Para quê Deus se revela? Que importância isso tem para nós?

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20/09/2014 - 00:00

Caro amigo, cara amiga.


Para quê Deus se revela? Que importância isso tem para nós? Se Deus Se revela, isso muda alguma coisa na nossa vida?

Para responder a essas perguntas, leiamos o parágrafo 52 do Catecismo: “Deus, que «habita numa luz inacessível» (1Tm 6,16), quer comunicar a sua própria vida divina aos homens que livremente criou, para fazer deles, no seu Filho único, filhos adotivos. Revelando-Se a Si mesmo, Deus quer tornar os homens capazes de Lhe responderem, de O conhecerem e de O amarem, muito além de tudo o que seriam capazes por si próprios”.

Caro(a) amigo(a), note como é significativa a Revelação divina, que não é mera comunicação de proposições e mensagens. Se fosse só isso, bastaria para Deus usar o e-mail ou o facebook para se comunicar conosco. A revelação divina é muito mais do que isso: ela é sobretudo a comunicação da própria vida de Deus. Ao se revelar, Deus Se comunica a Si mesmo ao homem. O que Deus dá na sua revelação é a Si mesmo. Por isso podemos dizer que a revelação é autodoação.

Entenda bem isso: a revelação é uma verdade e também uma realidade salvadora. Revelação divina não é simplesmente comunicação de informações. É comunicação de um desejo de salvação que se realiza pelo próprio ato de comunicar tal desejo. 

Deus Se distingue de nós nesse fato: nós, muitas vezes, podemos falar uma coisa e fazer outra; podemos desejar uma coisa, mas fazer outra totalmente contrária. Mas Deus quando fala, quando deseja e revela esse desejo, realiza realmente o que fala, o que deseja e o que revela. Assim, se Ele comunica o seu desígnio de salvação, realiza essa salvação de fato. Para Deus, falar e agir, realizar e desejar é a mesma coisa. Por isso a manifestação do desígnio de salvação por parte de Deus constitui, ao mesmo tempo, a nossa salvação. 

A revelação divina é a ação de Deus que se dirige ao homem num diálogo de amor, que procede do amor de Deus e persegue também uma obra de amor: Deus quer que o homem se introduza na sociedade de amor que é a Trindade.

Nesse diálogo de amor, Deus vence a distância infinita que separa o Criador da criatura. O Altíssimo, o Transcendente se torna próximo, o Emanuel. Deus sai de seu mistério, condescende e se torna presente ao homem para estabelecer com este uma relação de salvação e de amizade. 

O plano da salvação de Deus consiste em fazer com que a pessoa humana participe da natureza divina e receba a filiação divina. O ser “capaz de Deus” alcança assim a uma nova ordem do ser: ele é chamado por Deus a ser mais do que ele é.

A intenção de amor da Revelação divina se manifesta não só no fato da revelação, mas também no próprio objeto. O objeto da comunicação divina não são apenas verdades religiosas, mas principalmente o segredo da própria vida divina, principalmente o mistério da Trindade. Esse segredo é o segredo divino por excelência é o segredo da intimidade divina, conhecido somente das Pessoas divinas. “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai senão o Filho” (Mt 11,27); “ninguém conhece os segredos de Deus, senão o Espírito de Deus”(1Cor 2,11). 

Revelando esse segredo, Deus inicia o homem no que há de mais íntimo em si mesmo: o mistério de sua vida, o coração de sua subsistência pessoal. E Deus não pode revelar esse segredo de sua vida a não ser a alguém que lhe esteja unido pela amizade, ou a alguém a quem ele se queira unir pela amizade. Convidando-nos a mais surpreendente amizade, a revelação da Trindade se nos apresenta como um começo de participação na vida divina e constitui uma doação de Deus ao homem. A revelação é, de fato, uma autodoação.
Neste mês da Bíblia, abramos nosso coração e nossa vida a doação que Deus faz de si mesmo em sua Palavra.