe misericordiosa e acolhedora.

14. Implantação do Rito de Iniciação Cristã de Adultos (Rica) em todas as paróquias, em vista de uma transmissão vital da sabedoria e da geração de um novo ser e de uma nova Vida em Cristo.

15. Revisar e adaptar datas de inscrição de catequese e os horários dos encontros de catequese, a fim de favorecer a máxima participação de crianças e adolescentes.

Terceira urgência: Igreja – comunidade animada pela Palavra de Deus 

86. “Na alvorada do terceiro milênio, não só existem muitos povos que ainda não conheceram a Boa-Nova, mas há também muitos cristãos que têm necessidade que lhes seja anunciada novamente, de modo persuasivo, a Palavra de Deus, para poderem experimentar concretamente a força do Evangelho [...]; particularmente as novas gerações têm a necessidade de ser introduzidas na Palavra de Deus através do encontro e do testemunho autêntico do adulto, da influência positiva dos amigos e da grande companhia que é a comunidade eclesial” (VD, 96-97). “Toda a evangelização está fundada sobre a Palavra escutada, meditada, vivida, celebrada e testemunhada. A Sagrada Escritura é fonte da evangelização. Por isso, é preciso formar-se continuamente na escuta da Palavra. A Igreja não evangeliza, se não se deixa continuamente evangelizar. É indispensável que a Palavra de Deus se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial. A Palavra de Deus ouvida e celebrada, sobretudo na Eucaristia, alimenta e reforça interiormente os cristãos e torna-os capazes de um autêntico testemunho evangélico na vida diária” (EG 174).

87. Hoje, compreende-se que não basta um contato casual e momentâneo com a Palavra de Deus. Ao contrário, este contato tem que ser profundo e vivencial, onde as pessoas sejam levadas a ver a própria vida à luz da Palavra e, assim, possam empenhar-se por colocá-la em prática efetivamente. “A evangelização requer a familiaridade com a Palavra de Deus, e isto exige que as dioceses, paróquias e todos os grupos católicos proponham um estudo sério e perseverante da Bíblia e promovam igualmente a sua leitura orante pessoal e comunitária” (EG 175).

88. Trata-se de acolher a Palavra com e na Igreja, superando uma leitura isolada. Por isso, é preciso favorecer a leitura da Palavra de Deus na comunhão com muitos irmãos e irmãs que se alimentam da Palavra e se esforçam por aprofundá-la nas famílias, nos pequenos grupos, nas comunidades eclesiais de base, nos encontros dos movimentos e organismos eclesiais, e nas novas expressões de vida consagrada.

89. Importância especial tem a Leitura Orante da Palavra de Deus, por meio da qual o leitor pode se aproximar do Deus da Palavra, superando a dicotomia entre fé e vida, com o método da leitura, meditação, oração e contemplação da Palavra de Deus.

90. A animação bíblica da pastoral é o esforço de iluminar com a Palavra de Deus toda a vida através do conhecimento e da interpretação, da comunhão e da oração com a Palavra e da evangelização e proclamação da Palavra de Deus.

91. Indicações pastorais: 

1. Colocar a Bíblia nas mãos de todos, especialmente dos mais pobres; oferecer, em lugares cada vez mais numerosos, ocasiões para que as pessoas sejam ajudadas a ler corretamente a Escritura e a interpretá-la com a fé da Igreja.

2. Impulsionar a animação bíblica da pastoral, com agentes e equipes preparados, fazendo da Igreja “escola de interpretação da Palavra, escola de comunhão e oração com a Palavra e escola de evangelização e proclamação da Palavra” (DAp n.248; VD n. 73).

3. Despertar e fortalecer em todos os níveis da ação evangelizadora (paroquial, setorial, regional e arquidiocesano) a animação bíblica da pastoral, com o objetivo de aproximar cada pessoa da Palavra de Deus, para conhecê-la e interpretá-la corretamente, através de retiros, cursos, encontros, subsídios para a leitura individual, familiar e em pequenos grupos.

4. Apoiar e investir nos grupos de famílias, círculos bíblicos e pequenas comunidades, que se reúnem para a meditação e vivência da Palavra, em estreita relação com a realidade das pessoas e com o meio em que vivem.

5. Favorecer o conhecimento da Palavra de Deus nos ambientes secularizados e entre os não crentes, assim como nas escolas e universidades, sobretudo através da educação religiosa; promover manifestações artísticas inspiradas na Sagrada Escritura e a utilização dos novos meios de comunicação social, especialmente a internet e as redes sociais.

6. Realizar, nos encontros paroquiais das comunidades eclesiais, movimentos e organismos eclesiais, a Lectio Divina, com os seus quatro momentos – leitura, meditação, oração, contemplação –, que favorecem o encontro pessoal com Jesus Cristo, Verbo de Deus que se revelou ao mundo.

7. Investir na formação continuada dos ministros e ministras da Palavra de Deus, cuidando da sua adequada formação para exercício do múnus de leitor na celebração litúrgica, capacitando-os bíblica, litúrgica e tecnicamente.

8. Propiciar a sacerdotes, seminaristas, religiosos e religiosas, leigos e leigas a oportunidade de formação litúrgica e musical mais aprimorada, de maneira que possam organizar e orientar a prática musical e transmitir às comunidades animação e beleza nas celebrações.

9. Valorizar muito a homilia, que atualiza a mensagem da Palavra de Deus, para que os fiéis sejam levados a descobrir a presença do Deus que lhes fala no momento atual de suas vidas. Para que a homilia favoreça a feliz e amorosa experiência do encontro com a Palavra, incentivar os sacerdotes a preparar a homilia, dedicando a essa importante tarefa tempo prolongado de estudo, oração, reflexão e criatividade pastoral. Nesse sentido, os sacerdotes tomem a peito a aplicação do que o Papa Francisco escreveu na Evangelii Gaudium 110-175.

10. Destacar, nas comunidades, a leitura e reflexão da Constituição Dogmática “Dei Verbum”, do Concílio Vaticano II, tendo em vista a comemoração dos 50 anos do Concílio e da Exortação Apostólica “Verbum Domini”, de Bento XVI (2010).

11. As paróquias e comunidades ofereçam aos fiéis oportunidades para retiros espirituais fundamentados na Palavra de Deus, criando e cultivando nos católicos uma mística e espiritualidade bíblica.

Quarta urgência: Igreja – comunidade de comunidades 

92. “O discípulo missionário de Jesus Cristo, necessariamente, vive a sua fé em comunidade, em íntima união ou comunhão das pessoas entre si e dela com Deus Trindade. Sem vida em comunidade, não há como viver efetivamente a proposta cristã. A comunidade eclesial acolhe, forma e transforma, envia em missão, restaura, celebra, adverte e sustenta” (DGAE 2016-2019, n. 55).

93. Ao destacar a importância da dimensão comunitária da vivência da fé, não se pode ignorar que hoje existem comunidades transterritoriais, ambientais e afetivas. Entretanto, é na paróquia que a maioria das pessoas se relaciona com a Igreja. Por isso, as paróquias “precisam tornar-se cada vez mais comunidades vivas e dinâmicas, capazes de propiciar aos seus membros uma real experiência de discípulos e missionários de Jesus Cristo, em comunhão” (DGAE 2016-2019, 56).

94. A Carta Pastoral “Paróquia, torna-te o que tu és” (2011) ajudou a tomar consciência de que “a paróquia é, na expressão local e concreta, aquilo que a Igreja é no seu todo. Na paróquia, a Igreja manifesta de maneira próxima e perceptível sua vida e sua missão; ela é uma comunidade organizada de batizados, de bens espirituais, simbólicos e materiais, de organizações e iniciativas, que fazem a Igreja acontecer num determinado espaço e contexto. (...)A Igreja corre o risco de “rodar no vazio” e de ser reduzida a uma série de estruturas, instituições e organizações, sem chegar às pessoas concretas, se as paróquias não vivem bem sua identidade e missão e não são a expressão de comunidades vivas e dinâmicas, ou se carecem de objetivos e organização pastoral” (Carta Pastoral – Paróquia: torna-te o que tu és! p.5).

“A paróquia não é uma estrutura caduca; precisamente porque possui uma grande plasticidade, pode assumir formas muito diferentes que requerem a docilidade e a criatividade missionária do Pastor e da comunidade. Embora não seja certamente a única instituição evangelizadora, se for capaz de se reformar e adaptar constantemente, continuará a ser a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas. Isto supõe que esteja realmente em contato com as famílias e com a vida do povo, e não se torne uma estrutura complicada, separada das pessoas, nem um grupo de eleitos que olham para si mesmos. A paróquia é presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração. Através de todas as suas atividades, a paróquia incentiva e forma os seus membros para serem agentes da evangelização. É comunidade de comunidades, santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missionário” (EG 28).

95. No seio das paróquias, existem as comunidades eclesiais de base e outras comunidades menores, como as várias formas de agregações de fiéis, novas comunidades, movimentos eclesiais e pastorais; essas propiciam vínculos profundos entre as pessoas e a interação entre fé e vida (cf. Carta Pastoral, n.60).

96. Indicações pastorais: 

1. Que as paróquias busquem e cultivem formas comunitárias de viver a fé e se transformem em comunidades de comunidades vivas e dinâmicas de discípulos missionários de Jesus Cristo. Incentivar as pessoas a participarem da Missa dominical e dos eventos importantes da paróquia. Criar oportunidades para a participação efetiva de crianças e jovens na vida das paróquias e comunidades.

2. Investir na setorização em unidades territoriais menores, com equipes próprias de animação e de coordenação, que permitam maior proximidade com as pessoas e grupos que vivem na área. As paróquias e comunidades façam um levantamento da realidade local, no que diz respeito à educação, saúde, moradia e trabalho, ao número de templos religiosos de diferentes denominações cristãs e de outras tradições religiosas presentes no território paroquial; e da frequência à Missa, à catequese, aos Sacramentos, sobre as pessoas doentes, pessoas idosas e com deficiência.

3. As CEBs, inseridas nas suas respectivas paróquias, sejam estimuladas e ajudadas a manterem-se fiéis à sua razão de ser e sua missão de promover a interação entre fé e vida, o surgimento de vocações e de novos ministérios leigos, a educação da fé de jovens, crianças e adultos, o compromisso evangelizador e missionário junto aos mais afastados.

4. Apoiar e orientar as novas comunidades, movimentos, grupos de vida, de oração e de reflexão da Palavra de Deus; que a paróquia se torne, com a participação de todas as expressões comunitárias nela existentes, comunidade de comunidades.

5. Favorecer e estimular, de forma organizada e integrada, a experiência das paróquias-irmãs em toda a Arquidiocese, para promover a partilha e a comunhão dos recursos entre comunidades já estabelecidas e as mais novas, ou carentes de recursos.

6. Constituir em todas as paróquias o Conselho de Pastoral Paroquial e o Conselho de Assuntos Econômicos, garantindo assim a comunhão e a participação (CNBB, Doc. 100, 319, e).

7. Paróquias e comunidades organizem o serviço de escuta e acolhida, com equipes de voluntários de diferentes profissões, para ajudar as pessoas que buscam ajuda e orientação social, médica, psicológica, religiosa, profissional, entre outras.

8. Estimular a vida fraterna e solidária entre os paroquianos, mediante a criação de grupos de voluntários formados por profissionais, para o atendimento aos doentes, idosos e necessitados, em especial, nas paróquias da periferia.

9. Promover a implantação da Pastoral do Dízimo nas comunidades, visando à manutenção das mesmas e à formação da consciência da partilha e da responsabilidade de todos os fiéis na manutenção da vida e da missão da Igreja.

10. Dar a devida atenção aos condomínios e conjuntos residenciais populares (Doc. 100, 319, j).

11. Acompanhar as grandes mudanças e operações urbanas (surgimento de novos condomínios e de novos bairros, adensamento populacional de algumas áreas da cidade, concentração de comunidades de migrantes) no sentido de garantir a presença física e efetiva da Igreja em toda a cidade.

Quinta urgência: Igreja Misericordiosa a serviço da vida plena para todos 

97. Por meio da promoção da cultura da vida, os discípulos missionários de Jesus Cristo testemunham verdadeiramente sua fé naquele que veio dar a vida em resgate de todos, comprometendo-se do modo especial com os pobres e excluídos, em vista da construção de uma sociedade justa e fraterna (DGAE 2016-2019, 64).

98. Um dos grandes testemunhos da Igreja, ao longo da sua história, é o seu compromisso com a pessoa e a vida, mediante o cuidado dos doentes, pobres, feridos e submetidos à violência ou ameaça de morte. Também na nossa época, a fé se torna eloquente aos olhos dos homens quando se traduz em serviço à vida. “A fé não afasta do mundo, nem é alheia ao esforço concreto dos nossos contemporâneos. A fé é um bem para todos, um bem comum.” Nesse sentido, a nossa fé católica é um bem para a cidade de São Paulo (LF 50-51).

99. A dimensão social está fundamentada na Palavra de Deus, nas reflexões dos Santos Padres e no Magistério da Igreja, especialmente na Doutrina Social da Igreja, para nortear a reflexão e ação do povo de Deus, como sinal de Cristo, bom Pastor, que acolhe de modo samaritano os irmãos e irmãs que vivem em situação de miséria, exclusão e sofrimento. “A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma ajuda a outra a realizar o seu caminho. De fato, não poucos cristãos dedicam amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído, considerando-o como o primeiro a quem atender e o mais importante a socorrer, porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo. Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor ressuscitado” (PF, 14).

100. Os católicos não podem se calar diante da vida impedida de nascer, por decisão individual, ou pela legalização do aborto. Não podem se calar igualmente diante da vida sem alimentação, casa, terra, trabalho, educação, saúde, lazer, liberdade, esperança e fé. Mas precisam comprometer-se com um mundo onde seja efetivamente reconhecido o direito a nascer, crescer, constituir família, seguir a vocação, crer e manifestar sua fé; com um mundo onde o perdão seja a regra, a reconciliação, a meta de todos, a tolerância e o respeito, condição de felicidade e a gratuidade, vitória sobre a ambição. O discípulo missionário reconhece que seu sonho por vida eterna o leva a ser, já nesta vida, parceiro da vida em plenitude.

101. Indicações pastorais: 

1. Ter um olhar atento para a família, de acordo com as orientações da Igreja. Ela é patrimônio da humanidade, escola de comunhão, o primeiro lugar para a iniciação à vida cristã, onde os pais são os primeiros catequistas. Por ser considerada um “eixo transversal da ação pastoral”, a família precisa ser respaldada por uma nova pastoral familiar. A família precisa ser também sujeito da ação política, para que o Estado assegure o exercício de direitos e deveres inerentes à vida familiar.

2. Dar especial atenção às crianças, adolescentes e jovens nas comunidades eclesiais. O trabalho pastoral realizado pela Pastoral da Criança, pela Pastoral do Menor, pela Infância Missionária, merece um grande apoio para evitar que crianças e adolescentes tornem-se vítimas precoces do abandono, da violência, das drogas e abusos, ou lhes sejam negadas oportunidades e perspectivas de futuro.

3. Despertar, valorizar e organizar os grupos juvenis para que se tornem comunidades de fé e de vida.

4. Acompanhar a ação dos trabalhadores e trabalhadoras, criando e apoiando alternativas de geração de renda, assim como a economia solidária, o acesso ao crédito popular, a busca do desenvolvimento local sustentável e solidário e a formação para um emprego estável.

5. Apoiar o trabalho da CÁRITAS da Arquidiocese de São Paulo, nas campanhas emergenciais, nos projetos de economia solidária e geração de renda, na acolhida e encaminhamento dos migrantes, imigrantes e refugiados.

6. Incentivar a realização do Fórum das Pastorais Sociais nas Regiões Episcopais e na Arquidiocese, sob a direção da Coordenação Pastoral da Caridade Justiça e Paz, visando o entrosamento e a troca de experiências entre as diversas pastorais que atuam nas realidades sociais mais desafiadoras e o estudo e a reflexão sobre a Doutrina Social da Igreja.

7. Acompanhar e estimular o trabalho realizado pela Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e o Centro Santo Dias na defesa dos direitos humanos, no combate a toda forma de injustiça e violência contra a pessoa humana.

8. Fortalecer a organização dos cristãos leigos e leigas por meio do Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo e dos grupos de articulação dos leigos, que vão se constituindo no âmbito dos setores pastorais, para o amadurecimento da vida, missão e vocação laical.

9. Apoiar e incentivar a organização da Pastoral Afro, da Pastoral do Migrante e da Pastoral Indigenista em vista da inclusão social e da superação de toda discriminação e racismo, mediante a afirmação de seus direitos, cidadania, projetos próprios de desenvolvimento e consciência de suas próprias culturas.

10. Educar os fiéis para a preservação da natureza e o cuidado da ecologia e da biodiversidade, através de iniciativas e ações que promovam a educação para o respeito ao meio ambiente.

11. Estimular a participação social e política dos cristãos leigos e leigas nos diversos níveis e instituições, promovendo a sua formação permanente e iniciativas concretas, incentivando a sua participação nos partidos políticos, Conselhos Paritários e Comunitários, bem como de Direitos Humanos.

12. Favorecer a colaboração e parceria das instituições católicas com outras instituições privadas ou públicas, com os movimentos populares e outras entidades da sociedade civil, nas causas justas e compatíveis com a fé e a moral cristãs, visando à implantação e execução de políticas públicas voltadas para a defesa e a promoção da vida e do bem comum, conforme a Doutrina Social da Igreja.

13. Formar grupos de Pastoral de Fé e Política nas Regiões Episcopais, setores e paróquias, motivando e preparando os fiéis para a difícil e nobre ação política em busca do bem comum (Gaudium et Spes, 457), como testemunhas do Reino de Deus na Cidade.

14. Apoiar e valorizar a atuação do Vicariato da Pastoral da Comunicação na Arquidiocese.

15. Dar especial atenção à presença da Igreja nas periferias da cidade e também à Pastoral Carcerária.

16. Investir na formação de pensadores e pessoas que estejam em níveis de decisão, para evangelizar os “novos areópagos”. Fortalecer a Pastoral Universitária e a Pastoral da Educação.

17. "Apoiar e participar das ações do Vicariato Episcopal da Pastoral de Rua em nível arquidiocesano, regional, setorial e paroquial nas entidades e novas comunidades, acolhendo a população de rua a partir de uma 'cultura de misericórdia com base na redescoberta do encontro com os outros. Uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença nem vire o rosto quando vê o sofrimento dos irmãos'". (MM 20)

18. Acompanhar e apoiar a ação do Vicariato da Pastoral para o Povo da Rua, favorecendo a inclusão social, as expressões de religiosidade popular, o crescimento, aprofundamento e o testemunho da fé, que age pela caridade. Apoiar o Projeto “Vida Nova”, legado do Ano da Misericórdia na Arquidiocese.

19. Educar para o valor da vida humana, a dignidade e os direitos humanos, o cultivo da saúde, a prática das virtudes humanas e a superação dos vícios.

20. Prevenir contra o consumo das drogas e do álcool, da prostituição, da violência e de toda forma de agressão à dignidade da pessoa e da vida humana. Educar para uma vida sexual sadia, regrada, respeitosa e responsável.

21. Realizar parcerias com a Defensoria Pública, para oferecer orientação e assistência jurídica aos paroquianos necessitados ou, ao menos, encaminhá-los para os núcleos existentes, quando necessário. Divulgar a cartilha de direitos humanos à população.

22. Dar atenção especial aos idosos, animando a Pastoral da Pessoa Idosa, visando a sua integração na família e na sociedade, na busca constante da dignidade e da qualidade de vida física, psíquica e espiritual das pessoas idosas.

Sexta urgência –Igreja: família de famílias 

102. Recentemente a Igreja dedicou à família a celebração de dois Sínodos. A nova evangelização não pode se realizar sem um novo pacto entre a Igreja e a família. Nesse sentido, a Arquidiocese de São Paulo deseja receber criativamente a Exortação Apostólica Amoris Laetitia, que estimula “a apreciar os dons do matrimônio e da família e encoraja todos os fiéis a serem sinais de misericórdia e proximidade para a vida familiar, onde esta não se realize perfeitamente ou não se desenrole em paz e alegria (AL 5).

103. A Igreja é família de famílias, e nossa Arquidiocese é constantemente enriquecida pela vida de todas as suas “Igrejas domésticas”. Cada família é, portanto, um bem precioso para a Igreja que está em São Paulo. Há uma fecunda “reciprocidade entre família e Igreja: esta é um bem para a família e a família é um bem para a Igreja. A salvaguarda deste dom sacramental do Senhor compete não só à família individual, mas a toda a comunidade cristã” (AL 87).

104. Cuidar da família é concretamente cuidar de tudo o que a constitui: o casal unido pelo vínculo matrimonial, as crianças, os adolescentes, os jovens e os anciãos. Nesse sentido, as pessoas – sejam elas jovens ou idosas – serão mais eficazmente alcançadas pela evangelização se esta atingir o ambiente em que se sentem mais à vontade: o seu lar. A família cristã é parceira privilegiada da evangelização porque é em si mesma uma concretização da Boa Nova na vida das pessoas.

105. A “alegria do amor” não se limita a conteúdos teóricos, mas é um dom a ser acolhido e vivido. É preciso dar mais destaque ao dom de Deus que se manifesta nos casos concretos de casais e famílias que vivem segundo o Evangelho da Família. É urgente acompanhar os noivos e os casais jovens, anunciando-lhes Alegria do Amor familiar. O mesmo anúncio não pode faltar aos casais em crise e às pessoas que deixaram de corresponder plenamente ao que o Senhor nos propõe. Esta urgência pastoral, portanto, consiste em anunciar o Evangelho da Família, guiar os noivos no caminho da sua preparação para o matrimônio, em acompanhar os casais e famílias nos primeiros anos da vida matrimonial, em iluminar as crises e as dificuldades, em acompanhar, discernir e integrar a fragilidade.

106. Indicações pastorais: 

1. Fazer com que as famílias sejam sujeitos cada vez mais ativos da transmissão da fé e da pastoral familiar. Nesse sentido, é necessário um esforço evangelizador e catequético orientado para a família e que envolva a família. (AL 200).

2. Ajudar os jovens a descobrirem o valor e a riqueza do Matrimônio, a captar o fascínio de uma união plena que eleva e aperfeiçoa a dimensão social da vida, confere à sexualidade o seu sentido maior (AL 205).

3. Organizar a preparação próxima ao Matrimônio, dando prioridade – juntamente com o renovado anúncio do querigma – aos conteúdos que, comunicados de forma atraente e cordial, ajudem os noivos a se comprometer por toda a vida com grandeza de alma e com liberdade e a iniciar com solidez a vida familiar (AL 207).

4. Oferecer, através de famílias missionárias, uma preparação remota para ajudar a amadurecer o amor dos jovens. Não se deve esquecer que os que chegam melhor preparados ao casamento são aqueles que aprenderam dos seus próprios pais o que é o Matrimônio cristão (AL 208).

5. Fazer com que a pastoral matrimonial seja uma pastoral do vínculo, na qual se ofereçam conselhos práticos, bem encarnados, estratégias tomadas a partir da experiência e das orientações psicológicas (AL 211).

6. Uma vez que os primeiros anos de casamento são um período vital e delicado, é necessário acompanhar pastoralmente os recém-casados, colocando em ação iniciativas que cultivem uma espiritualidade familiar fundada na Eucaristia dominical e na oração familiar cotidiana. Nesse sentido, a paróquia deve oferecer às famílias recém-formadas o apoio de famílias especializadas e de associações, movimentos e novas comunidades (AL 223).

7. Fortalecer a educação dos filhos reconhecendo o protagonismo dos pais: os pais tornem-se, de fato, os primeiros catequistas dos filhos, introduzindo-os na prática da vida cristã e eclesial.

8. Aplicar grande esforço na educação sexual das novas gerações e também das mais velhas. Em um contexto de falta de pudor e de irresponsável utilização da outra pessoa como objeto de experiências, é mais urgente tomar a sério a educação sexual. A educação sexual deve ajudar a aceitar o próprio corpo, de modo que a pessoa não pretenda cancelar a diferença sexual (AL 285).

9. Reorganizar as atividades paroquiais, das comunidades, pastorais, grupos, movimentos e realidades eclesiais para que sejam espaço de evangelização das famílias e onde as famílias sejam evangelizadoras.

10. Defender e valorizar a família como escola de valores humanos e cristãos. Reconhecer o protagonismo da família na educação cristã e na catequese das novas gerações.

11. Promover uma ação evangelizadora que fomente o cultivo de uma espiritualidade familiar vigorosa e profunda. Incentivar momentos de oração e o exercício da caridade em família, que envolvam as crianças e os jovens.

12. Ir ao encontro e acolher as famílias afastadas da vida eclesial. Buscar a conversão pastoral no sentido de tornar as comunidades cristãs e organizações eclesiais autênticos “hospitais de campanha”, onde as famílias feridas possam fazer a experiência do amor que não julga, que perdoa e cura.

13. Acompanhar uniões, ditas irregulares, em vista de um discernimento pastoral das situações das pessoas que deixaram de viver a plenitude do Matrimônio cristão para identificar elementos que possam favorecer a evangelização e crescimento humano e espiritual, seguindo as orientações do Papa Francisco na Exortação “Amoris Laetitia” (AL 293).

14. Tendo em vista a gradualidade na Pastoral Familiar, enfrentar todas as situações difíceis de forma construtiva, procurando transformá-las em oportunidade de caminho para a plenitude do Matrimônio e da família à luz do Evangelho (AL 294). Nesse sentido, valorizar os pequenos passos de cada pessoa e de cada família no caminho de conversão e de aproximação de Jesus.

15. Criar e organizar nas Regiões Episcopais Centro de Escuta e Câmaras Eclesiásticas, para atender e acompanhar os casos de declaração de nulidade matrimonial, exprimindo concretamente, através desse serviço pastoral, a proximidade da Igreja de São Paulo a esses casais.

16. Reforçar a colaboração entre os movimentos familiares e a Pastoral familiar, em vista da ação evangelizadora na e com as famílias.

17. Oferecer aos seminaristas formação interdisciplinar sobre as questões matrimoniais e familiares, em vista da sua preparação para a animação eficaz da Pastoral Familiar.

18. Formar agentes leigos de Pastoral Familiar, com a ajuda de psicopedagogos, médicos de família, médicos de comunidade, assistentes sociais, advogados de menores e família, predispondo-os para receber as contribuições da psicologia, sociologia, sexologia e até aconselhamento (AL 204).

19. Demonstrar o interesse e o acolhimento à família nas paróquias. É importante que sejam celebradas na comunidade e na Igreja as datas marcantes da vida familiar, de modo especial, o aniversário de casamento, o nascimento dos filhos, a admissão deles aos Sacramentos da iniciação à vida cristã, os falecimentos. As Paróquias, os Movimentos, as Associações de famílias não percam a oportunidade de tais ocorrências.

20. As celebrações de datas importantes para a vida familiar ajudam a viver a indissolubilidade e a fecundidade do Matrimônio como precioso dom de Deus, e não como obrigação extrínseca ou fardo a ser carregado de má vontade. Em tais celebrações, deve-se fazer o que é da natureza do celebrar cristão: demonstrar gratidão pelo dom de Deus, e não tanto homenagear os esforços humanos. De maneira mais precisa: evidenciar e reconhecer que o heroísmo humano é sobretudo dom de Deus, que inspira, sustenta e leva a pleno cumprimento a boa obra.