300 ANOS DE APARECIDA: História e símbolo - Pe. Reuberson Ferreira

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14/03/2017 - 18:00

No remoto ano de 1717, redes lançadas ao rio em meio às fadigas de um dia inteiro de trabalho, trouxeram imprevistamente à luz uma pequena imagem barroca da Imaculada Conceição. Ela estava enegrecida pelo contato com águas do Paraíba do Sul e, por antonomásia, intitularam-na de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Esse fato narrado de diversos modos traz em seu bojo elementos históricos, mas não só. O encontro da Imagem é profundamente paradigmático, simbólico e comprometedor.

O encontro da imagem da virgem Maria relatado do ponto de vista histórico, confere vida a uma ideia muito maior, traz um simbolismo profundo que se perpetua e se repete na história. Esse simbolismo que ele carrega certamente impulsionou condutas, determinou posições e orientou atitudes. Ainda hoje a flâmula desse evento histórico é marco  para despertar ações que podem aprofundar a devoção, forjar modos de viver e explicitar a fé em Jesus Cristo, por meio da virgem Maria.

Historicamente, recorda-se que houve muitos milagres atribuídos à virgem Maria, Nossa Senhora Aparecida. Eles, em si, além da história, carregam as marcas de um simbolismo maior que o próprio fato, o milagre. Quando se recorda, entre outros, o milagre do escravo Zacarias, liberto pela intercessão da virgem, simbolicamente nutre-se, para alguns, a imagem de um projeto de libertação sempre contínuo para a humanidade. Ao revisitar o fato da jovem menina que recobrara a visão ao contemplar a Igreja antiga de Aparecida, alimenta-se o imaginário, entre outros, de descortinar o horizonte  de um futuro melhor, de olhar para uma realidade nova, justa e igualitária entre os homens. Portanto, os milagres da Virgem de Aparecida, foram historicizados, testemunhados, mas carregam em si um carga simbólica que deve  movimentar, conduzir e animar a fé.

 Nessa mesma perspectiva encara-se as romarias ao Santuário de Aparecida. Elas são um perene movimento de caminhada a um templo localizado no norte Paulista. São históricas, datadas, determinadas, plausíveis de quantificação e tipificação. Elas, contudo, no imaginário de alguns, suscitam simbolicamente uma ideia mais ampla. A clareza de que a humanidade, mesmo que em passos lentos, deve caminhar em direção à cidade eterna, a Jerusalém celeste e construir a cada passo o Reino desejado por Deus para a  humanidade.

Assim, ao celebrarmos os trezentos anos do encontro da imagem de Aparecida comemora-se um fato histórico. Roga-se, porém que essa celebração ateste ainda mais o simbolismo dessa pequenina imagem para fé Cristã-católica. Que ela continue a resplandecer na vida e na história do povo o desejo de construção de uma sociedade livre,  igualitária e justa. Que ela inspire  homens e mulheres a apresentarem aos seus pares um novo horizonte, a deslumbrarem uma honesta e comprometida compaixão, sobretudo, pelos pobres, frágeis e esquecidos.