Celebramos neste dia 9 de novembro, irmãos diletos, o natalício da basílica de Latrão. A festividade indica que devemos ser o verdadeiro templo vivo de Deus.
Todavia é com muita razão que os povos cristãos
observam com fé a solenidade da Igreja-mãe,
por quem reconhecem ter nascido espiritualmente.
Pois pelo primeiro nascimento éramos vasos da ira de Deus;
pelo segundo, foi-nos dado ser vasos da sua misericórdia.
O primeiro nascimento lançou-nos na morte;
e o segundo, chamou-nos de novo à vida.
Todos nós, caríssimos, antes do batismo fomos templos do demônio;
depois do batismo, obtivemos ser templos de Cristo.
E se meditarmos com atenção sobre a salvação de nossa alma,
reconheceremos que somos o verdadeiro templo vivo de Deus.
Deus não habita somente
em construções de mão de homem (At 17,24)
nem em casa feita de pedras e madeira;
mas principalmente na alma
feita à imagem de Deus e edificada por mãos deste artífice.
Desse modo pôde São Paulo dizer:
O templo de Deus, que sois vós, é santo (1Cor 3,17).
E já que Cristo, quando veio,
expulsou o diabo de nossos corações
para preparar um templo para si,
quanto pudermos, esforcemo-nos com seu auxílio
para que em nós não sofra injúria por nossas más obras.
Pois quem proceder mal, faz injúria a Cristo.
Se queremos celebrar na alegria o natalício do templo,
não devemos destruir em nós, pelas obras más,
os templos vivos de Deus.
Cada vez que entramos na igreja,
queremos encontrá-la tal como devemos dispor nossas almas.
Queres ver bem limpa a basílica?
Não manches tua alma com as nódoas do pecado.
Se desejas que a basílica seja luminosa,
também Deus quer que tua alma não esteja em trevas,
mas que em nós brilhe a luz das boas obras, como disse o Senhor,
e seja glorificado aquele que está nos céus.
Do mesmo modo como tu entras nesta igreja,
assim quer Deus entrar em tua alma,
conforme prometeu:
E habitarei e andarei entre eles (cf. Lv 26,11.12).
Dos Sermões de São Cesário de Arles, séc. VI
Sermo 229,1-3: CCL 104,905-908