FÉRIAS: O VERDADEIRO DESCANSO

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19/01/2015 - 00:00

Querido leitor do JORNAL O SÃO PAULO, estamos no período de férias e mesmo que muita gente esteja trabalhando, creio que uma reflexão sobre o descanso é bem apropriada e oportuna.

O tempo de férias é um momento muito bom para prestar mais atenção ao nosso mundo interior. Muitas vezes nós nos esgotamos física e espiritualmente porque concentramos nossa atenção somente no mundo exterior: trabalho, família, amigos. É bom que a gente se esmere em cumprir nossas obrigações, que nos esforcemos em ajudar e servir os outros. Mas a preocupação com os outros e com os compromissos não deve levar a  descuidar de nós mesmos.

Descanso não é evasão. Quando estamos cansados temos a tentação de realizar atividades pouco convenientes que neutralizam o sentimento de mal-estar que o cansaço provoca. O consumo de álcool, as navegações pela internet em busca de pornografia, participação em redes sociais promovendo anarquia, o abuso de drogas, as compras compulsivas parecem dar alívio imediato, mas causam escravidão, frustração e mais cansaço ainda.

Descanso não é preguiça. O verdadeiro descanso é incompatível com a preguiça. Usar bem o tempo das férias nos ajuda a cultivar o espírito, a estimular nossa criatividade, a formar o caráter e a enobrecer as pessoas.

O verdadeiro descanso está ligado ao trabalho. Para trabalhar bem é preciso descansar bem. Mas o inverso é também verdadeiro: para descansar bem é preciso ter trabalhado bem. Sem trabalhar bem, sem concluir “a boa obra” não há verdadeiro descanso. Deus descansou no sétimo dia não porque necessitasse de repor as energias gastas. Ele descansou porque completou a obra da criação do céu e da terra; porque realizou “a obra muito boa” da criação da humanidade.

O preguiçoso trabalha de má vontade para depois se aborrecer no tempo livre. Ele é incapaz de aproveitar a vida e de dar a si mesmo um descanso autêntico porque incapaz de realizar a boa obra.

O descanso é experiência de plenitude. Por isso, é preciso que procuremos dedicar tempo à oração. A contemplação é antídoto para o ativismo, a pressa e o frenesi. Contemplar a natureza e as crianças; ouvir o canto dos pássaros; conversar com calma com os que amamos, tudo isso nos ajuda a prestar mais atenção a Deus que age em nossa vida e nos interpela. A oração nos ajuda a recolocar no lugar de honra o que de bom recebemos de Deus e a nos alegrar com seu amor por nós.

Um dos objetivos nobres do descanso é o exercício da gratuidade. Uma das grandes causas de cansaço e de tristeza é quando vivemos somente em vista do rendimento. Uma das escravidões que mais esgotam e cansam é quando vivemos unicamente em função de ter a melhor casa, o melhor emprego, o salário mais alto, o corpo mais formoso... Para se libertar dessa escravidão é preciso aproveitar o tempo do descanso para fazer alguma coisa que não seja útil, nem importante. Fazer algo bom por pura gratuidade sem esperar recompensa ou pagamento ou reconhecimento é um santo remédio. Querido leitor: bom descanso.

Artigo publicada no Jornal O São Paulo