Os símbolos da fé

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09/05/2014 - 00:00

Querido Leitor do Jornal O São Paulo, os símbolos da fé (o apostólico e o niceno-constantinopolitano) que rezamos na missa dominical começam sempre com “eu creio”. Essas palavras iniciais não estão aí por acaso. Elas exprimem de maneira profunda que o ato da fé é pessoal e, exatamente por isso, é um ato eclesial.

Na profissão de fé, recitado na missa dominical, a Igreja aparece como sujeito da fé. É claro que são sempre os fiéis que individualmente dizem: “eu creio”, mas eles só fazem essa confissão como ato pessoal (“eu creio”) porque se unem ao “nós cremos” da Igreja. A Igreja, no fim das contas, é o verdadeiro sujeito que confessa “eu creio”.

Não há oposição alguma entre o “eu creio” do fiel e o “nós cremos” da Igreja. O “eu creio” do cristão não é dissolvido nem se perde anonimamente no “nós cremos” da Igreja, uma vez que com a sua fé, o cristão contribui para fortalecer a fé dos outros e para tornar o testemunho da Igreja mais luminoso e transparente no mundo. Por outro lado, o “eu creio” só alcança a sua plenitude de sentido e de realização no “nós cremos”.

Assim a fé eclesial (o “nós cremos”) não despersonaliza o indivíduo. Pelo contrário o torna consciente de uma dimensão que vai além da esfera individual e que permite a recepção da eclesialidade como dimensão constitutiva e essencial da própria fé.

A Igreja é sujeito do ato de crer porque o “nós cremos” da Igreja é anterior ao “eu creio” dos indivíduos. Toda fé pessoal é, nesse sentido, participação na fé da Igreja e fé no seio da Igreja. Ninguém inventa a fé por conta própria. Ela só é possível como fé compartilhada com os outros. Em outras palavras, a fé dos indivíduos está alicerçada na fé compartilhada que todos professam, vivem e celebram. A fé pessoal é fé da Igreja feita sua.

A fé é comunhão com toda a Tradição viva da fé, que remonta, por sua vez, através das gerações dos fiéis, até a fé apostólica das origens e à pessoa histórica de Jesus.

A Igreja é sujeito do ato de crer porque a fé da Igreja é maior do que a fé dos indivíduos. Como indivíduos, estamos sempre sujeitos às coordenadas do espaço e do tempo, ao contexto histórico em que vivemos e às vicissitudes da própria vida, breve como a flor que de manhã viceja e à tarde fenece e murcha. Assim a fé individual nunca poderá atualizar plenamente toda a fé da Igreja. Para que isso seja possível, é necessário que cada fiel, cada Igreja local, cada geração, se mantenha sempre aberto à amplidão da “comunhão dos santos”.

A fé, no cristão individual, pode permanecer “informe”: a ele falta algo. Mas na comunhão eclesial a fé tem sempre sua plenitude: ela une o povo com o Deus da Aliança mediante o vínculo eficaz e total da caridade. A genuína fé cristã sempre possui a inteireza sem unilateralismo da fé de todo Povo de Deus, a heroicidade sem compromisso dos mártires, a verdade sem desvios dos doutores, a confiança e a entrega dos prediletos de Deus e a amplidão da fé da Igreja toda, desde Abel até o último justo.