A vida em Cristo - I. A vocação do homem: a vida no Espírito

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01/09/2013 - 00:00

Nos artigos anteriores, sobre as duas primeiras partes do Catecismo da Igreja Católica, apresentamos o ‘ser do cristão’, que se exprime na profissão de fé e na celebração do mistério cristão. A terceira parte trata da vida em Cristo, ou seja, como viver de acordo com a dignidade do ser humano e do cristão.

Os sacramentos comunicam o que o símbolo da fé professa, ou seja, nos fazem viver a vida nova de filhos de Deus, pela graça de Cristo que acolhemos na fé, e pela ação do Espírito Santo com seus dons.

A vida no Espírito realiza a vocação do homem. A dignidade da pessoa humana tem fundamento no fato de ser criado à imagem e semelhança de Deus. Sua realização consiste em caminhar em direção à plena comunhão com Ele, para a felicidade eterna. O homem é livre para percorrer este caminho, pois a liberdade é condição básica para um comportamento verdadeiramente humano e moral. A vivência das bem-aventuranças purifica nosso coração para introduzir-nos na experiência do reino de Deus, na visão de Deus e na participação na natureza divina, como filhos destinados à vida eterna.

Mas o que caracteriza uma ação moral, com liberdade e responsabilidade? As três fontes da moralidade dos atos humanos são o objeto, a intenção e as circunstâncias. O ato moralmente bom supõe, ao mesmo tempo, a bondade do objeto (o bem), da finalidade e das circunstâncias. “O fim não justifica os meios”!

As paixões designam as afeições ou os sentimentos, e são vistas como realidade humana positiva, pois são elas que impulsionam para a ação moral, mas devem ser integradas, pois contrariamente podem destruir o senso moral! Amor, ódio, desejo, medo, alegria, tristeza, cólera são paixões que necessitam ser controladas pela razão e pela vontade humana. As disposições para o bem que surgem do comportamento moral são as virtudes que estruturam o homem e lhe conferem um caráter verdadeiramente humano.

O pecado apresenta-se como uma realidade de fraqueza do homem que não consegue atingir o devido objetivo do ser humano. O Evangelho é critério para revelar a verdade do pecado, tanto em sua dimensão pessoal como em suas consequências sociais.

A vida no Espírito é feita de caridade divina e de solidariedade humana. O catecismo, à luz da Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II e da Doutrina Social da Igreja, insere no conjunto da moralidade a dimensão social e comunitária de toda a ação humana, a forma autêntica de exercício da autoridade, o respeito pelos direitos fundamentais, a garantia da justiça social, a solidariedade.

A vida no Espírito é concedida gratuitamente como salvação. Deus vem ao encontro do homem, pois este, ferido pelo pecado, necessita da salvação de Deus, de seu amor e de sua misericórdia. O socorro divino lhe é dado em Cristo na lei que o dirige e na graça que o sustenta.

O catecismo apresenta então os três níveis da “lei moral”: a lei natural, a lei da antiga aliança e a lei da nova aliança. No centro da doutrina moral cristã está a “nova lei do amor, da graça e da liberdade”. Os temas da graça e da justificação são aprofundados à luz das cartas paulinas. Deus toma a iniciativa da salvação, oferecendo a justificação, a remissão dos pecados, a renovação do homem interior. A graça chama o homem à conversão, à resposta à sua vocação de filho adotivo, à cooperação com Deus. Citando Santa Teresinha, o Catecismo apresenta uma resposta à doutrina do mérito quando é entendida apenas como retribuição pelo bem realizado: “Após o exílio terrestre, espero ir deleitar-me de vós na Pátria, mas não quero acumular méritos para o céu, quero trabalhar somente por vosso amor. (…) Ao entardecer desta vida, comparecerei diante de vós com as mãos vazias, pois não vos peço, Senhor, que contabilizeis as minhas obras. Todas as nossas justiças têm manchas a vossos olhos. Quero, portanto, revestir-me de vossa própria justiça e receber de vosso amor a posse eterna de vós mesmo”.

Enfim, um artigo sobre a Igreja, enquanto Mãe e Mestra, prepara a apresentação do Decálogo. A vida moral é um culto espiritual e se alimenta da Liturgia e da celebração dos sacramentos. Através do Magistério dos pastores da Igreja, em especial pela catequese e pela pregação, os fiéis são fortalecidos nos princípios e na prática da vida moral.

Dom Tarcísio Scaramussa
Bispo Auxiliar de São Paulo e 
Vigário Episcopal da Região Sé