Do medo à confiança

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21/06/2015 - 09:00

12º DOMINGO DO TEMPO COMUM - homilia.

Domingo passado, o evangelho de Marcos foi uma catequese sobre os temas da paciência e da perseverança (cf. Mc 4, 26-34). Hoje, mais uma vez, Marcos nos oferece uma nova catequese; agora, sobre o tema da confiança em Deus. Ele quer suscitar em seus leitores o mesmo questionamento que brotou dos discípulos, após a experiência da tempestade acalmada: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (Mc 4, 40b). O mesmo questionamento deve brotar de nosso íntimo: “Eu confio em Jesus?”.

O evangelho de hoje é repleto de elementos simbólicos: o mar; a noite; a tempestade; o barco; o sono de Jesus; e a ‘outra margem’. Esses elementos são fundamentais para ajudar-nos a responder a pergunta acerca da identidade de Jesus e sua importância para nossa vida. Vamos analisá-los detalhadamete:

a) Mar: na mentalidade do antigo oriente, é um dos mais fortes inimigos de Deus, pois nele habitavam monstros. O mar era um símbolo das forças do mal. Ambiente hostil, adverso, repleto das forças que lutam contra Deus e a felicidade do ser humano. Só Deus é capaz de dominar o mar. Isto fica muito patente pela primeira leitura, tirada do livro de Jó: “Até aqui chegarás, e não além; aqui cessa a arrogância de tuas ondas (...)” (Jó 38, 11).

b) Noite: simboliza o tempo das trevas; elemento ligado ao medo. Mar e noite definem uma realidade de dificuldades e hostilidades.

c) Tempestade: o chamado ‘Mar da Galiléia’ ou ‘Lago de Tiberíades’, era um grande lago de água doce, alimentado pelo rio Jordão, e abaixo do nível do mar Mediterrâneo. Esta depressão geográfica tornava o lago palco de tempestades súbitas e fortíssimas, quando acontecia o encontro dos ventos que vinham do mar Mediterrâneo e os que sopravam do deserto da Síria. Mas além dos fenômenos metereológicos, Marcos quer ressaltar as tempestades que assolam a jovem Igreja de Jesus Cristo, que enfrentava uma grande
‘tempestade’: as perseguições de Nero.

d) Barco: símbolo da comunidade cristã. Jesus está sempre presente no barco da Igreja; ele nunca nos abandona, é necessário remar sempre, mesmo quando o barco de nossa vida ‘parecer afundar’. Confiança é a palavra de ordem!

e) Sono de Jesus: é imagem de sua morte. Segundo Marcos, Jesus foi despertado pelos discípulos. Despertar é o mesmo verbo que Marcos empregará para falar da ressurreição: Jesus foi ‘despertado’ dentre os mortos (cf. Mc 16, 6b). Jesus entrou no sono da morte, onde parece que não se ouve mais nada, onde o próprio Deus parece dormir, indiferente aos males da humanidade: “Mestre estamos perecendo e tu não te importas?” (Mc 4, 38b). Mas Deus em Jesus, junta-se à nossa experiência de vida, experimenta as nossas
tempestades, as nossas mortes, para aí colocar sua presença, mais forte que todas as trevas.

f) Outra Margem: para a terra dos pagãos. Simboliza o trabalho missionário. Mas no contexto deste evangelho simboliza também, e especialmente, a passagem do ‘medo’para a ‘confiança’ em Jesus.

Jesus sempre está no barco de nossa vida. Sua presença é mais forte que todas as tempestades e trevas. Confie, e não se arrependerás. Amém.