A Família no Plano de Deus

A A
30/10/2015 - 08:45

Jesus viveu em tudo a condição humana, menos o pecado. E ao experimentar tudo aquilo que é próprio da condição humana, naturalmente, Jesus vivenciou a realidade familiar. Aliás, a família foi a primeira realidade humana que Jesus santificou. Seu coração aprendeu a amar sua família: José e Maria!

E ao abordarmos a família, temos a oportunidade de refletir sobre os principais valores que sustentam uma família: o “amor conjugal” e o “amor pais-filhos”. São Paulo ilustra bem esta realidade na Carta aos Colossenses: “Esposas, sede solícitas para com vossos maridos, como convém, no Senhor. Maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros com elas. Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isso é bom e correto no Senhor” (Cl 3, 18-20).

Analisemos, num primeiro momento, a relação “marido-esposa”. São Paulo recomenda ao marido amar sua esposa, e acrescenta: ‘quem ama, não é grosseiro’. Abro aqui um adendo para melhor compreendermos o que a Igreja entende por ‘amor conjugal’. Na celebração do matrimônio, os nubentes, de mãos dadas, olhando um para o outro, realizam o seguinte juramento: “Eu, te prometo ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te, todos os dias de minha vida”.

“Eu te prometo”, ou seja, “eu quero”. Eu vou empenhar minha vontade, para juntos construirmos uma família, para juntos realizarmos um projeto comum. Se necessário, vou me sacrificar para o bem de meu cônjuge. O amor conjugal é o amor que vence os interesses individuais, que rompe os limites do amor a si próprio e busca o bem do cônjuge e dos filhos. Não é o amor que se limita apenas às paixões passageiras.

A oração do consentimento matrimonial diz: “Eu te recebo como meu marido (ou como minha esposa)”. Dizer “eu te recebo” é o mesmo que dizer “eu te acolho em minha vida”, eu te acolho com tuas alegrias e tristezas, eu te acolho com tuas fraquezas e com tuas necessidades; enfim, “eu te acolho como és”. De modo semelhante, os índios ianomâmi, da Amazônia, dizem “uma parte de você entrou em mim, vive em mim e cresce em mim”.

A sadia relação “pais-filhos” é o outro pilar da vida familiar. O livro do Eclesiástico apresenta uma síntese de indicações práticas que os filhos devem ter em conta nas relações com os pais. Umapalavra se sobressai no texto do Eclesiástico: o verbo “honrar”. Este verbo leva-nos aos dez mandamentos (cf. Ex 20, 12), onde aparece no sentido de “dar glória”. Dar glória a uma pessoa é dar-lhe toda sua importância; “dar glória aos pais” é, assim, reconhecer sua importância como cooperadores de Deus na sublime missão de gerar e defender a vida. É, enfim, reconhecer que os pais constituem a fonte, através da qual Deus nos dá a vida; esse reconhecimento deve conduzir-nos à gratidão. Gratidão que se expressa através de gestos concretos, tais como: ampará-los na velhice; assisti-los materialmente quando já não podem trabalhar (cf. Mc 7, 10-11); escutá-los com carinho e paciência, levando em conta suas orientações e conselhos; ser indulgente para com as limitações que a idade traz.

Para terminar, a experiência familiar de Jesus nos ensina ainda que toda família é depositária do ‘Mistério da Vida’. José e Maria acompanharam, com solicitude, todas as etapas do crescimento de Jesus; propiciaram tudo aquilo que Jesus necessitava para crescer em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens. Defender e conduzir os filhos no percurso da vida é a missão primordial da família cristã.