O Natal decifra alguns mistérios mais profundos da nossa existência

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19/12/2013 - 00:00

Prezado Leitor do Jornal O São Paulo, certo dia, na plenitude dos tempos, quando o tempo da espera terminou, Deus se aproximou de uma virgem toda pura, prometida a um homem justo da descendência de Davi. Bateu mansamente a sua porta, pediu para morar e viver na casa dos homens. E Maria disse sim; porque havia lugar para Ele em sua vida; o Verbo se fez carne no seio daquela virgem. E a vida divina começou a crescer neste mundo. E eis que numa noite completou-se o tempo. No silêncio da gruta, porque não havia lugar para Ele na estalagem dos homens, Deus nasceu. Aquele que ninguém jamais viu, Aquele que todo universo não pode conter, mostrou-se, revelou-se, manifestou-se. Permanecendo o Deus que sempre foi, assumiu o homem que nem sempre fora. É o mistério desta noite abençoada e luminosa do natal!

O natal serve para decifrar alguns mistérios profundos de nossa existência. Os homens se perguntam angustiados: por que a dor? Por que o sofrimento? Por que a humilhação? Por que a pequenez sofrida e sentida?

Os homens perguntavam a Deus. E Deus silenciava. Alguns até procuraram argumentar para isentar Deus de ser o culpado pelo sofrimento humano. Mas nenhuma resposta era satisfatória.

Agora no natal, Deus fala. Finalmente ele responde e o homem silencia, não pergunta mais. O homem ouve a narração do nascimento de Jesus: Deus nasceu pequeno, Deus se fez história. Deus não responde ao porquê do sofrimento; Ele sofre junto. Ele não responde ao porquê da dor; Ele se fez homem das dores. Ele não responde ao porquê da humilhação; Ele se humilhou. Já não estamos mais sozinhos na nossa imensa solidão; Ele está conosco: é o Emanuel. Não somos mais solitários, somos solidários. Agora o natal emudece a argumentação da razão. Fala a narração do coração. Narra-se a história de um Deus que se fez criança, que não pergunta, mas faz; que não responde, mas vive uma resposta.

A nossa noite se iluminou. O menino de Belém nos revela: tudo possui um sentido secreto e tão profundo que o próprio Deus quis assumi-lo. Vale a pena ser humano. Tanto que Deus quis ser um deles. Não somos um rebanho condenado, nem uma massa anônima sem rumo. Deus não assiste impassível à tragédia humana. Ele entra, toma parte, participa e nos mostra que vale a pena viver a vida como a experimentamos: monótona, anônima, trabalhosa, fiel na luta de sermos cada dia melhores. Vale a pena viver esta vida como a vivemos: exigente na paciência, fortes em suportar as contradições e sábios para aprender delas.

Olhemos para nossas mães e para as nossas esposas com respeito e descubramos nelas, pelo menos hoje, um símbolo da Virgem Maria. Olhemos para nosso próximo e lembremo-nos que ele é um irmão de Cristo e nosso irmão. Façamos de cada pessoa um próximo e de cada próximo um irmão. Pelo menos nesta noite, abracemos nossos filhos, nossas crianças como se abraça o Filho que, hoje, Deus nos deu. Feliz Natal!

 

Artigo de Dom Julio Endi Akamine publicado no jornal O São Paulo desta semana

O Natal decifra alguns mistérios mais profundos da nossa existência