Homilia de Dom Julio Endi Akamine na Abertura do Ano da Vida Consagrada em Aparecida

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01/12/2014 - 00:00

Homilia de Dom Julio Endi Akamine na Abertura do Ano da Vida Consagrada em Aparecida


O que vos vos digo, digo a todos: Vigiai.
Caro irmão, cara irmã
Gostaria de convidá-lo a um esforço de imaginação. Procure imaginar: se um dia você precisar contratar um empregado ou empregada para a sua casa, como você faria? Sairia contratando o primeiro que aparecesse? Ou antes de contratar, buscaria as referências?
Procure imaginar: se você for pedir emprego a uma casa de família, será que conseguiria esse emprego sem levar boas referências?
Por que são necessárias as referências?
Elas são necessárias porque ninguém é aceito em tal emprego se não é confiável. Afinal um empregado doméstico, uma empregada doméstica não é só admitido em um trabalho, mas é aceito na casa, é introduzido de certa maneira na vida familiar. Confiamos ao empregado doméstico os nossos bens mais caros. A alguém que trabalha dentro de nossa casa são confiadas não somente as nossas coisas mas também os filhos ou os pais idosos.
Será que confiamos o que temos de mais caro, íntimo e pessoal a qualquer um?
Para cuidar do que temos de mais caro, precisamos primeiro de algumas provas da confiabilidade, da honestidade da pessoa a quem nos confiamos. Além da confiabilidade nos acertamos também de sua responsabilidade: se não é uma pessoa preguiçosa, se é pontual, se sabe se antecipar à necessidades, se tem boa resistência ao trabalho.
No Evangelho de hoje Jesus nos exorta a vigilância de um jeito muito interessante. Devemos estar atentos, acordados, vigilantes como os empregados de uma casa a quem um senhor confiou a sua casa.
Em poucos versículos Jesus nos explica de maneira magnífica o que é a vigilância cristã.
34. É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando.
Antes de falar da vigilância, a parábola nos coloca diante da situação em que vivemos: o Senhor deixou a Sua casa sob a nossa responsabilidade e confiou a cada um de nós uma tarefa.
Vejam como Deus tem confiança em nós: Ele nos confiou a Sua casa, os Seus bens, os Seus filhos mais queridos.
Nessa grande casa que é a casa de Deus, cada um de nós tem uma tarefa. Todos somos necessários, insubstituíveis nesse sentido.
Se não cumprir com minha tarefa, ninguém a realizará por mim. É verdade que o plano de Deus, o desígnio de Deus, o Reino de Deus se realizará certamente, mas, se não realizar minha missão que me foi dada por Deus, ficará faltando minha parte.
A vigilância cristã não é espera angustiada e temerosa. Não é viver com medo de ser surpreendido em alguma falha ou erro. A vigilância cristã é a resposta ativa e agradecida à confiança que o Senhor tem em nós.
A nós o Senhor nos confiou a Sua casa, o Seus bens e os Seus caros.
Nos confiou a Sua casa que é também a casa de todos, ou seja, toda a natureza criada. Os bens da terra, os recursos naturais, a água e o ar, os animais e as plantas: tudo nos foi entregue aos nossos cuidados. Somos como jardineiros e agricultores; recebemos de Deus o cuidado da terra e do céu. Os recursos naturais e as riquezas da criação não devem ser destruídos, explorados e esgotados. Deus nos confiou a tarefa de cuidar da criação para que ela possa servir a todos, para que suas riquezas não sejam esgotadas e só sirvam a poucos.
O Senhor nos confiou o cuidado dos irmãos, principalmente dos menores, dos pobres e dos vulneráveis. Eles são filhos de Deus e assim devem ser tratados e cuidados. Mais do que isso. São eles os prediletos de Deus, são eles amados pelo Pai; e eles nos foram confiados.
Será que é justo explorar os mais fracos? Agrada ao Senhor que sejamos indiferentes aos seus sofrimentos? A nossa sociedade tem lugar para a vida frágil dos mais pobres, dos mais idosos, para a vida que ainda não nasceu? Cuidamos dos amados de Deus? Estamos ocupados com essa tarefa que o Senhor nos confiou?
Mas o que mais impressiona é que o Senhor não nos confiou a tarefa de cuidar de suas coisas e de seus caros somente para esta vida. Ele nos confiou também o seu destino eterno. Ele nos confiou a tarefa de colaborar na salvação das pessoas e na glorificação da natureza.
Salvar é algo que só Deus pode realizar. Mas Ele, na sua bondade e na confiança que tem em nós, nos deu a responsabilidade e o privilégio de colaborar na salvação própria e na dos outros. Se há um dom divino, este é o de cooperar na salvação da humanidade.
Que confiança! Que responsabilidade! Que privilégio! Que graça!
Na parábola, uma tarefa de destaque tem o porteiro, porque é ele que exprime melhor do que os outros a necessidade de estar acordado, de não dormir nem se distrair. Os que vivem nos condomínios podem entender bem como a vida de um porteiro pode exprimir bem o que é a vida do cristão. O porteiro, se é um bom porteiro, nunca se afasta do seu posto sem um substituto; é ele que controla o movimento de quem entra e quem sai; ele cuida para que não haja invasão de ladrões; enfim está sempre atento, alerta e ocupado.
Como você pode notar todos devem vigiar:
35-36: Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer. Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo.
Mesmo que, entre os empregados, o porteiro deva ser o mais vigilante, ninguém deve sucumbir à preguiça, à distração ou ao cansaço.
Na Igreja e no tempo de hoje quem é o porteiro?
Hoje nós estamos fazendo a abertura do Ano da Vida Consagrada.
Começa hoje e se concluirá no dia 2 de fevereiro de 2016. Nesse sentido, creio que hoje podemos considerar as pessoas consagradas como uma espécie de porteiro. Ele não só cuida da porta, mas também cuida para que ninguém durma.
É isso que o Papa Francisco em sua Carta Apostólica às pessoas consagradas:
Espero que «desperteis o mundo», porque a característica da vida consagrada é a profecia. A radicalidade evangélica não é própria só dos religiosos: é pedida a todos. Mas os religiosos seguem o Senhor de uma maneira especial, de modo profético». Esta é a prioridade que agora se requer: «ser profetas que testemunham como viveu Jesus nesta terra (...). Um religioso não deve jamais renunciar à profecia» (29 de Novembro de 2013).
Com os votos de castidade, pobreza e obediência, as pessoas consagradas são testemunhas vivas da Igreja que vigia à espera do seu Senhor. Elas desempenham a imprescindível missão de “despertar o mundo”.
Trata-se de deixar tudo para seguir o Senhor. A radicalidade evangélica não é só para os religiosos: a todos se exige. Mas os religiosos seguem o Senhor de modo especial, de modo profético. Espero de vós esse testemunho. Os religiosos devem ser homens e mulheres capazes de despertar o mundo” (Papa Francisco).

Conclusão

Damos graças, ó Senhor, pela grande confiança que tivestes em nós. “Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos”. Fizestes do nosso barro um vaso de tua graça para os outros. Agradecemos a tarefa confiada a nós e desejos estar ocupados no seu cumprimento.

Agradecemos hoje sobretudo o grande dom da vida consagrada que enriquece e alegra toda a Igreja com a multiplicidade de seus carismas e com a dedicação de tantas obras. Dai aos consagrados e consagradas crescente alegria e entusiasmo em seu chamado a vos seguir mais de perto.

Pedimos, ó Senhor, pelos jovens consagrados e consagradas. Que eles cultivem os anseios e ideais de sua idade a fim de que possam aceitar prontamente ao projeto do Pai e passem corajosamente pela porta da santidade.

Suplicamos, ó Senhor, pelas nossas família. Que os pais sejam generosos em oferecer à Igreja seu filhos e filhas, fruto do seu amor conjugal.

Olhai, Senhor, para as pessoas fascinadas por vós e que se consagraram a vos seguir mais de perto em pobreza, castidade e obediência. Que os consagrados e as consagradas não deixem jamais faltar à Igreja a beleza do amor apaixonado e da dedicação total ao Evangelho. AMÉM!


ORAÇÃO (VC 111)
Pode ser feita como conclusão da oração dos fiéis ou no final da missa

Santíssima Trindade, tornai felizes os vossos filhos e filhas que chamastes para confessarem a grandeza do vosso amor, da vossa bondade e da vossa beleza.

Pai Santo, santificai os filhos e filhas que se consagraram a Vós, para a glória do vosso nome. Acompanhai-os com o vosso poder, para que possam testemunhar que Vós sois a Origem de tudo, a única fonte do amor e da liberdade. Agradecemo-Vos o dom da vida consagrada, que na fé Vos procura e, na sua missão universal, convida a todos a caminharem para Vós.

Jesus Salvador, Verbo Encarnado, tendo entregue a vossa forma de vida àqueles que chamastes, continuai a atrair para Vós pessoas que sejam, para a humanidade do nosso tempo, depositárias de misericórdia, prenúncio do vosso regresso, sinal vivo dos bens da ressurreição futura. Que nenhuma tribulação os separe de Vós e do vosso amor!

Espírito Santo, Amor derramado nos corações, Fonte perene de vida, que realizais a missão de Cristo com numerosos carismas, nós Vos pedimos pelas pessoas consagradas. Enchei o seu coração com a certeza íntima de terem sido escolhidas para amar, louvar e servir. Cumulai-as da vossa alegria e do vosso conforto, ajudai-as a superarem os momentos de dificuldade e a se levantarem confiadamente depois das quedas, tornai-as espelho da beleza divina. Dai-lhes a coragem de enfrentar os desafios do nosso tempo e a graça de levarem aos homens a bondade e o amor do nosso Salvador Jesus Cristo.


ORAÇÃO À VIRGEM (VC 112)
Pode ser recitada no final da missa
Ó Maria, figura da Igreja, Esposa sem ruga nem mancha, amparai as pessoas consagradas na busca da eterna e única Bem-aventurança.
Nós as confiamos a Vós, para que saibam correr ao encontro das necessidades humanas, para levarem ajuda, mas sobretudo para levarem Jesus. Ensinai-lhes a proclamar as maravilhas que o Senhor realiza no mundo, para que todos os povos glorifiquem o seu nome. Sustentai-as na sua ação em favor dos pobres, dos famintos, dos desesperados, dos últimos e de todos aqueles que procuram o vosso Filho com coração sincero.

A vós, Mãe, que quereis a renovação espiritual e apostólica dos vossos filhos e filhas na resposta de amor e dedicação total a Cristo, dirigimos confiantes a nossa oração.

Vós que fizestes a vontade do Pai, pronta na obediência, corajosa na pobreza, acolhedora na virgindade fecunda, alcançai do vosso divino Filho que, os que receberam o dom de O seguir na vida consagrada, saibam testemunhá-Lo com uma existência transfigurada, caminhando jubilosamente, com todos os outros irmãos e irmãs, para a pátria celeste e para a luz que não conhece ocaso.

Nós Vo-lo pedimos, para que, em todos e em tudo, seja glorificado, bendito e amado o Supremo Senhor de todas as coisas que é Pai, Filho e Espírito Santo.