CRER É TOMAR PARTE EM UMA CONVICÇÃO COMUM

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15/05/2014 - 00:00

Querido leitor do JORNAL O SÃO PAULO,  continuando a reflexão sobre a fé podemos afirmar que o sujeito da fé é tanto a pessoa que crê quanto a Igreja quando professam: “eu creio ou nós cremos”

A fé é aquilo que uma pessoa tem de mais pessoal, mas não é um assunto privado. Quem deseja crer tem de poder dizer tanto “eu” como “nós”, pois uma fé que não possa ser partilhada e comunicada seria irracional. Cada crente dá o seu consentimento ao Credo da Igreja.  Dela recebeu a fé. Foi ela que, ao longo dos séculos, lhe transmitiu a fé, a guardou de adulterações e a clarificou constantemente. Crer é, portanto, tomar parte numa convicção comum. A fé dos outros transporta-me, como também o fogo da minha fé incendeia os outros e os fortalece (Youcath, p. 24).

De fato, “a fé é um ato pessoal, uma resposta livre do homem à proposta de Deus que Se revela. Mas não é um ato isolado. Ninguém pode acreditar sozinho, tal como ninguém pode viver só. Ninguém se deu a fé a si mesmo, como ninguém a si mesmo se deu a vida. O crente recebeu a fé de outros; deve transmiti-la a outros. Não posso crer sem ser amparado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo também para amparar os outros na fé” (166). 
Na profissão de fé, a Igreja aparece então como sujeito da fé, sem negar que cada fiel assuma pessoalmente a fé da Igreja. 

Em nossa reflexão de hoje gostaria de chamar a sua atenção para o fato de que na profissão de fé, a Igreja está presente não somente como sujeito, mas também como objeto de fé. 
Você já notou que, além de dizer: “eu creio”, dizemos também: “creio na Igreja”? 
A fé cristã é uma fé eclesial porque o sujeito que o realiza é primariamente a Igreja e também porque ela mesma é conteúdo de fé. Segundo a profissão de fé, a Igreja é um objeto de fé e só pode ser assim compreendida. 

Mas é preciso entender bem isso. Dizer que a Igreja é objeto de fé não deve colocá-la no mesmo plano de Deus Uno e Trino, que é o objeto e o fundamento verdadeiro e próprio da fé. Em outras palavras: nós não cremos na Igreja da mesma maneira que cremos em Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

Dizendo que “crê a Igreja”, o fiel declara que adere a ela unicamente na medida em que a reconhece como um dos efeitos da ação salvadora de Deus no mundo e, por isso, instrumento que Deus usa para convidar a humanidade a entrar na sua comunhão.
Rigorosamente falando, o cristão crê a Igreja, mas não faz dela objeto de fé, uma vez que somente Deus pode ser digno de nossa confiança absoluta e incondicional. Quem recita a profissão de fé, portanto, crê que a Igreja faz parte dos dons salvíficos do Deus vivo, mas funda a própria existência somente sobre a rocha da fidelidade do Deus Trino. 

Levando a sério o terceiro artigo do Símbolo, o cristão evita, de um lado, qualquer idolatria da Igreja e, de outro, confessa que a grandeza e a beleza da Igreja consistem exatamente no fato de ser criatura e obra do Espírito Santo, comunhão com Jesus Cristo.

Artigo publicado no Jornal O São Paulo

CRER É TOMAR PARTE EM UMA CONVICÇÃO COMUM