Vida Consagrada: Sinal de Misericórdia Divina no Mundo

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23/03/2015 - 00:00

V Domingo da Quaresma: “Vida consagrada: sinal da misericórdia divina no mundo”
(22 de março de 2015)

“Senhor, queremos ver Jesus!” (Jo 12, 21). Quem faz este pedido são gregos, convertidos ou simpatizantes do judaísmo. Estes peregrinos manifestam um desejo denso de significado missionário: queremos ver Jesus, não para dar-lhe uma saudação fugaz, mas para conhecê-lo mais profundamente, colher e assimilar sua mensagem de vida.Porém, para chegar até Jesus eles precisam de guias, de pessoas que os conduzam até o mestre. É indispensável gente disponível para essa tarefa!

Porém, não bastará uma resposta teórica, ou a repetição de uma fórmula, para conduzir as pessoas até Jesus. A resposta missionária deve partir de um conhecimento íntimo, profundo do Senhor. O Documento de Aparecida é enfático: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida (…)” (DA n. 243). Ou seja, só nos tornamos cristãos após um encontro de fé com a pessoa de Jesus. O evangelista São João relata o impacto que a pessoa de Jesus produziu nos primeiros discípulos que o encontraram: “Mestre, onde moras? Ele (Jesus) respondeu: vinde e vede! (Eles) Foram, viram onde moravam e permaneceram com ele aquele dia. Era por volta das quatro horas da tarde” (Jo 1, 38b-39). São João nunca mais esqueceu aquele dia; não esqueceu nem mesmo o horário do encontro com Cristo (…)!

Hoje, podemos levantar a mesma pergunta de João e André: “Mestre, onde moras”? Ou melhor, “quais são os lugares, as pessoas, que nos falam de ti, que nos colocam em contato contigo e permitem que nos tornemos teus discípulos”?

O lugar, por excelência, do encontro com Cristo é a Igreja. É o que, justamente, nos pede o Papa Francisco em sua mensagem, deste ano, para a Quaresma: que a Igreja seja uma ilha de misericórdia num mar de indiferença! E como, consagrados e consagradas, temos uma missão urgente e insubstituível: testemunhar a misericórdia divina num mundo ferido pela desconfiança, pela indiferença, pela ganância e pelo individualismo. Temos a missão de levar a tantas pessoas feridas neste mundo, a alegria do evangelho. Mostrar que é possível viver de um modo diferente. E nosso testemunho precisa ser “atraente”.

Somo seguidores de Jesus. E seguir a Jesus significa assumir suas causas, adotar suas atitudes, viver, enfim, segundo os valores do evangelho; ter o mesmo “Coração de Cristo”, isto é, ver e julgar a realidade em que vivemos a partir dos mesmos critérios de Jesus. Tem uma música do Pe. Zezinho, que diz assim: “Amar como Jesus amou, viver como Jesus viveu, sentir como Jesus sentia. E ao chegar ao fim do dia eu seu que eu dormiria muito mais feliz (…)”. Mas para que isso, de fato, aconteça, precisamos purificar o nosso coração; é o que pedimos no salmo responsorial: “Criai em mim um coração que seja puro” (Sl 50[51], 12).

A “pureza de coração” é uma das bem-aventuranças: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8). É preciso ter um coração semelhante ao de Cristo. Ou, como afirma São Paulo: “tende em vós, os mesmos sentimentos de Cristo”. Fazemos nossa parte (ascese), mas quem transforma nosso coração é a graça divina. É a profecia de Ezequiel (primeira leitura): “(…) imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de inscrevê-la em seu coração (…)” (Ez 31, 33b). É a missão do Espírito Santo: gerar Cristo em nós!

O coração de Cristo é o símbolo máximo da ternura divina. O coração de Cristo é manso, ou seja, é pura ternura, pois experimentou profundamente a dor humana (segunda leitura/ Hb 5, 7-9). Por isso, é capaz de compadecer-se das nossas fraquezas. A mansidão é virtude própria daqueles que não se deixam tomar pelos “entusiasmos passageiros” nem se deixam cair na “depressão” perante as dificuldades. A mansidão é própria daqueles homens e mulheres que gozam da intimidade com Cristo, que se mantém serenos, em qualquer circunstância da vida. A mansidão deve ser a marca registrada dos consagrados e das consagradas. O mundo espera isso de nós!

Jesus, manso e humilde de coração, fazei de nós, consagrados e consagradas, mensageiros do vosso amor, mensageiros da paz, da esperança e da misericórdia! Amém!