Oração e serviço aos pobres

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23/11/2017 - 09:45

No último domingo, 19 de novembro, foi celebrado o Dia Mundial dos Pobres, convocado pelo Papa Francisco, para que “as comunidades cristãs se empenhem na criação de muitos momentos de encontro e amizade, de solidariedade e ajuda concreta”.  Pensando nesse evento, lembrei-me de um episódio interessante relatado num livro intitulado Dio scrive diritto [Deus escreve direito], de autoria do Cardeal Angelo Comastri, Arcipreste da Basílica de São Pedro, em que narra o seu encontro com Madre Teresa de Calcutá em Roma, no final dos anos 1970, quando era um sacerdote recém ordenado. 

Ele telefonou para a casa central das Irmãs Missionárias da Caridade e perguntou se seria possível que a Madre Teresa o recebesse para uma conversa. Responderam-lhe que naquele momento não seria possível em razão dos seus diversos compromissos. Mesmo assim, ele se apresentou na casa. 

Depois de certo tempo de espera, Madre Teresa chegou à sala de visitas. O sacerdote iniciou o diálogo: “Madre, sou um padre muito novo; estou dando os primeiros passos. Vim pedir-lhe para que me acompanhe com a sua oração”. 

A Madre lhe respondeu: “Sim, eu rezo todos os dias pelos sacerdotes e rezarei também pelo senhor.” 

Depois deu-lhe uma medalha de Maria Imaculada e perguntou: “Quanto tempo o senhor reza por dia?”

O Sacerdote continua o relato: “Confesso que fiquei espantado, um pouco embaraçado, com a pergunta. Depois, procurando lembrar-me, respondi:

“Madre, eu celebro diariamente a Santa Missa, e rezo todos os dias o breviário; a senhora sabe, na nossa época, é uma prova heroica [corria o ano de 1969!]. Também rezo o terço todos os dias e o faço de boa vontade, porque aprendi a rezar com a minha mãe” 

“Madre Teresa apertou com as suas mãos rugosas o Terço que trazia sempre consigo. Depois, fixando em mim os seus olhos cheios de luz e de amor, disse a ele: “Isso não basta, meu filho! Não basta porque o amor não pode limitar-se ao mínimo indispensável, o amor exige o máximo!” 

“Eu não compreendi imediatamente aquelas palavras da ‘Madre Teresa e, como que para me justificar, repliquei: Madre, estava esperando que me perguntasse pelas obras de caridade que eu faço!’ 

De repente, o rosto da Madre tornou-se muito sério e ela me disse com voz firme: ‘Acha que eu conseguiria praticar a caridade se não pedisse todos os dias a Jesus que enchesse o meu coração com o seu amor? Acha que eu poderia percorrer as ruas à procura dos pobres, se Jesus não comunicasse à minha alma o fogo da sua caridade?’

Senti-me, então, muito pequenino... 

Depois a Madre completou: ‘Leia atentamente o Evangelho e verá que Jesus, pela oração, também sacrificava a caridade. E sabe por quê? Para nos ensinar que, sem Deus, somos demasiado pobres para ajudar os pobres’”. 

“Naqueles anos, víamos tantos sacerdotes e religiosos abandonarem a oração para mergulharem – como eles diziam – na ‘pastoral social’. As palavras da Madre Teresa pareceram-me um raio de sol e repeti lentamente aqui dentro: ‘Sem Deus, somos demasiado pobres para ajudar os pobres”’. 

A conclusão a que podemos chegar é que não são incompatíveis a oração e o serviço aos pobres; ao contrário, sem oração, sem o recurso a Deus, transformamos a Igreja numa ONG, como tem repetido o Papa Francisco.


Dom Carlos Lema Garcia
Bispo Auxiliar da Arquidiocese e
Vigário Episcopal para a Educação e a Universivade