O milagre da partilha

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27/07/2015 - 13:30

17° DOMINGO DO TEMPO COMUM - Homilia.

A multiplicação dos pães é apenas um sinal que acompanha e dá credibilidade à missão de Jesus. Tanto que Jesus não ficou multiplicando os pães continuamente. O fez uma só vez. O milagre deu autoridade às suas palavras. Por isso, João chama de sinal, pois é preciso ir além do fato em si, para compreender sua mensagem. O ‘fato miraculoso’ é apenas instrumento para uma mensagem permanente: é preciso ter a coragem de partilhar! Detalhe fundamental: o primeiro que pensa na fome daquela gente que foi escutá-lo é o próprio Jesus. Este povo necessita se alimentar; tem de se fazer algo por aquelas pessoas. Assim era Jesus. Vivia pensando nas necessidades básicas do ser humano. Filipe faz-Lhe ver que não têm dinheiro (cf. Jo 6, 7). Os discípulos, em sua maioria, são pobres: não podem comprar pão para tamanha quantidade de pessoas. Jesus sabe disso. Os que têm muito dinheiro não se interessam em resolver o problema da fome no mundo. É necessário algo mais do que dinheiro. É necessário a solidariedade!

Os três evangelhos sinóticos acrescentam um pedido incisivo de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16b; Mc 6, 37b; Lc 9, 13a). Era, sem dúvida, mais cômodo mandar a multidão embora. Foi o raciocínio objetivo dos discípulos; afinal de contas, não era obrigação deles alimentar toda aquela multidão, sedenta e faminta. A partir da intervenção de André, que disse que ali havia um menino com cinco pães e dois peixes (cf. Jo 6, 8-9), Jesus faz o mais importante. Não manda ‘chover’ pão do céu, nem manda que cada um se ‘arranje’. Não é esta a proposta cristã. Ele perguntou aos discípulos o que eles tinham; “convidou-os a compartilhar o ‘pouco’ de que dispunham na ocasião”. Assim, Jesus realiza o sinal da partilha e da fraternidade, marca distintiva do cristianismo.

A fome no mundo não será resolvida com constantes milagres, mas pelo corajoso e generoso gesto de partilhar o que temos. Aliás, um dos efeitos da conversão ao evangelho manifesta-se na disposição à partilha. Esta só é possível quando se supera o egoísmo e a pessoa carente se torna uma “interpelação” diante da qual não se pode ficar insensível. A principal mensagem do evangelho de hoje é que Deus serve-se das pessoas para agir no mundo; é somente através da boa-vontade de cada um de nós que o pão de cada dia tornar-se-á, de fato, uma realidade na mesa de muita gente, que sequer tem o mínimo para viver com dignidade.

Deus precisa de nós, da nossa generosidade para ir ao encontro dos necessitados. É interessante observar que o evangelho termina ressaltando que os discípulos recolheram os restos que sobraram. Nada deve se perder. A tarefa dos discípulos de Jesus é uma tarefa nunca acabada, que deverá recomeçar em qualquer tempo e em qualquer lugar onde haja alguém com fome.

Outra mensagem presente no evangelho de hoje: a forma como o texto descreve a multiplicação dos pães e dos peixes – “Jesus tomou os pães, deu graças e distribui-os (...)” (Jo 6, 11) – sempre recordou a multiplicação desse outro pão que é o “Corpo de Cristo”. Por este motivo, as representações mais antigas da Eucaristia nos mostram um cesto com cinco pães e, ao lado, dois peixes, como na famosa pintura das “catacumbas de Priscila”, em Roma. A multiplicação dos pães é “figura da eucaristia”. O profeta Eliseu com vinte pães alimentara cem pessoas (cf. 2Rs 4,42-44). Jesus, com cinco pães, alimenta cinco mil. Com a eucaristia, seu próprio Corpo e Sangue, alimenta a todos, em todos os tempos e lugares. O pão eucarístico, faz mais que matar a fome física: garante a vida eterna!

Ainda, a eucaristia realiza o ‘milagre’ da multiplicação de outro pão, que é a “Palavra de Deus”. Quando o sacerdote parte e distribui o pão da palavra, na celebração eucarística, muitos se alimentam e ficam saciados. Porém, ainda resta uma tarefa, que cabe a todos que participam da missa: recolher os pedaços que sobraram, ou seja, fazer a Palavra chegar também a quem não participou do banquete. Converter-se em repetidores e testemunhas da mensagem do evangelho. Assim seja!