A Palavra como fonte do discipulado e da missão

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03/06/2009 - 00:00

A expressão “Discípulos e missionários na cidade” que intitula o 10o. Plano Arquidiocesano de Pastoral indica que não estamos apenas diante de um programa de iniciativas pastorais, mas sim de um roteiro espiritual. Iluminado e alimentado cada dia nas fontes da Bíblia e da Liturgia, este roteiro se torna Palavra de Deus para o nosso peregrinar de Igreja, povo de Deus a serviço do Reino nesta realidade de São Paulo.

O livro do rabino Nilton Bonder, “Tirando os Sapatos”, caracteriza bem o diferencial entre um roteiro funcional ou turístico e um roteiro espiritual. Tendo participado de um projeto intitulado “O Caminho de Abraão”, que tinha o intuito de criar um roteiro turístico-religioso nos passos do patriarca das três religiões monoteístas, Bonder conta como ele realizou uma verdadeira peregrinação. Assim ele resume sua experiência: “O turismo convencional é a prática de excursionar pelo mundo buscando a multiplicidade de seus encantos e deleites. O turismo espiritual, por sua vez, tem como atrativo maior o uso da diversidade para inspirar no viajante a descoberta de paisagens até então desconhecidas. Está interessado principalmente nos pontos que permitem não apenas o descortinar de uma paisagem nova, mas o surgimento de um novo olhar... um roteiro existencial – roteiro de peregrino” ... Abraão fez uma peregrinação porque ouve um chamado. Não há endereço, só chamado. Por isso é um peregrino. O Criador lhe diz para ir à terra que lhe mostrará”.

O peregrino é alguém que se põe a caminho, disposto a realizar uma experiência que vai além do itinerário de locais que visita e percorre. O peregrinar toca profundamente sua mente e seu coração, revela-lhe surpresas e alegrias que somente os iniciados nos mistérios de Deus podem experimentar.

Como não lembrar o “caminho de Damasco”, no qual Saulo é surpreendido pelo Senhor, e se torna o apóstolo Paulo, mudando completamente a sua vida! Não foi assim o peregrinar paradigmático dos discípulos de Emaús?

Por isto é que quis lembrar que podemos entender o Plano de Pastoral como uma proposta para realizar uma experiência de discipulado, uma peregrinação em resposta ao chamado de Jesus que caminha conosco pelas ruas e casas desta cidade de São Paulo dos nossos dias.

Assim, o Plano de Pastoral é também Palavra de Deus para o nosso peregrinar: “Nosso 10º Plano é uma tentativa de resposta aos apelos de Deus vindos através de diversas “vozes”: da cidade de São Paulo, com suas riquezas e suas misérias, que nos desafia a sermos corajosos discípulos de Cristo e a darmos nesta metrópole um testemunho renovado e vigoroso do Evangelho; da situação de nossas comunidades eclesiais, muitas vezes cansadas e desmotivadas, que precisam recobrar coragem e rumo, olhando para Cristo. Vozes da Igreja, nas orientações da Conferência de Aparecida, que nos pede para sermos uma Igreja verdadeiramente discípula de Jesus Cristo, em estado permanente de missão; das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2008-2010), aprovadas pela CNBB; do Magistério, especialmente dos Documentos Pontifícios mais recentes; do Ano Paulino e do fato de termos, agora, como Patrono o Apóstolo São Paulo”.

É também uma graça que este Plano se inicie justamente no Ano Catequético, que é definido justamente como um “caminho para o discipulado” e que, inspirando-se na experiência dos discípulos de Emaús, tem como lema “Nosso coração arde quando ele fala, explica as Escrituras e parte o pão”.

Dom Tarcísio Scaramussa
Bispo Auxiliar de São Paulo e
Vigário Episcopal da Região Sé