A Palavra de Deus e a Fé

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04/09/2012 - 00:00

“Agradecemos a Deus sem cessar, porque, ao receberdes a palavra de Deus que ouvistes de nós, vós a recebestes não como palavra humana, mas como o que ela de fato é: palavra de Deus, que age em vós que acreditais” ( I Ts 2,13 ).

Para reavivar a fé, comecemos novamente da Palavra! A palavra de Deus é fonte inesgotável e indispensável da fé. O importante é ouvi-la, segui-la obedientemente, tornar-se discípulo dela.

O desejo de Deus é que entremos em comunhão íntima com Ele, com Seu Mistério. Por isso, Ele nos fala através da Escritura, da Palavra da Igreja, da sua intervenção nos acontecimentos da nossa vida. De fato, “no princípio era a Palavra! (Jo 1,1)”. A palavra é nossa regra de vida: ouvindo-a e colocando-a em prática aprendemos a conhecer e a amar o Verbo encarnado, Jesus. Ela nos faz viver a experiência do Espírito que realiza em nossa história e na vida de cada um as maravilhas de Deus.

E como Deus não cessa de falar à Igreja e à história, devemos estar sempre atentos para continuar ouvindo o Senhor que fala, para um impulso renovado no serviço da causa da sua Palavra na qual fomos criados (Jo 1,3).

A pergunta fundamental, portanto, é como fazer emergir o primado da Palavra, como fazer com que a Palavra se faça carne e venha a habitar no meio de nós, como dar nova vida aos ritos, às celebrações, à piedade popular, às manifestações de religiosidade, às pastorais, com o fogo da Palavra?

Quando uma pessoa se confronta com a Palavra, é questionada radicalmente, e provacada a uma resposta: ou ela escuta o Senhor, acolhendo a Palavra em sua vida, ou a recusa. Surge então a pergunta que não pode calar: “Vocês também querem ir embora?” (Jo 6,67). Se a pessoa responde positivamente, como Simão Pedro - “A quem iremos, Senhor, tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68) - abre-se uma porta de diálogo e de abandono obediente à Palavra de Deus. Esta é a atitude de fé, que desencadeia o seguimento do discípulo, configurando sua vida à de Cristo, sempre obediente ao Pai: "seja feita a Vossa vontade, na Terra como no Céu" (Mt. 6,10).

O Concílio Vaticano II ensina-nos a obediência da fé ao Deus que revela, com uma entrega livre a Deus, com plena adesão da inteligência e da vontade. Para que penetremos sempre mais profundamente no Mistério da Revelação, “o Espírito Santo aperfeiçoa continuamente a fé por meio de Seus dons” (DV, 5).

O dom da Palavra que fortalece a fé, impulsiona naturalmente para o anúncio da Palavra de Deus, que é a missão da Igreja. "A fé vem pela pregação e a pregação, pela palavra de Cristo" (Rm 10,17). Recordamos o episódio do encontro de Filipe com o eunuco da Etiópia (cf. At 8,26-38): “como posso entender se ninguém me explica?”.

A missão de anunciar a Palavra decorre do mandato de Cristo:”Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, ensinar todos os povos... ensinando-os a observar tudo o que vos mandei”. (Mt 28,18-20). Cumprindo esta ordem, os primeiros cristãos espalharam o Evangelho em toda a parte.

Toda pessoa tem o direito de ouvir o Evangelho de Deus para o homem, que é Jesus Cristo. Como a Samaritana junto ao poço, também a humanidade de hoje tem necessidade de ouvir as palavras de Jesus que fazem emergir o desejo profundo de salvação que habita em cada homem: “Senhor, dá-me desta água, para que não tenha mais sede” (Jo 4,15).

As realidades de êxodo do povo com relação à Igreja, dos que saíram de casa, dos que cresceram longe dela, revelam a urgência do anúncio em nossa ação pastoral. Nós nos acomodamos com a realidade da cristandade. Agora, porém, já não podemos supor que todos conhecem o Evangelho e que a sociedade se conduz naturalmente pelos princípios cristãos.

Por isso, estejamos convencidos, como São Paulo, que “toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça. Assim, a pessoa que é de Deus estará capacitada e bem preparada para toda boa obra” (2 Tim 3,16-17).

Recomecemos, portanto, da Palavra! Nem todos que presenciaram à multiplicação dos pães seguiram a Jesus, e muitos fariseus só pensavam em contradizê-lo, e Judas Iscariotes, que seguiu Jesus o tempo todo, o traiu. Sabemos que não nos é garantida a eficácia de toda pregação, mas não podemos deixar de proclamar a Palavra: “ai de mim, se não anunciar o Evangelho!” (1 Cor 9,16). 

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Bispo Auxiliar de São Paulo
e Vigário Episcopal da Região Sé