Maioridade Penal?

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21/07/2015 - 11:45

Os verdadeiros culpados

Mesmo com números divulgados por pesquisas indicando a grande maioria dos brasileiros sendo favorável à redução, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) inclui-se entre os que se mantêm contrários.

"Essa questão precisa ser bem refletida. Para isso, uma estória nos ajuda a identificar os verdadeiros criminosos: Um juiz muito sábio havia recebido um velhinho assustado no fórum. Ele havia roubado pão no supermercado. Então, o juiz teve de aplicar uma pena ao ladrão diante das acusações. A pena foi pagar R$ 10,00 pelo prejuízo causado. Porém, na mesma hora em que deu a sentença, colocou a mão no bolso e tirou R$ 10,00 dizendo: 'eu pago a sua sentença'. Depois, dirigindo-se ao oficial de justiça, disse: 'agora você cobre R$ 0,50 de todos os presentes aqui no fórum porque, se isso aconteceu, todos nós, em certo sentido, somos culpados pelo fato que, uma pessoa com fome chegue a roubar num supermercado'.

Diariamente há milhares de processos de roubos e todos querem uma resposta imediata: mais polícia nas ruas e prisão imediata. Mas isso me faz lembrar uma atitude do grande bispo já falecido Dom Luciano Mendes de Almeida. Ele foi um dos que colaborou na elaboração do Estatuto do Menor e tinha uma tese aparentemente contraditória. Quando falavam mal do menor de rua, ele dizia: 'o menor de rua não é o problema. Para mim, ele é uma solução'. Ele explicava: 'se existe o menor de rua é porque sua mãe, que é a pátria brasileira, foi que o gerou, afastou-o da escola, roubou o salário dos seus pais, deixou que a televisão despertasse o consumismo, e por aí afora. E então, educado por todos os lados, o menino de rua chega a cometer a infração'.

Portanto, o juiz tinha razão. No fundo, não são os menores, os maiores culpados. Os maiores culpados são os adultos da sociedade brasileira, que fabricam os infratores."

Fonte: Edição nº 289 da Revista O Mílite – página 30