Quem semeia, espera colher

A A
11/07/2020 - 12:30
A primeira leitura da missa de hoje (Is 55,10-11) e a parábola do semeador, do Evangelho (Mt 13,1-23), nos falam de uma verdade bonita: somos colaboradores de Deus. Nossa vida cristã envolve a graça de Deus e a nossa correspondência à ação divina. Sem a nossa participação, a graça de Deus fica sem fruto em nós. Isso nos dignifica imensamente, mas também nos dá uma enorme responsabilidade.
 
Alguém já disse: Deus nos criou sem nós, mas não nos salva sem nós. Ele faz a parte mais importante, oferece os seus grandes dons para nós e também a ajuda necessária para fazermos a nossa parte. Mas não dispensa a nossa participação e boa vontade.
 
O profeta Isaías usa uma linda imagem poética para dizer isso: “assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam, sem terem irrigado a terra e feito germinar a semente (...) assim acontece com a palavra que sai da minha boca: não voltará a mim vazia”. Deus nos faz conhecer sua vontade, concede-nos sua luz, ensina-nos seus caminhos, faz-nos promessas que contêm uma grande esperança. E espera que correspondamos com seus dons e acolhamos com fé e gratidão sua oferta de vida e salvação. Infelizmente, com as nossas escolhas erradas, podemos frustrar essa providência amorosa de Deus.
 
Na parábola do Evangelho, fica claro que o divino semeador lança sementes abundantes, na esperança de colher frutos. Ele sabe que a semente cai em vários tipos de terreno e que nem todas vão frutificar da mesma maneira. Sabe também que algumas sementes, infelizmente, vão se perder. Mas ele continua a semear, na esperança de que os terrenos menos propícios possam também mudar-se em terra produtiva 4e generosa.
 
O divino semeador dá a todos a mesma chance, mas conta com a livre participação do terreno. Sim, pois somos nós esse terreno, temos a liberdade e podemos mudar nossas disposições, ao longo da vida. Quem é terra árida, chão batido, pedregoso ou espinhento, pode converter-se e mudar suas disposições pessoais, para corresponder melhor com a generosidade do divino semeador. Esta é a nossa parte: corresponder com a graça de Deus para produzir os frutos da fé e da vida cristã.
 
Resta-nos refletir e verificar que tipo de terreno somos nós. A questão é muito séria e envolve a nossa liberdade pessoal. Deus faz a parte mais importante; mas aquela pequena parte que cabe a nós, ninguém a fará por nós. Nem mesmo Deus, que respeita a nossa liberdade. Mas podemos ter a certeza de que não faltarão estímulos da parte de Deus para que nos tornemos um terreno bom e produzamos os frutos esperados da fé e da vida cristã.
 
Peçamos todos os dias essa graça para nós e para todas as pessoas. A coisa pior na vida seria frustrar o divino semeador, que deseja apenas o nosso bem e a nossa felicidade.
 
São Paulo, 12 de julho de 2020
Cardeal Odilo P. Scherer, Arcebispo de São Paulo