As passagens da revelação bíblica está profundamente radicada na história.

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12/03/2014 - 00:00

Querido Leitor do Jornal O São Paulo, você já ouviu falar dos evangelhos apócrifos? Muitas vezes eles são apresentados como descobertas sensacionais porque reveladores de informações secretas, de tradições destinadas somente a alguns privilegiados, de doutrinas que foram escondidas do grande público. Relatos sobre a infância de Jesus, seus vínculos com Maria Madalena, seus planos com o Judas Iscariotes são temas recorrentes de notícias pretensamente inéditas. Na realidade, em qualquer boa livraria você pode encontrar edições dos evangelhos apócrifos. Portanto, é preciso acabar de vez com essa lenda de que a Igreja esconda ou negue o acesso a esses documentos.

A Igreja chama esses escritos de apócrifos porque eles nunca foram considerados inspirados por Deus. Na composição da Bíblia, entraram somente os livros canônicos. Eles são assim chamados porque são reconhecidamente inspirados por Deus.

A Igreja recebe e venera, como inspirados, os 46 livros do Antigo e os 27 do Novo Testamento (138).

A Igreja definiu o Cânon da Escritura para fazer frente a duas tentações recorrente: tanto a tentação de excluir certas partes da Escritura quanto à de acrescentar outros escritos que se apresentam com uma roupagem de revelação divina.

De fato, na história houve várias tentativas tanto de cancelar partes da Bíblia como o de tentar acrescentar outros livros que pretendiam completar a revelação.

Tanto a tentativa de querer acrescentar outros escritos quanto a de excluir certas partes da Bíblia não fazem justiça à novidade de Cristo porque ou a consideram incompleta (e por isso é preciso acrescentar outros livros) ou então “contaminada” por doutrinas humanas (e por isso as Escrituras precisariam ser purificadas desses desvios).

Sabemos que na Bíblia há várias passagens que descrevem atos imorais e violentos. Ora, sabemos que também tais passagens são Escritura inspirada e não devem ser canceladas sob o pretexto de depurar a Palavra de Deus de “máculas” para tornar a Escritura mais “edificante”. Devemos levar em conta que tais passagens da revelação bíblica está profundamente radicada na história.

Deus escolhe um povo e, pacientemente, realiza a sua educação. Por isso, a Bíblia relata fatos e costumes que muitas vezes chocam a sensibilidade atual. Deus é paciente e educa com firmeza e ternura o seu povo, fazendo com que o mesmo povo progrida em sua cultura, em suas instituições, em sua organização social e em seus costumes em direção das bem-aventuranças do Reino.

Temos que reconhecer que já no Antigo Testamento a pregação dos profetas se ergue vigorosamente contra todo o tipo de injustiça e de violência, coletiva ou individual, tornando-se assim o instrumento da educação dada por Deus ao seu povo como preparação para o Evangelho. Temos que considerar também as passagens da Escritura que nos parecem problemáticos, é na contraposição a esses comportamentos obscuros que a pregação profética adquire a sua força de conversão e de anúncio de uma nova vida.

 

Artigo publicado no jornal O São Paulo desta semana

As passagens da revelação bíblica está profundamente radicada na história.