A ascese cristã e a preservação do planeta

A A
27/01/2015 - 00:00

Continuando nossas reflexões acerca da ascese cristã, vamos, neste artigo, abordar a relação entre ascese e relacionamento com o meio ambiente. Pois bem, temos consciência que nossa vida é um processo contínuo de conversão, de luta cotidiana contra o pecado. Infelizmente, conhecemos, e bem, o poder destruidor do pecado; e como ele destrói, além de nós, seres humanos, o nosso planeta, degradando os bens da natureza. Por isso, “a criação geme como em dores de parto” (Rm 8, 22), clamando por cuidados com seus distúrbios climáticos. É, portanto, parte integrante do discipulado cristão um relacionamento equilibrado com o meio ambiente. Aliás, é uma dimensão da ascese cristã.

O uso das realidades criadas para o nosso sustento e sobrevivência é imprescindível. Porém, é necessário resgatar a sobriedade no consumo dos bens necessários à vida e evitar os desperdícios e degradações do ecossistema. Nossa sociedade contemporânea, em função de um desmedido consumismo, perdeu a sabedoria da vida simples. O “homo sapiens” tornou-se “homo consumens”. Desde muito cedo, as pessoas são orientadas a se tornarem grandes consumidoras, muitas vezes perdendo a capacidade de discernir entre o necessário e o supérfluo. Uma vez formado esse “homo consumens”, suas necessidades se tornam cada vez maiores. Para ele, o supérfluo torna-se conveniente, e o conveniente, necessário. Portanto, ao “homo consumens”, egocêntrico e compulsivo pelo ‘ter’ mais do que pelo ‘ser’, escravo das necessidades, se faz necessário, através de uma sadia ascese, contrapor o “homo serviens”, isto é, o homem disposto a fazer de sua existência um serviço de amor ao próximo e à natureza, capaz de cultivar com alegria um estilo de vida simples, solidário e comprometido com a vida no planeta.

Há pouco tempo, mais precisamente durante o ano de 2011, a Campanha da Fraternidade, abordou a preservação do meio ambiente, com o tema “Fraternidade e a Vida do Planeta”. Naquele ano, o manual da CF apresentou algumas atitudes simples, que servem de referência para o processo ascético de transformação do “homo consumens” em “homo serviens”. Essas atitudes foram denominadas de os “dez mandamentos do amigo do planeta”. São eles: só jogue lixo no lugar certo; poupe água e energia; não desperdice; proteja os animais e as plantas; proteja as árvores; evite poluir seu meio ambiente; faça coleta seletiva do lixo; só use produtos biodegradáveis; conheça mais a natureza; enfim, participe ativamente do esforço pela preservação de nosso planeta (cf. Manual da CF 2011, pp. 207-212).

Portanto, cuidar bem da natureza é parte integrante do processo de santificação; é missão de todo cristão!

 

Dom José Roberto Fortes Palau
Bispo Auxiliar de São Paulo