Crer "No fim do mundo"

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05/06/2014 - 00:00

Querido leitor do  JORNAL O SÃO PAULO, a fé no “fim do mundo” é, para o cristão, uma notícia consoladora e de esperança, uma vez que a crença no fim do mundo e do retorno do Senhor para julgar consiste em acreditar que o mundo se move em direção a Jesus Cristo. No fim de tudo acontecerá o triunfo da verdade, da liberdade e do amor. Não é, portanto, uma força qualquer que destruirá tudo. Pelo contrário, será uma Pessoa que tudo levará a plenitude.

Crer no fim do mundo, para o cristão, significa crer que o mundo não findará por um processo físico automático e necessário. Ele chegará ao seu fim-finalidade a partir de decisões da liberdade. O sentido (o fim) de tudo não será o resultado de um processo natural e sim da responsabilidade baseada na liberdade. Por isso a volta do Senhor será a Sua vinda como juiz dos vivos e dos mortos.

Assim crer no fim do mundo faz com que o cristão leve a sério o exercício de sua liberdade, liberdade dada por Cristo, é verdade, mas verdadeira liberdade, a qual não é substituída pela graça. O destino definitivo do mundo e de cada ser humano não é imposto por Deus. Conforme diz Santo Agostinho: o Criador nos fez sem nós, mas Ele não nos salva sem nossa liberdade.

A crença no fim do mundo e da vinda do Senhor como juiz desperta a consciência da responsabilidade humana, opondo-a a falsa confiança de quem acredita ser suficiente dizer “Senhor, Senhor!” para entrar no Reino.

Nesse sentido o Catecismo afirma tanto a radicalidade da graça quanto a responsabilidade do cristão. A salvação é dom e responsabilidade. Assim a vinda do Senhor como juiz incute tanto a alegria e a confiança do Evangelho da graça que nos arranca da própria impotência quanto a seriedade da responsabilidade que nos é exigida em nosso cotidiano.

Uma vez que recitamos sempre o “Creio”, continuamente somos chamados a levar nossa vida a sério e é exatamente essa seriedade, que confere dignidade ao nosso viver.

Professar que o Senhor virá para “julgar os vivos e os mortos” significa crer que o desfecho do mundo não depende de nós, mas está nas mãos de Deus, que a última palavra sobre este nosso mundo não será dada pela injustiça. Temos a certeza fundada de que a última instância de apelação que garante a justiça e o amor é a do Senhor Jesus.

Quem vem para julgar os vivos e os mortos não é um deus qualquer, indefinido, desconhecido. O julgamento foi confiado a Jesus que, como homem verdadeiro, é nosso irmão. Assim não é um estranho que nos julgará, mas Aquele que nós conhecemos pela fé. Assim não seremos postos diante do tribunal de um desconhecido, mas dAquele que é um de nós, que conheceu e sofreu nossa existência humana em todos os seus aspectos.

Por isso, o julgamento dos vivos e dos mortos não é apenas o “dia da ira”, será dia da volta do Senhor. Por isso o cristão, enquanto caminha nesta vida recita o “dies irae” mas sobretudo o Maranatá (vem Senhor Jesus)!

 

Matéria publicada no Jornal O São Paulo

CRER “NO FIM DO MUNDO”