Exaltar a Santa Cruz é celebrar o Cristo vitorioso

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Hoje, 14, segundo o calendário litúrgico, a Igreja do mundo todo celebra a Exaltação da Santa Cruz
Publicado em: 14/09/2018 - 15:00
Créditos: Redação

Na sexta-feira, 14, segundo o calendário litúrgico, a Igreja do mundo todo celebra a Exaltação da Santa Cruz. Essa festa remonta às origens do Cristianismo, propriamente em Jerusalém, e relaciona- -se à dedicação das basílicas do Gólgota e do Santo Sepulcro, constituídas pelo imperador Constantino em 13 de setembro de 335. No dia seguinte a esse acontecimento, mostravam-se as relíquias da Santa Cruz. Tal fato guarda, portanto, estreita relação com a Sexta-feira Santa: Jesus foi condenado à morte de cruz, carregou-a sobre os ombros até o Calvário, nela foi pregado, levantado da terra e ali deu sua vida por toda a humanidade, tornando-a instrumento da salvação eterna.

 

O SENTIDO DA CRUCIFIXÃO

No tempo de Jesus, os romanos utilizavam a crucifixão, considerada a mais cruel de todas as penas, para punir aqueles que lhes faziam oposição, como escravos rebeldes, criminosos violentos e subversivos políticos.

Reservada, portanto, aos piores delinquentes, o objetivo da crucifixão era proporcionar uma morte vagarosa, aterradora e dolorosa. Assim, à cruz eram associadas indignidade e vergonha, e, consequentemente, o condenado era tido como marginalizado, verdadeira imagem da repulsa e abominação. Ser sentenciado à morte de cruz significava ser condenado ao esquecimento histórico, ou seja, a memória e toda existência de quem recebia tal pena deveriam ser exterminadas juntamente com sua vida. O Antigo Testamento indicava que quem fosse crucificado era visto como desgraçado, amaldiçoado pelo próprio Deus (Dt 21,23).

Por que, então, a cruz, um instrumento tão intimamente associado ao sofrimento e a tantas características inumanas, deve ser exaltada?

 

 

NOVO SIGNIFICADO

As Sagradas Escrituras, ao responderem a esse questionamento, ensinam que “a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: Nele está nossa vida e ressurreição; foi Ele que nos salvou e libertou” (Gl 6,14). Isso significa que, justamente por meio da Santa Cruz, um instrumento tido até então com uma conotação tão indigna, degradante e depreciativa, Jesus foi capaz de oferecer, de forma única e perpétua, redenção e salvação, ao vencer o pecado e a morte, ressuscitar e ascender gloriosamente aos céus. Assim, enaltecer a Santa Cruz é celebrar o Cristo vitorioso, pleno cumpridor de sua missão como reconciliador da humanidade perante Deus.

 

O SOFRIMENTO À LUZ DA PAIXÃO

Quando Jesus diz que para segui-lo é necessário abandonar tudo, renunciar a si mesmo e tomar a sua cruz, é evidente que se deve ter sempre presente a questão do sofrimento que, cedo ou tarde, aparecerá na vida de cada ser humano. Muitas vezes, as cruzes, ao traduzirem-se em sofrimento concreto, apresentam-se das mais diversas maneiras: doença, pobreza, incompreensão, cansaço, dor, perda, desprezo, desilusão... Como entender tais sofrimentos à luz da Paixão de Cristo?

 

A RESPOSTA DE UM SANTO

São João Paulo II, há quase 35 anos, publicava a carta apostólica Salvifici Doloris, sobre o sentido cristão do sofrimento humano, e buscava oferecer respostas. Nela, o Santo do nosso tempo afirma que “na Cruz de Cristo não somente se cumpriu a Redenção mediante o sofrimento, mas também o sofrimento humano foi redimido.” Ele continua a meditar acerca do mistério da dor e parte da pergunta que todo ser humano faz a si mesmo: Por que o mal? E imediatamente ressalta que toda e qualquer explicação se mostra insuficiente e inadequada: “o homem, em seu sofrimento, permanece um mistério intangível. No entanto, Cristo nos faz entrar no mistério e nos faz descobrir o porquê do sofrimento”. Todavia, por vezes, é preciso “um longo tempo para que essa resposta comece a ser perceptível”.

A sua resposta é, acima de tudo, um chamado: “Cristo não explica abstratamente as razões do sofrimento, porém, em primeiro lugar, diz: ‘Segue-me!’ Vem! Com o teu sofrimento, toma parte desta obra de salvação do mundo, que se realiza por meio de meu sofrimento! Por meio de minha Cruz.” Assim, “na medida em que o homem toma a sua cruz, unindo-se espiritualmente à Cruz de Cristo, revela-se diante dele o sentido salvífico do sofrimento… E, então, o homem encontra em seu sofrimento a paz interior e, até mesmo, a alegria espiritual”, continua o Santo.

 

ATITUDE FECUNDA

O Pontífice destaca ainda que “a superação do sentido de inutilidade do sofrimento, que não somente consome o homem dentro de si mesmo, mas parece torná-lo um peso para os outros, torna-se, então, fonte de alegria. A descoberta do sentido salvífico do sofrimento em união com Cristo transforma essa sensação deprimente.” A dor vivida com Jesus serve verdadeiramente para a salvação dos irmãos: “portanto, não somente é útil para os outros, mais que isso, realiza um serviço insubstituível.” Enxergar as situações dessa forma encontra suas bases no paradoxo que é o Evangelho: “as fontes da força divina brotam justamente em meio à fraqueza humana”

Por fim, quem vence é o bem, conclui São João Paulo II. Porém, somente por meio da fé na ressurreição, o homem encontra “uma luz completamente nova, que o ajuda a caminhar em meio à intensa escuridão” do sofrimento e do mal