‘Eu estou aqui para servir’

A A
Em visita a São Paulo, em setembro, o Sacerdote, escritor, músico, compositor, cantor e apresentador foi entrevistado pelo Padre Cido Pereira, no programa “Construindo Cidadania”
Publicado em: 30/10/2018 - 17:30
Créditos: Redação

O Padre Reginaldo Manzotti está nas capas de livros, nas plataformas de música na internet, nas telas da tevê e em mais de 1,6 mil rádios em todo o Brasil, de segunda-feira a sábado, das 10h às 11h, com o programa “Experiência de Deus”. Ordenado sacerdote em 1995, ele fundou dez anos depois a associação Evangelizar é Preciso, com o objetivo de difundir a Palavra de Deus pelos meios de comunicação social.

Em visita a São Paulo, em setembro, o Sacerdote, escritor, músico, compositor, cantor e apresentador foi entrevistado pelo Padre Cido Pereira, no programa “Construindo Cidadania”, da rádio 9 de Julho, emissora que, além do “Experiência de Deus”, retransmite o “Terço das Santas Chagas”, das 15h às 15h30, de segunda a sexta-feira. A seguir, reproduzimos os principais trechos da entrevista, cuja íntegra pode ser lida em O SÃO PAULO.

 

COMO O SENHOR PERCEBEU QUE A SUA VOCAÇÃO MISSIONÁRIA SERIA DINAMIZADA PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO?

Padre Reginaldo Manzotti – Fui ordenado sacerdote em 1995. O então Papa, São João Paulo II, falava com muito entusiasmo para evangelizar com novo ardor, com novos métodos. Eu, recém-ordenado, me perguntava: “Meu Deus, eu terminei Filosofia, Teologia, mas não me ensinaram novos métodos, não me ensinaram a evangelizar”. Tenho uma vocação sacerdotal muito bem resolvida, compactada no meu coração, há 23 anos. Por essa minha vocação, me ofereceram uma missa de televisão em um canal público, e levar a Palavra de Deus teve uma repercussão grande. Também me ofereceram um programa na antiga rádio B2 , em Curitiba (PR), na parte da tarde, e eu percebi que era muito forte essa aceitação, bem como a necessidade do povo por uma orientação. Desde o princípio, o nome do programa foi o mesmo, “Experiência de Deus”, porque tenho muito essa preocupação catequética e espiritual. Mantenho o formato de leitura orante, escuta e aconselhamento. Com o tempo, falei: “Olha aí, estou encontrando a resposta a São João Paulo II”. Estou há 13 anos com esse programa de rádio, das 10h às 11h, para mais de 1,6 mil emissoras.

E O QUE TEM FACILITADO A EXPANSÃO DESSA REDE?

Primeiro, e mais fundamental, a comunhão com a Igreja. Eu nunca dei um passo sem que meu primeiro arcebispo, Dom Pedro Fedalto (hoje arcebispo emérito de Curitiba), depois Dom Moacyr Vitti, já falecido, e Dom José Antonio Peruzzo (atual Arcebispo de Curitiba) soubessem, tanto que foi Dom Peruzzo que oficializou a obra Evangelizar é Preciso. Então, há uma comunhão com a Igreja. Não é o Padre Reginaldo em si, mas aquilo que represento e busco: a obra da Igreja. Essa comunhão com a Igreja é fundamental para todos aqueles que querem avançar para águas mais profundas. Se nós não lançarmos a rede em nome de Jesus Cristo, a rede voltará vazia. Em segundo lugar, Deus quem foi preparando, por exemplo, a associação Evangelizar é Preciso, que é mantida por doações de todo o Brasil. Em consciência, eu usei a fama que os meios seculares me deram não para estrelismo pessoal, mas para fazer brilhar um projeto maior, que é o projeto da evangelização. Os nossos colaboradores são os associados que doam mensalmente, e não são fortunas doadas, pois eu digo que a Igreja é feita com a ideia dos ricos e o dinheiro dos pobres, ou seja, são doações, às vezes, até de R$ 3,00.

A IGREJA ESTÁ BEM SERVIDA QUANTO À EVANGELIZAÇÃO PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO?

Houve um período em que a Igreja, diante das dificuldades, quis abandonar os microfones, pois manter uma rádio não é barato, e uma televisão é ainda mais caro. Certa vez, Dom Orlando Brandes, hoje Arcebispo de Aparecida (SP), disse-me uma frase que me chamou muito a atenção: “A sua Catedral é maior do que a minha”, e depois completou: “O rádio, hoje, é uma catedral maior do que uma sede, uma cátedra”. E é verdade. A Igreja está bem servida. Temos de prezar muito pelo conteúdo. Queremos estar nas redes sociais, no rádio, na tevê, mas temos de zelar muito pelo conteúdo e jamais entrar na lógica do mundo, ou seja, da luta pelo Ibope, em conflitos internos. 

O SEU LIVRO “COMBATE ESPIRITUAL NO DIA A DIA” FOI O MAIS VENDIDO NO BRASIL EM 2017. EM UMA SOCIEDADE EM QUE NEM SEMPRE AS PESSOAS ESTÃO DISPOSTAS A LER, COMO O SENHOR CONSEGUIU CHEGAR A TAMANHO PÚBLICO?

Eu escrevo muito porque trabalho no rádio diariamente. O programa “Experiência de Deus” é muito assim: eu abro o microfone e sabe Deus o que vem. As pessoas têm coragem de partilhar muitas dores, e eu pego isso e vou depois meditar. Eu sou um homem de oração, não como deveria ser, mas eu procuro. Celebro a missa diária, rezo o Terço mariano e sou muito voltado à leitura orante. Então, os livros que escrevo são para dar respostas. Meu livro anterior, “Batalha Espiritual”, é fruto do meu direcionamento espiritual e fala de algo clássico na Igreja. O que surpreendeu foi esse tema tão antigo e tão esquecido da Sagrada Escritura ter uma aceitação tão grande. Penso que as pessoas estão se dando conta de que estamos em uma batalha que vai muito além de poderes econômicos e de interesses. É uma batalha entre o bem e o mal que age no coração e na sociedade. A Igreja está preocupada com o Brasil, que está sendo palco de uma grande batalha, em que se vê presente a violência. Não há só um problema econômico ou ético, existe um problema sobre o ser humano, a salvação e o fim último de todos nós. 

FALANDO AO BRASIL INTEIRO EM MAIS DE 1,6 MIL EMISSORAS DE RÁDIO, COMO O SENHOR MOTIVA QUE CADA BISPO OU PADRE SE APROXIME DA PRÓPRIA COMUNIDADE?

Os problemas mudam de sotaque, mas praticamente são os mesmos. As respostas têm de ser a partir de cada diocese. No final do sábado, eu sempre digo “amanhã, não deixe de ir à sua comunidade”. Na segunda-feira, eu pergunto “você foi à missa ontem?”. Além disso, eu leio muito os documentos da CNBB. Sendo fiel às diretrizes da CNBB, você acaba ajudando a todos. E eu sempre digo nos programas: “Vá falar com o seu vigário”. Certa vez, em Santa Catarina, um bispo me falou: “Obrigado pela sua presença na minha diocese pelo rádio, porque os padres estão dizendo que as pessoas estão procurando mais os sacramentos porque o senhor as tem estimulado”. Eu estou aqui para servir. Cedo ou tarde, o holofote muda, mas eu quero poder dizer como São Paulo: combati o bom combate, fiz a minha parte, dei a minha contribuição para a Igreja e não para mim mesmo. É por isso que não cobro shows ou outros eventos, e tudo que recebo com os livros vai para a obra Evangelizar é Preciso. Nós temos 10 mil crianças por mês, temos um hospital chamado Mater Dei e nós cuidamos também dos idosos. Em consciência, eu fiz questão de direcionar tudo isso para a Igreja.

PARA FINALIZAR, QUAL O SENTIMENTO DO SENHOR AO SABER QUE ESTÁ CONSTRUINDO UMA OBRA QUE PODE SER VISTA, OUVIDA, LIDA, SENTIDA, MULTIPLICADA?

Sinceramente, é muita responsabilidade. Faço tudo dentro das minhas limitações e tenho consciência de muitas coisas que poderiam ter sido melhores. O que me encoraja é algo que o Papa Francisco diz: ter uma Igreja em saída, uma Igreja que corre o risco de errar tentando acertar. Eu sempre digo a meu bispo: “Me corrija se eu errar, mas eu quero estar com a Igreja”. A sensação que eu tenho é que nós temos de ser entusiasmados. O Papa Bento XVI certa vez disse que só ficará um tipo de cristão: o apaixonado por Jesus. E a coisa que eu mais quero é que aqueles que escutam, que leem, que cantam comigo, que vão aos eventos de evangelização, fiquem extremamente apaixonados pela pessoa de Jesus Cristo. Se isso acontecer, acredito que terei feito o meu trabalho.