Prefeitura, Plataforma Sinergia e Arquidiocese esclarecem ação para combate à fome

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Conversa com os jornalistas aconteceu na manhã desta quarta-feira, 18, na Cúria Metropolitana
Publicado em: 18/10/2017 - 19:00
Créditos: Redação

Diante das dúvidas e polêmicas surgidas após a promulgação, na semana passada, da lei municipal 16.704/2017, que implementa a Política Municipal de Erradicação da Fome e da Promoção Social dos Alimentos, aconteceu na manhã desta quarta-feira, 18, na Cúria Metropolitana, na zona Oeste da cidade, uma coletiva de imprensa para esclarecer os princípios dessa medida que busca evitar o desperdício de alimentos, desonerar o meio ambiente e contribuir para o combate à fome.

Compuseram a mesa de diálogo com os jornalistas o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano; o Prefeito João Doria; Dom Devair Araújo da Fonseca, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação; Heloísa Arruda, Secretária Municipal de Direitos Humanos e Cidadania; Carlos Camargo, da Cáritas Arquidiocesana; Franciane Lopes, nutricionista da Prefeitura de São Paulo; e Rosana Perrotti, fundadora da Plataforma Sinergia, organização que detém a tecnologia para a produção da Farinata, um farináceo feito a partir de alimentos aptos para consumo, mas que comumente são descartados pelas indústrias, supermercados e varejos.

Cardeal Scherer reitera atenção da Igreja ao combate à fome

Dom Odilo, o primeiro a falar na coletiva, disse que tomou ciência da tecnologia da Plataforma Sinergia para beneficiamento de alimentos que são destinados às pessoas mais vulneráveis da sociedade, apoiou a iniciativa, fazendo com que a Arquidiocese, a PUC-SP e a Cáritas colaborassem na elaboração, em 2013, de um projeto de lei que permitisse facilitar a doação de alimentos para a produção da Farinata. Ele lembrou que o projeto foi apresentado a diferentes instâncias do poder Legislativo e Executivo desde então.

O Arcebispo ressaltou as três motivações que fizeram com que a Arquidiocese incentivasse a Plataforma Sinergia: “A fome, o desperdício e a possibilidade de fazer algo para que isso não aconteça, levou a apoiar essa iniciativa apresentada por uma empresa que tem tecnologia, tem a possibilidade de recolher alimentos que iriam para o descarte, a fim de que se tornem novamente usáveis, mas de forma segura para quem os vai receber e de forma gratuita”, sintetizou, classificando o fato de as pessoas ainda passarem fome como um escândalo e lembrando que o desperdício de alimentos também redunda em prejuízos ambientais, como a emissão de gases quando há a incineração dos resíduos nos lixões.

Dom Odilo lamentou que a Farinata tem sido classificada por algumas publicações na imprensa e nas redes sociais como ração humana. “Eu fico ofendido quando comparam isso a ração para ser dada aos pobres, com desprezo ao pobre. Desprezo ao pobre é lhe negar o alimento, é a fome, é o acinte da insensibilidade diante da possibilidade de ele se alimentar quando o alimento existe e é descartado”, enfatizou, pedindo que haja uma avaliação serena sobre a proposta. “Quando se fica politizando a fome em vez de socorrer o pobre em sua fome, isso sim é ofensa ao pobre em sua dignidade”.

Em outro momento da coletiva de imprensa, o Arcebispo de São Paulo lembrou que o cenário ideal é que todas as pessoas possam fazer suas refeições de modo digno – “sentar a uma mesa, com toalha bonitinha, talheres, tudo muito bonito” – mas que diante de um cenário emergencial, a prioridade é pensar em formas de saciar o quanto antes a fome dos mais pobres.

Doria: Farinata será disponibilizada na rede municipal de ensino ainda este mês

O Prefeito de São Paulo iniciou sua fala aos jornalistas, lembrando que os alimentos a eles ofertados no café da manhã que antecedeu a coletiva de imprensa foram produzidos com a Farinata. “Posso assegurar a vocês que não comeram ração, mas alimento”.

Segundo Doria, o exemplo de São Paulo de apresentar uma legislação de combate à fome deve ser seguido por outras cidades. “São Paulo é a maior cidade do País, é o maior centro difusor, portanto, uma iniciativa que se propõe ao reaproveitamento de alimentos, numa cidade que contém o maior padrão de consumo, onde o desperdício é equivalente à dimensão da sua riqueza, tem a possibilidade de cooperar com esse alimento”, afirmou, mencionando, ainda, que por mês, apenas as feiras livres geram 4 mil toneladas de alimentos descartados.

Ainda segundo o Prefeito, “a Secretaria Municipal de Educação já foi autorizada a utilizar na merenda escolar, de forma complementar, o alimento solidário, com todas as suas características de proteína, vitamina e sais minerais, para a complementação da merenda já com neste mês de outubro”.

Em outro momento da coletiva, Doria disse que embora a nova legislação preveja possíveis isenções fiscais as empresas que façam a doação de alimentos, ele não pretende adotar tal dispositivo inicialmente

Rosana Perrotti: prioridade é o combate à fome e ao descarte de alimentos

Rosana Perrotti apresentou aos jornalistas dados que mostram a contradição entre a fome no mundo e o desperdício de alimentos: segundo ela, enquanto 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados no planeta, 1 bilhão de pessoas passam fome.

Ela pontou, ainda, que, por ano o custo, para o descarte de alimentos no lixo é de 750 bilhões de dólares em todo mundo, envolvendo gastos com logística, transporte, armazenagem e incineração. Nesse sentido, as empresas em vez de gastar com esse processo podem colaborar para custear os processos de beneficiamento de alimentos com a tecnologia da Plataforma Sinergia

“Sobre a lei agora em vigor em São Paulo, ela institui o direito fundamental à vida através da alimentação. Ela estabelece o ser humano em primeiro lugar a todo aquele alimento adequado, bom, seguro. Portanto, a lei em si já é suficiente para acabar com a fome no município, no estado, no Brasil, porque aquele alimento que está represado, que está na indústria, no supermercado se estiver bom já tem que ser destinado ao combate à fome”, detalhou.

Rosana garantiu que nenhum alimento impróprio para o consumo será transformado em Farinata e lembrou que a nova legislação municipal não obriga que as empresas do ramo alimentício repassem os alimentos que seriam descartados para a Prefeitura, mas sim que estão impedidas de descartar alimentos que ainda estão aptos para o consumo.

“A Farinata vai colaborar para que se utilize aquele alimento que está próximo do vencimento, mas ainda está absolutamente bom. Vamos prolongar a vida útil dele. Aqui no Brasil, pelo menos por dois anos, nós conseguimos prolongar a vida útil do alimento”, disse, garantindo que algumas indústrias já demonstraram interesse em colaborar com a iniciativa.

Rosana enfatizou, ainda, que a patente da Farinata destina-se exclusivamente para a produção de alimentos destinados ao combate à fome. “Vocês estão tendo uma inovação que a gente espera que inspire o Brasil e o mundo. Por[em, como vamos conseguir produzir em escala para conseguir colaborar para erradicar a fome? Somente através de uma politica publica, somente através de lei”, afirmou.

Complementando as explicações de Rosana, a nutricionista Franciane Lopes detalhou que a Farinata mantém todos os componentes nutricionais dos alimentos a partir da qual foi gerada. “É altamente nutricional. Vai ser balanceado, vai ter a rotulagem nutricional. É um produto que pode suprir a necessidade de uma pessoa, de uma criança que venha estar com fome. Claro que a gente não tem a intenção de só dar a Farinata. Sabemos que as pessoas precisam de alimento comum – arroz e feijão; a Farinata será um complemento a essa alimentação”.

A Secretaria Heloísa Arruda lembrou que o plano de atuação para a distribuição da Farinata está só no início, e que se juntará a outras ações, como a ampliação do banco de alimentos (que recolhe alimentos in natura que são entregues à população carente), das hortas urbanas, e da distribuição de alimentos orgânicos na merenda escolar. “A nossa prioridade é desenvolver um plano para a distribuição de alimento in natura para a população de São Paulo”, garantiu.