Os Cristãos e o tempo com o relógio

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13/06/2015 - 09:15

Os Cristãos e o tempo com o relógio

Os cristãos não somente contam o tempo com o relógio, mas o preenchem e o experimentam em comunhão com Cristo como graça, encontro e liberdade.
Podemos, com efeito, sofrer o tempo: junto com ele se esvai nossa vida, a dos outros e a do mundo. Sentimos a ameaça de nossa destruição, quando o tempo cava em nossas faces as rugas, condena-nos à decrepitude e impõe-nos impiedosamente a demência. Ou podemos também acolher o tempo como dom e entrar nele com sabedoria cristã, nos apropriando dele, vivendo cada momento e instante como seguimento de Cristo e buscando sintonizar as etapas de nossa vida com o ritmo de Deus.
O ano litúrgico é o modo concreto de os cristãos sintonizarem seu tempo com o ritmo de Deus. Não é mero calendário de festas religiosas, mas é primeiramente celebração do mistério do Verbo que se fez carne e, no caso, armou sua tenda em nosso tempo. Assim, o Ano Litúrgico nos ajuda a assumir todas as fases da nossa vida, cada mês, semana ou dia, como tempo assinalado pela ação salvadora de Deus. Os ritmos do Ano litúrgico, que articulam no tempo a totalidade do mistério de Cristo, são, para nós, um convite permanente para a conformidade com Jesus. Eles têm uma correspondência profunda com a vida cristã e os fatos que a acompanham: a espera, o desejo e a realização do Advento, a purificação, o drama da paixão, morte e ressurreição para a vida nova da Páscoa e a missão de Pentecostes. Podemos nos assemelhar a Cristo justamente porque nada de nossa vida é deixado à margem da sua encarnação e da sua vinda ao nosso tempo.
No Ano Litúrgico, a imortalidade de Deus toca nossa caducidade; Deus insere e derrama sua eternidade no fluir de nosso tempo e antecipa para nosso hoje sua promessa.
Para nós é muito difícil pensar e entender o que seja a eternidade, que não é o correr indefinido do tempo, mas uma qualidade diversa de ser e de viver própria de Deus.
Por isso, a Igreja celebra o Ano Litúrgico, que nos ajuda a viver o que é indizível e inexplicável, nos convida a experimentar o que supera nossa temporalidade.
Na celebração do Ano Litúrgico, o futuro e o passado, nosso e o do mundo, convergem e se concentram num presente que já não é mais tempo. Um não-tempo em que o amor não conhece desgaste, o afeto não se perverte em ciúme, a comunhão com Deus e com os irmãos não termina nem é seletivo, o sentido não é fragmentado nem parcial, a generosidade não se corrompe em mesquinhez.. Dom Julio Endi Akamine