A fé supera a razão, mas não a destrói

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06/11/2013 - 00:00

Prezado Leitor do Jornal O São Paulo, quem crê pensa. E pensando acredita. Evidentemente há muitas coisas na fé que causam dificuldade, pois ela nos remete a realidades que transcendem o mundo das coisas, das evidências científicas, do utilitarismo redutivo, do imediatismo eficientista. Além disso, ela nos chama a atitudes e comportamentos que nem sempre estão na moda e vão contra o senso comum do egoísmo. Em situações limites, pode inclusive conduzir a pessoa a sacrifícios muito grandes, a renúncia de amores menores por um amor maior.

Qualquer que seja a situação, os cristãos precisam se explicar: por que você age assim? Por que você não se enquadra? Em suma, por que você crê? Essa cobrança não é necessariamente negativa, uma vez que o cristão deve também responder a si mesmo: por que eu creio? De fato, o cristão deve estar sempre pronto a dar as razões da sua fé.

O esforço de dar as razões da sua fé nem sempre é uma empresa fácil, mas é ela que nos permite dialogar com os que não partilham as mesmas convicções. Trata-se de uma responsabilidade que faz o cristão dialogar não para ter razão, mas para mostrar as razões.

Mesmo que a fé não seja produto da razão humana, o mistério da encarnação revela que Deus vem ao encontro do homem e lhe fala como a um amigo (cf. DV 2) e não como um tirano que coage.

O cristão, portanto, sempre se pergunta se o conteúdo de sua fé é aceitável e inteligível, e, ao mesmo tempo, se pode encontrar na história indícios que o ajudem a aceitar essa irrupção de Deus que deu origem a um novo ser e a uma vida nova. Ele se pergunta também se é possível encontrar na revelação bases certas e suficientes para poder correr o risco da fé.

Refletir sobre o motivo de crer significa, portanto, arrancar a fé do mundo do arbitrário, do absurdo e do subjetivismo desvairado. Crer tem uma coerência com a estrutura humana, racional e livre, e, por isso, tal ato pode passar pelo crivo da racionalidade concreta, histórica e prática. A fé supera a razão, mas não a destrói. A fé não é fruto da razão, mas o dom de Deus não a paralisa. A fé transcende a razão e por isso mesmo a estimula, a eleva e, em muitos casos, a pode salvar.

A fé supera a razão, mas não a destrói