O motivo da fé é sobretudo o encontro com uma pessoa: Jesus Cristo

A A
26/03/2014 - 00:00

Querido Leitor do Jornal O São Paulo , algumas vezes os cristãos e os católicos são pintados como religiosos fanáticos, devotos cegos e intolerantes. Na raiz dessa caricatura está a crença (mais exatamente: o preconceito) de que a fé exerça sobre as pessoas uma ação que as cega e as conduza ao fanatismo. Será verdade que a fé cristã é em si mesma facciosa?

Outro problema que os cristãos devem enfrentar no seu ato de crer é a dificuldade de justificar e explicar a fé como uma decisão definitiva. A cultura atual está convicta de que é impossível que as pessoas façam escolhas definitivas e fundamentais. Não há ou não se deve jamais tomar uma decisão definitiva: os relacionamentos são provisórios; o amor não empenha; mesmo os compromissos consigo mesmo e com a própria consciência podem ser mudados conforme a conveniência.  Esse “dogma”, aceito tacitamente ou defendido explicitamente, torna muito difícil o entendimento da fé e a sua realização.

Então, quais são os motivos que nos levam a crer? Essa pergunta é legítima tanto para o fiel quanto para quem não acredita. A decisão de crer é uma opção sensata própria do ser racional, pois a própria revelação divina é crível e não exige dele o sacrifício da razão. Mesmo que a fé não seja produto da razão humana, o mistério da encarnação revela que Deus vem ao encontro do homem e lhe fala como a um amigo (cf. DV 2) e não como um tirano que coage.

O cristão, portanto, sempre se pergunta se o conteúdo de sua fé é aceitável e inteligível, e, ao mesmo tempo, se pode encontrar na história indícios que o ajudem a aceitar essa irrupção de Deus que deu origem a um novo ser. Ele se pergunta também se é possível encontrar na revelação bases certas e suficientes para poder correr o risco da fé.

Refletir sobre o motivo de crer significa, portanto, arrancar a fé do mundo do arbitrário, do absurdo e do subjetivismo desvairado. Crer tem uma coerência com a estrutura humana, racional e livre, e, por isso, tal ato pode passar pelo crivo da racionalidade concreta, histórica e prática.

Tratar sobre o “motivo de crer” consiste em falar do significado da revelação; a proposta da fé concerne àquilo que é percebido pela pessoa como autenticamente significativo para a existência, ou seja, seriamente pensável, digno de ser levado em consideração e verificado, válido para uma vida plenamente humana. Em suma, aquilo que me é proposto solicita ao menos minha atenção e o meu tempo e – por que não? – meu compromisso definitivo de vida.

É próprio de toda pessoa buscar o sentido para a sua vida. Sem encontrar o sentido, a própria personalidade não se realiza e toda a existência se degrada em gestos e momentos fragmentados.

O motivo para crer em Cristo está estreita e internamente vinculado à busca e à escolha do sentido que a existência humana reclama de todos nós. Para o cristão, o motivo da fé é sobretudo o encontro com uma pessoa, Jesus Cristo, que “revela plenamente o homem ao próprio homem e lhe faz conhecer a sua vocação sublime” (GS 22).

 

Artigo publicado no Jornal O São Paulo

O motivo da fé é sobretudo o encontro com uma pessoa: Jesus Cristo