"Corpus Christi" Pão partido para a vida do mundo.

A A
04/06/2015 - 18:00

Na “Quinta-Feira Santa” celebramos a instituição da eucaristia. Hoje, “Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo”, expressamos publicamente nossa fé na presença real de Cristo na Santíssima Eucaristia. Cristo passa por ruas de mais de mil anos; Cristo passa por ruas recém-abertas; Cristo passa pelo centro de vilas rurais; Cristo passa pela avenida das grandes cidades. Cristo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13, 8), no meio da geografia e da história humana: “Estarei convosco até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).

“Há dois mil anos – escrevia o Papa João Paulo II na Bula de abertura do Ano santo de 2000 – a Igreja é o berço no qual ‘Maria’ depõe Jesus e o confia à adoração e contemplação de todos os povos” (n. 11). A palavra “berço” indica a permanente atualidade do Cristo e o rejuvenescimento de sua missão. Mudam os tempos, sucedem-se as gerações, criam-se novos ritos e o Cristo permanece o mesmo, vivo e verdadeiro Deus no meio da humanidade.

A solenidade de hoje tem um objetivo bastante preciso: nós, católicos, acreditamos firmemente que Jesus Cristo Ressuscitado está presente, com seu Corpo e Sangue, no “pão e vinho eucaristizados”. E que a presença do Senhor “permanece”, enquanto o “pão eucaristizado” não perde suas propriedades originais.

Assim que os cristãos puderam construir lugares de culto (Igrejas), surgiram também os primeiros sacrários para conservação das “espécies eucarísticas”. A eucaristia era guardada no “tabernáculo”, para posteriormente ser levada aos doentes. Não se tratava ainda de um culto organizado à eucaristia fora da Missa. A adoração ao Santíssimo Sacramento somente se desenvolveu a partir do século XI, como resposta à controvérsia levantada por um monge chamado “Berengário de Tours”.

Berengário de Tours ensinava que a eucaristia era somente o “símbolo do Corpo e Sangue de Cristo” (transignificação). O magistério eclesiástico reagiu com rapidez e firmeza reafirmando a doutrina de que após a “consagração”, as espécies do pão e do vinho se transformam substancialmente (transubstanciação) no Corpo e Sangue de Cristo. A presença de Jesus na eucaristia é “real”, jamais simbólica!

No entanto, essa controvérsia provocada pelo monge Berengário teve um lado positivo: contribuiu para o desenvolvimento da devoção eucarística. A partir de então, a Igreja passou a incentivar os fiéis a adorarem Jesus presente na eucaristia. Em 1196, o bispo de Paris, Mons. Eudes de Sully, determinou que os sacerdotes de sua Diocese elevassem a hóstia após a consagração, para que o povo pudesse “ver” e “adorar” Jesus na eucaristia. Também nesta época surgiu o costume de se 1 tocar o sino durante a consagração. A elevação do cálice foi um pouco mais tarde, por volta do século XIII.

Todavia, a primeira Solenidade de “Corpus Christi” aconteceu na Bélgica, em 1246. O Papa João XXII gostou da iniciativa dos belgas e estendeu, em 1316, essa Solenidade para toda a Igreja. O formulário da Missa anexo à Bula Pontifícia foi composto por Santo Tomás de Aquino. A antífona de entrada e as três orações (coleta, sobre as oferendas, e pós-comunhão) são as mesmas da Missa de hoje.

 “Corpus Christi” é uma festa singular e constitui um encontro importante de fé e de louvor para cada comunidade cristã. É uma festa que nasceu com a finalidade de reafirmar abertamente a fé do Povo de Deus em Jesus Cristo vivo e realmente presente no santíssimo Sacramento da Eucaristia. É uma festa instituída para adorar, louvar e agradecer publicamente ao Senhor.

Os Apóstolos receberam de Jesus o dom da Eucaristia na intimidade da “Última Ceia”, mas este dom destinava-se a todos, ao mundo inteiro. Eis por que deve ser proclamado e exposto abertamente, para que todos possam encontrar “Jesus que passa” como acontecia pelas estradas da Galiléia, da Samaria e da Judéia; para que todos, recebendo-o possam ser curados e renovados pela força do seu amor.

 Se na Quinta-Feira Santa é ressaltado o vínculo estreito que existe entre a Última Ceia e o mistério da morte de Jesus na cruz, hoje, festa do “Corpus Christi”, com a procissão e a adoração da Eucaristia chamamos a atenção sobre o fato de que Cristo se imolou pela humanidade inteira. A sua passagem pelas ruas de nosso bairro é para todos que aqui habitam uma oferenda de alegria, de vida imortal, de paz e de amor.

Ainda hoje, Cristo continua a exortar os seus discípulos a comprometerem-se em primeira pessoa. Portanto, a Eucaristia é uma chamada à santidade e à doação de si aos irmãos, porque “a vocação de cada um de nós é ser, juntamente com Jesus, pão partido para a vida do mundo”. Assim seja!