O Magistério tem o encargo de interpretar, aplicar e expor fielmente a Palavra de Deus

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12/02/2014 - 00:00

Prezado Leitor do Jornal O São Paulo, em nossa última reflexão sobre o Catecismo da Igreja Católica tratamos do depósito da Fé, continuando gostaria de propor algumas perguntas: o Magistério da Igreja exerce sozinho a tarefa de transmitir e interpretar a Palavra de Deus? Os fiéis cristãos podem contribuir no progresso da inteligência da fé? Ou eles somente devem receber a pregação do Papa e dos bispos?

Todos os fiéis contribuem para o progresso da compreensão e da vivência de tudo o que a Igreja recebe da Revelação. Todos contribuem, mas cada um segundo as suas responsabilidades que são dadas pelo próprio Deus.

É uma simplificação errada pensar que o Papa e os bispos possam produzir novas verdades de fé para impô-las aos outros. É preciso repetir e ficar claro que o Magistério da Igreja não está acima da Palavra de Deus mas a seu serviço.

O Magistério tem o encargo de interpretar, aplicar e expor fielmente a Palavra de Deus, mas o Magistério não pode, não deve e não quer inventar novas verdades de fé. Os dogmas que o Magistério, vez ou outra proclama não são uma criação de uma nova verdade de fé. Pelo contrário, ao proclamar um dogma, o Magistério somente reconhece que tal verdade está contida na Palavra de Deus e na tradição apostólica. Para proclamar um dogma, o Magistério deve constatar a fé concorde de toda a Igreja. Dessa maneira, dizer que o Papa ensina com autoridade não significa dizer que ele seja a origem ou a fonte da fé.

Para discernir a verdadeira fé, e mais exatamente a interpretação autêntica e correta da Bíblia, o Papa e os bispos não se colocam acima da Igreja. No exercício de sua autoridade, o Magistério sempre recorre ao senso sobrenatural da fé. Essa expressão (senso sobrenatural da fé) indica uma certa “consulta espiritual democrática” da fé e da prática da Igreja toda (desde o Bispo até o “último” dos féis).

Os conteúdos de conhecimento oferecidos pelo senso sobrenatural da fé não resultam tanto de um trabalho conceitual, mas muito mais de uma experiência concreta que é formada pelas vivências concretas e por conhecimentos adquiridos. O senso sobrenatural da fé, que é comum a todos os fiéis, conduz interiormente esses mesmos fiéis cristãos ao consenso da fé.

Esse consenso da fé vai-se construindo, por obra do Espírito Santo, ao longo do tempo na vida da Igreja. Por isso, pode acontecer que em dado momento histórico uma verdade se apresente com total clareza a ponto de poder ser definida dogmaticamente. Um exemplo desse processo interior e espiritual do senso da fé que conduz toda a Igreja a um consenso da fé foi a declaração do dogma da Assunção de Maria. Depois de ter consultado amplamente as dioceses e depois de ter constatado um consenso universal a respeito da fé na Assunção de Nossa Senhora, Pio XII proclamou solenemente em 1950 o dogma. 

 

Artigo publicado no Jornal  O São Paulo - 12/02/2014

O Magistério tem o encargo de interpretar, aplicar e expor fielmente a Palavra de Deus