Alegrai-vos no Senhor...

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07/02/2018 - 12:30

A alegria não se opõe à vida cristã, mas, antes, ela é um elemento constitutivo e integrante da vida dos discípulos de Jesus. Não valeria muito testemunhar a fé, se isso não tivesse uma característica alegre. De fato, a palavra de Jesus produz efeitos, e um deles é a alegria da vida simples, em comunidade, e do testemunho da Boa Nova em toda parte. Os que creem no Cristo tem a alegria que vem do Espírito e, por isso, suportam as provações e enfrentam os desafios da vida, com temor a Deus e sem medo. 

Essa alegria não é um entusiasmo passageiro, que nasce de motivações externas e provisórias e que acaba em desolação e sentimento de vazio. A alegria cristã é espiritual e motivada pela verdade que liberta a pessoa humana de todos os enganos diabólicos e do mal que o pecado provoca. Os que aceitam essa verdade sentem-se abençoados pelo Pai, comungam da missão do Filho e se deixam iluminar pelo Espírito, e, nisso, reside a alegria plena e duradoura. Exatamente por estar em sintonia com o Filho é que os discípulos sabem que a alegria não é uma exclusão da cruz, pois foi nela que o Senhor revelou o amor do Pai. Foi São Paulo que, no seu ministério e pregação, anunciou a beleza e a realidade dessa certeza de fé, quando escreveu: “Somos vistos como tristes e, no entanto, estando sempre alegres...” (2Cor 6, 10).

Por isso, a alegria cristã preenche e transborda do coração dos filhos de Deus, espalhando-se por toda parte. Essa alegria é ponto forte e visível na liturgia, mas não se restringe a ela. “Ora, isto obriga cada um dos discípulos de Cristo a conferir, também, aos outros momentos do dia passados fora do contexto litúrgico — vida de família, relações sociais, horas de diversão —, um estilo tal que ajude a fazer transparecer a paz e a alegria do Ressuscitado no tecido ordinário da vida” (Dies Domini, 52). 

De Deus procedem as alegrias mais altas, que são boas e sadias, e Ele as oferece ao homem com grande generosidade. Deus criou todas as coisas na sua bondade e dispôs que o homem delas se servisse, mas, por causa do pecado, também a obra criada geme e sofre (cf. Rm 8, 22). Por conta dessa consequência do pecado, é que o cristão deve se colocar uma questão fundamental e que exige um discernimento sobre o que lhe convém ou não e de como ele busca encontrar a alegria. Novamente, é São Paulo que nos ajuda dizendo que “a mim tudo é permitido, mas nem tudo me convém. A mim tudo é permitido, mas não me deixarei dominar por coisa alguma” (1Cor 6, 12). Nesse caso, o que dizer sobre o carnaval ou sobre outras festas?

Fazer festa é algo que faz parte da vida das pessoas, e há diversos motivos para festejar. Muitas coisas fazem parte da festa, e a alegria é um elemento fundamental, além das comidas e bebidas, da música e da dança, das roupas, dos jogos e divertimentos. Mas o conjunto desses elementos pode sofrer um desvio quando se busca a alegria a qualquer custo, usando recurso ilícitos como as drogas, o álcool, ou ferindo a dignidade de outras pessoas. É nesse momento que se exige, da consciência cristã, uma postura e um discernimento claro que leve a pessoa a buscar e encontrar a alegria verdadeira, sem precisar de máscaras ou fantasias artificiais.

Na realidade, só existe condenação e rejeição para a alegria falsa e perversa, “dos que se alegram fazendo o mal e se comprazem com os disparates” (Pv 2, 14); na alegria má que a infelicidade do outro provoca: “Fiquem envergonhados e frustrados os que se alegram com minha desgraça” (Sl 35, 26). Se tudo podemos, mas nem tudo nos convém, resta-nos a tarefa de ouvir o Espírito para discernir e escolher o que nos convém, evitando a escravidão dos sentidos. Mais que um direito, a alegria é uma tarefa, uma busca e uma responsabilidade na vida cristã. Cabe a nós fazer as escolhas que nos levem às alegrias eternas.

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo Auxiliar sa Arquidiocese na Região Brasilândia
e Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação