Protagonistas na cidade terrena

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25/11/2015 - 09:45

Cinquentenário do decreto conciliar sobre o apostolado dos leigos

Os leigos não são “membros de “segunda categoria”, nem simples executores de ordens≫, mas podem ser protagonistas na vida da Igreja, porque “o anuncio do Evangelho não esta reservado” aos “profissionais da missão”, escreveu o Papa Francisco aos participantes na jornada de estudo, que teve lugar a 10 de Novembro, na Pontificia Universidade da Santa Cruz, organizada pelo Pontifício conselho para os leigos no cinquentenário do decreto conciliar “Apostolicam actuositatem”.

Ao Venerado Irmão Cardeal STANISŁAW RYŁKO Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos

Dirijo a minha cordial saudação, Senhor Cardeal, bem como a todos os participantes na jornada de estudo organizada pelo Pontifício Conselho para os Leigos, em colaboração com a Pontificia Universidade da Santa Cruz, sobre o tema Vocação e missão dos leigos. A cinquenta anos do Decreto “Apostolicam actuositatem”.

O vosso congresso insere-se no âmbito do cinquentenário da conclusão do Concilio Vaticano II, extraordinário evento de graça que, como afirmou o beato Paulo VI, teve “o caráter de um gesto de amor; de um grande e tríplice gesto de amor; a Deus, a Igreja e a humanidade” (Alocução no inicio da quarta sessão, 14 de Setembro de 1965: Insegnamenti, III [1965], 475). Esta renovada atitude de amor que inspirava os Padres conciliares levou também, entre os seus numerosos frutos, a um novo modo de considerar a vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo, que encontrou uma expressão magnífica antes de tudo nas duas importantes Constituições conciliares Lumen gentium e Gaudium et spes. Estes documentos básicos do Concilio consideram os fieis leigos no contexto de uma visão de conjunto do Povo de Deus, ao qual pertencem em união com os membros da ordem sagrada e com os religiosos, e no qual participam da maneira que lhes e própria, da função sacerdotal, profética e real do próprio Cristo. Portanto, o Concilio não considera os leigos come se fossem membros de “segunda categoria”, ao serviço da hierarquia, nem simples executores de ordens do alto, mas como discípulos de Cristo que, em virtude do seu Batismo e da sua inserção natural “no mundo”, são chamados a animar todos os ambientes, atividades e relações humanas, segundo o espírito do Evangelho (cf. LG, 31), levando a luz, a esperança e a caridade recebidas de Cristo aos lugares que, diversamente, permaneceriam alheios a acabo de Deus, abandonados a miséria da condição humana (cf. GS, 37). Ninguém melhor do que eles pode desempenhar a tarefa essencial de “inscrever a lei divina na vida da cidade terrena” (ibid., 43).

E no vasto cenário desta doutrina conciliar que se insere o Decreto Apostolicam actuositatem, que aborda mais de perto a natureza e os âmbitos do apostolado dos leigos. Este documento recordou vigorosamente que “a vocação crista e por sua natureza também vocação ao apostolado” (n. 2), pelo que o anuncio do Evangelho não esta reservado a alguns “profissionais da missão”, mas deveria ser o profundo anseio de todos os fieis leigos que, em virtude do seu Batismo, são chamados não apenas a animação crista das realidades temporais, mas inclusive as obras de evangelização explicita, de anuncio e de santificação da humanidade (cf. ibid.).

Pode-se dizer que todo este ensinamento conciliar levou a prosperar na Igreja a formação dos leigos, que ate agora já deu muitos frutos. Mas o Concilio Vaticano II, como cada Concilio, interpela todas as gerações de pastores e de leigos, porque e um dom inestimável do Espírito Santo que deve se acolhido com gratidão e com sentido de responsabilidade: tudo o que foi concedido pelo Espírito e transmitido pela santa Mãe Igreja deve ser, sempre de novo, entendido, assimilado e inserido na realidade! Aplicar o Concilio, leva-lo a vida diária de cada comunidade crista: foi este o anseio pastoral que sempre animou São João Paulo II, como bispo e como Papa. Durante o Grande Jubileu do Ano 2000, ele disse: “Uma nova estacao abre-se diante dos nossos olhos: trata-se do tempo do aprofundamento dos ensinamentos conciliares, o periodo da colheita daquilo que os Padres conciliares semearam e que a geracao destes anos cuidou esperou. O Concilio Ecumênico Vaticano II constitui uma verdadeira profecia para a vida da Igreja; e continuara a sê-lo por muitos anos do terceiro milênio ha pouco iniciado” (Discurso ao congresso internacional sobre a atuação do Concilio Ecumênico Vaticano II, 27 de Fevereiro de 2000: Insegnamenti, XXIII, 1 [2000], 278).

Rezo ao Senhor, por intercessão da Virgem Santa, a fim de que o vosso congresso sirva de estimulo para todos - pastores e fieis leigos - a terem no coração a mesma aspiração de viver e de por em pratica o Concilio, levando ao mundo a luz de Cristo. Peco-vos, por favor, que rezeis por mim, enquanto vos abençôo com afeto.

Fonte: Edição nº 47 do Jornal L’OSSERVATORE ROMANO – página 04