A Revelação divina e a fé

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20/03/2014 - 00:00

Querido Leitor do Jornal O São Paulo, na semana passada demonstramos que a  revelação bíblica está profundamente radicada na história, hoje vamos refletir sobre o fato de que a Revelação divina é uma iniciativa amorosa de Deus com a finalidade de estabelecer com o ser humano uma comunhão de vida. Deus vem ao nosso encontro como amor que se propõe, como liberdade que se oferece, como graça que quer fazer de nós os interlocutores de um diálogo de amizade. Portanto, é a própria revelação divina que reclama a livre e responsável resposta do homem, resposta essa que nós chamamos de fé.

Leiamos juntos dois parágrafos do catecismo que mostram essa correspondência entre revelação de Deus e fé humana.

142. Pela sua revelação, «Deus invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e os admitir à comunhão com Ele» (DV 2). A resposta adequada a este convite é a fé.

143. Pela fé, o homem submete completamente a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o homem dá assentimento a Deus revelador (cf. DV 5). A Sagrada Escritura chama «obediência da fé» a esta resposta do homem a Deus revelador (cf. Rm 1,5; 16,26).

A fé consiste no “escutar” a palavra da pregação que nos conduz à “obediência da fé”. Vice-versa a obediência da fé leva à escuta da pregação. Para chegar à fé não basta um processo reflexivo puramente racional, mas é necessária uma conversão interior. Por isso, pode-se dizer que a fé é ato da vontade, uma atividade do homem que livremente se submete à vontade divina e que se entrega pessoalmente a Deus. Essa entrega confiante compromete o homem todo. Com a fé a pessoa humana se entrega confiantemente ao Deus que se revela. A fé é a resposta afirmativa, amorosa e acolhedora, é o consciente e responsável abandono de si a Deus. 

A obediência da fé pode ser também descrita como opção fundamental, que é uma decisão total que empenha a liberdade do homem. A opção fundamental é uma opção absoluta, ou seja, ela torna o resto relativo: é opção absoluta não por ser fanática, mas porque ela unifica toda a existência; dá sentido aos nossos atos e atitudes; tem momentos fortes, mas não se esgota neles; é definitiva, não provisória, mas pode progredir ou regredir. 

A fé é uma atitude pessoal que imprime uma orientação nova e definitiva à vida do homem; surge no mais profundo da sua liberdade uma vez que o ser humano é internamente convidado pela graça divina. A fé abrange toda a pessoa humana, em sua inteligência, vontade e ação, por isso, ao aceitar as exigências de Deus, o homem não vê nelas mandamentos impostos, mas o convite a uma coerência na vida.

A fé obriga em consciência quem a abraça, mas não destrói a sua liberdade, antes a manifesta, a expressa e a eleva.

 

Artigo publicado no Jornal O São Paulo desta semana

A  Revelação divina e a fé