Papa Francisco: ‘A guerra impede as crianças de sonhar’

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Em entrevista à TV italiana, o Pontífice falou sobre as guerras que assolam o mundo hoje, a necessidade de perdoar e as reformas na Igreja
Publicado em: 17/01/2024 - 15:00
Créditos: Redação

Uma pergunta que em outras ocasiões o Papa Francisco diz ser “sem resposta” e que o angustia é o porquê do sofrimento das crianças. Em entrevista exibida no programa italiano Che Tempo Che Fa, no domingo, 14, com tom bastante pessoal, o Pontífice voltou ao tema e falou de assuntos contemporâneos e de seu pontificado. “As crianças são os grandes explorados, os grandes descartados [pela guerra]”, afirmou. “E esquecemos que elas são o futuro, mas nós privamos as crianças do futuro.” A guerra “impede as crianças de sonhar.” 

Ele recordou um encontro que teve com crianças ucranianas, vítimas da guerra com a Rússia, no qual elas não sorriam. “Elas ganhavam chocolates e não sorriam. Elas haviam esquecido o sorriso… e que uma criança o esqueça é um crime”. Por esse motivo, ele resolveu instituir a Jornada Mundial das Crianças, que será celebrada entre 25 e 26 de maio deste ano. “Precisamos chamar a atenção para o fato de que as crianças são o futuro. Mas são o futuro com as coisas que nós lhes daremos: ou lhes fazemos crescer bem ou lhes fazemos crescer mal”, completou.

A FORÇA DO PERDÃO

O Papa também falou sobre os males causados pela guerra e reiterou que o comércio que hoje dá mais dinheiro é o comércio de armas para as guerras. “As pessoas que morrem é o preço que se paga”, disse. “A guerra é uma opção egoísta, que tem o seguinte gesto: o de tomar para si. Enquanto isso, a paz tem o gesto contrário: dar, e dar a mão.” A esperança é a arma mais forte, indicou, e é preciso segurar-se a ela. 

Para isso, o perdão é o melhor caminho. O Papa Francisco afirmou que “o perdão é para todos” e é também “um direito”. “Deus não se cansa jamais de perdoar”, insistiu. “O Senhor está próximo, toca o coração para levar a uma mudança de vida”, mas é preciso abrir as portas para que Ele entre, disse, “deixar que Ele se aproxime de nós”. 

Nesse sentido, o Santo Padre afirmou que a Igreja de hoje deve permitir que todos se sintam em “casa”. Recordando seu discurso na Jornada Mundial da Juventude, quando declarou que “a Igreja acolhe a todos, todos, todos, e não exclui ninguém”, Francisco acrescentou que “este é o convite do Senhor”, pois “cada um carrega o seu fardo, mas o Senhor diz: ‘todos’”.

CAMINHO PASTORAL

Ele comentou, ainda, a recente decisão do Dicastério para a Doutrina da Fé que, na declaração Fiducia suplicans, de 18 de janeiro, abriu a possibilidade para que pessoas que vivem em uniões consideradas irregulares possam receber bênçãos informais de sacerdotes católicos – reafirmando, portanto, a doutrina sobre o sacramento do Matrimônio. 

“O Senhor abençoa a todos, todos, todos. O Senhor abençoa a todos os que são capazes de ser batizados, ou seja, toda pessoa. Mas depois as pessoas devem entrar em colóquio com a bênção do Senhor e ver qual é a estrada que o Senhor lhe propõe”, esclareceu. “Mas nós [a Igreja] temos que tomar pela mão e ajudá-las a caminhar naquela estrada, e não condená-las desde o início.” 

O Papa Francisco reconheceu, ainda, que nem sempre suas decisões são bem recebidas em todo o mundo – algo que considera natural. Bispos das conferências episcopais do continente africano, por exemplo, determinaram que as orientações da Fiducia suplicans não serão aplicadas, e, em diálogo com o Dicastério, sinalizaram que outras medidas pastorais serão adotadas, mais adequadas ao seu contexto. 

“Quando você não gosta de uma decisão, vai conversar sobre suas dúvidas, leva adiante uma discussão fraterna”, afirmou o Papa. “O perigo é que uma coisa que eu não gosto seja colocada no coração e, assim, eu me torno uma resistência e faço conclusões ruins”, refletiu. 

O Bispo de Roma resumiu que acompanhar os casos mais complexos é parte “do trabalho pastoral da Igreja, algo especialmente importante para os confessores”. A reforma mais urgente da Igreja,  observou o Papa, é a “reforma dos corações, para todos os cristãos”. Enquanto as estruturas eclesiais podem ser reorganizadas, conservadas, atualizadas, os corações “devem ser reformados todos os dias”. 

Francisco observou que, por isso mesmo, pede orações para si. “Sou pecador e preciso da ajuda de Deus para permanecer fiel à vocação que Ele me deu”, disse. “Preciso de orações para que não deixe de ser pastor. O Senhor nos chamou para ser pastores de povo e, gosto de dizer, não um ‘clérigo de Estado’”.