Padres devem viver a ‘diocesanidade' e estar atentos ao risco do clericalismo

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A visita ao encontro de sacerdotes, religiosos, seminaristas e diáconos permanentes na Catedral de São Pedro, em Bolonha, é uma das atividades programadas na visita pastoral a diocese
Publicado em: 05/10/2017 - 10:00
Créditos: Redação

Na tarde do domingo, dia 1º, o Papa Francisco falou de improviso no encontro realizado com sacerdotes, religiosos, seminaristas e diáconos permanentes na Catedral de São Pedro, em Bolonha, na Itália, em uma das atividades programadas de sua visita pastoral nessa diocese. 

Francisco destacou que os padres devem viver a “diocesanidade”, carisma próprio e imprescindível de cada sacerdote secular. Esta, afirmou, “é uma experiência de pertença, quer dizer que não és livre, mas és um homem que pertence a um corpo. Acredito que esquecemos isto tantas vezes, porque sem cultivar esse espírito de diocesanidade, nos tornamos muito ‘únicos’, muito sozinhos com o perigo de ser também infecundos, nervosos… A diocesanidade tem também uma dimensão de sinodalidade com o bispo: o corpo tem uma força especial e o corpo deve ir em frente sempre com a transparência. O compromisso da transparência, mas também a virtude da transparência cristã como a vive Paulo, isto é: a coragem de falar, de dizer tudo.” 

Na sequência, o Pontífice resgatou um tema que sempre se apresenta como um perigo aos sacerdotes: o clericalismo. “É triste quando um pastor não tem o horizonte do povo. É muito triste quando as igrejas permanecem fechadas  - algumas devem permanecer fechadas – mas, quando se vê um aviso na porta: de tal a tal hora, depois não tem ninguém. Confissões somente em tal dia, de tal hora a tal hora. Mas tu... não é um escritório do sindicato, eh! É o lugar aonde tu vais adorar o Senhor. Mas, se um fiel quer adorar o Senhor e encontra a porta fechada, onde irá fazê-lo? Pastores com horizonte de povo: isto quer dizer, ‘como eu faço para estar próximo de meu povo’”. 

Segundo o Papa, o pastor deve ter uma tríplice relação com o povo de Deus, movendo-se em três direções: na frente, para ver o caminho; no meio, para conhecê-lo, numa relação de proximidade; e também atrás, para ajudar os retardatários e também, às vezes, para deixar o povo ver qual caminho escolher. “Isto não quer dizer ser um populista, não! Pastor do povo, isto é, próximo ao povo, porque foi convidado para estar ali e fazer crescer o povo, para ensinar o povo, santificar o povo, ajudá-lo a encontrar Jesus Cristo.” 

Francisco, a partir dessa fala, destacou dois vícios que afetam a vida consagrada. O mais frequente é o da tagarelice: sujar a fama do irmão com as fofocas e as reclamações. O outro “é o pensar o serviço presbiteral como carreira eclesiástica… aqueles que buscam fazer carreira e sempre têm as unhas sujas, porque querem subir. Um galgador é capaz de criar tantas discórdias no seio de um corpo presbiteral…! Os galgadores fazem tanto mal para a união do presbitério, tanto mal, porque vivem em comunidade, mas agindo assim para eles irem em frente”. 

O Papa, então, convidou os religiosos a fazer um exame de consciência sobre como vivem a pobreza: “A segurança na vida consagrada não é dada nem pelas vocações, nem pela abundância do dinheiro; a segurança vem de outro lugar”, recordou o Papa. “Tantas congregações que diminuem, diminuem, e os bens aumentam. Tu vê aqueles religiosos apegados ao dinheiro como segurança. E o problema não está tanto na castidade ou na obediência, não! Está na pobreza. A psicologia da sobrevivência leva a viver mundanamente, com esperanças mundanas, não de colocá-la na estrada da esperança divina, a esperança de Deus. O dinheiro é realmente uma ruína para a vida consagrada”. 

Por fim, o Romano Pontífice indicou o caminho a seguir para evitar essa mundanidade: o caminho do rebaixamento! “Rebaixar-se com o povo de Deus, com aqueles que sofrem, com aqueles que não podem te dar nada. Terás somente a força da oração: este – concluiu o Papa – é o caminho que conduz ao Reino de Deus. Não é fechada, sem horizontes, sem povo, mas é aberta, com horizontes fecundos.”