Querido leitor do JORNAL O SÃO PAULO, tente imaginar a dificuldade de explicar a uma criança de cinco anos um problema de física quântica. Em sã consciência, ninguém cometeria a temeridade de sobrecarregar a inteligência de uma criança com uma matéria tão exigente. Sabemos que há uma desproporção muito grande entre o problema de física quântica e a inteligência da criança. Pois bem, entre a inteligência humana e o mistério da Trindade há uma desproporção infinitamente maior.
Mesmo assim, o Catecismo não foge ao desafio de “balbuciar” algo sobre o mistério que Deus revela de Si mesmo. E que balbucio admirável na sua simplicidade e exatidão! Encontroamos nos parágrafos 257-260 do catecismo uma síntese preciosa de toda a doutrina da Trindade.
O assunto de nossa conversa de hoje é, portanto, o mistério da Santíssima Trindade. Mesmo que nem tudo seja fácil e acessível no primeiro momento, não desanime. Estamos diante do mistério de Deus: não basta a inteligência. É preciso mergulhar nesse mistério sustentados pela oração e pela contemplação. O estudo do Catecismo só é frutuoso para a vida de fé se, além da atividade intelectual, dedicarmos tempo para a oração pessoal, a celebração da liturgia e a prática da caridade.
Em Gálatas 4,4-6, encontramos um trecho que nos ajudará refletir, não discorre teoricamente sobre a doutrina da Trindade, mas simplesmente proclama o fato admirável da revelação do Mistério de Deus na história Salvação.
Para facilitar a compreensão, procure ler e refletir os parágrafos 257-260 do catecismo e depois aprofunde os pontos que se seguem:
1. São Paulo narra em poucas e densas palavras que, num determinado lugar e tempo veio Jesus de Nazaré, que se revelou como um homem enviado de Deus e, ao mesmo tempo, como Filho de Deus, como Alguém distinto e igualao Pai.
2. São Paulo ainda acrescenta que Deus enviou o “Espírito de seu Filho”, anunciando-o como um “Outro” distinto e unido a Deus Pai e ao Filho.
3. A partir desses dados, que Paulo apresenta, chegamos portanto ao conhecimento dos Três distintos e intimamente unidos: Um (o Pai) enviou ao mundo os Outros dois (o Filho e Espírito).
4. O texto paulino fala claramente de duas missões: o Filho e o Espírito Santo foram enviados por Deus Pai. Essas duas missões trinitárias têm a mesma origem (Deus Pai) e o mesmo fim (a nossa filiação adotiva).
5. Além de terem a mesma origem e a mesma finalidade, as duas missões trinitárias estão em mútua relação. Deus Pai toma a iniciativa em enviar Jesus, seu Filho, ao mundo, e em enviar o Espírito de seu Filho aos nossos corações. O amor de Deus pelos homens é a única razão do envio do Filho.
6. As características dessas duas missões são bem distintas. A missão do Filho coincide com a sua encarnação para assumir e partilhar a vida dos homens.
7. A missão do Espírito, pelo contrário, tem um caráter invisível: não pode ser delimitada no tempo e no espaço, uma vez que Ele é enviado ao coração de cada fiel.
Artigo publicado no Jornal O São Paulo 23/06/2014