Conversão Pastoral e implicações na Nova Evangelização

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04/11/2011 - 00:00

As pistas comuns de ação indicadas pela Assembléia das Igrejas do Regional Sul 1, realizada em Itaici, nos dias 14 a 16 de outubro, reforçam os passos que a nossa Arquidiocese vem dando na linha da conversão pastoral. A Assembléia indicou as seguintes linhas, em resposta aos desafios da realidade sócio-cultural e eclesial, e em consonância com as Diretrizes da Ação evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE):

missionariedade;
valorização da Palavra de Deus em toda pastoral;
promoção do processo de iniciação à vida cristã de inspiração catecumenal;
setorização e renovação das paróquias;
novo impulso à evangelização da juventude;
reforço das pastorais sociais.

As propostas concretas para a renovação das paróquias retomam algumas das ações que já estão sendo implementadas em nossa programação destes dois anos, mas vale a pena enunciá-las para reforçar a dinâmica de nosso empenho:

incrementar os ministérios confiados aos leigos e leigas;
setorização das paróquias, investindo nas CEBs, nas pequenas comunidades, nos grupos de rua;
reforçar a pastoral Orgânica e de Conjunto;
criar e qualificar as estruturas de Comunhão como os Conselhos (Pastoral, Econômico, Leigos...);
promover a pastoral da Acolhida.

Antes, porém, de traçar estas linhas de ação, a Assembléia se deteve na reflexão do capítulo I das Diretrizes, que constitui a alma que sustenta e conduz toda a ação pastoral. Dom Leonardo Steiner, em sua assessoria, deu ênfase ao conteúdo deste capítulo, que se intitula “Partir de Jesus Cristo”.

Nesta exploração, evidenciou o fundamento do nosso ser Igreja: “A Igreja não é uma associação de um grupo, de uma instituição qualquer. Somos irmãos, pertencemo-nos mutuamente em Jesus Cristo. Pelo batismo fomos revestidos de Cristo. Nossa identidade cristã não se caracteriza primeiramente por uma moral, uma doutrina, mas por um encontro pessoal com Jesus Cristo”.

Em seguida, destacou três palavras-chave do conteúdo deste capítulo:

1. Encontro: Partir de Cristo significa encontro. Deus, o inacessível, torna-se acessível porque toma a iniciativa graciosa de vir ao encontro do homem. Tudo o que fazemos, todos os nossos esforços e opções são a resposta agradecida e admirada à iniciativa de Deus em Cristo. O encontro com Cristo é a alma da ação evangelizadora, que não é mero conjunto de projetos e programas impostos a partir de fora, como um plano de metas a serem cumpridas pelos funcionários da religião, mas a experiência fundante da vida e da ação dos cristãos. Por isso, a ação evangelizadora não é só esforço institucional: é a ação de Cristo que continua na ação agradecida dos cristãos.

2. Alteridade: Atualmente, a relação eu–tu entrou em crise. O cristianismo é fé que se realiza na relação eu–Tu. Jesus vai ao encontro do próximo. Jesus se fez o meu outro, o Tu que salvou o eu. O diálogo só é possível na alteridade. Por isso existe comunidade, porque comunidade é alteridade. O cristianismo é essencialmente alteridade. O próprio mistério de Deus é alteridade: Uno e Trino. A Trindade é o mistério da unidade e da comunhão. Deus se fez um de nós sem deixar de ser outro de nós.

3. Gratuidade: Deus é gratuito. Como fonte de água, dá-se livre e generosamente. No Evangelho encontramos muitas imagens da gratuidade: o convite feito aos pobres ao banquete; “de graça recebeste, de graça dai”... Essa é a dinâmica da ação evangelizadora. A cruz é o ponto alto da revelação da gratuidade divina. O abandono do Filho pelo Pai não deve ser atenuado, pois nele se revela o que é gratuidade. Na cruz, o Filho, tendo perdido tudo (até a presença do Pai), não perde o que ele oferece: “em tuas mãos entrego o meu espírito”. O crucificado entrega tudo, até não ter mais nada para si. Essa é a força e a potência de Deus: a capacidade de se entregar totalmente até o esvaziamento total nas mãos do Pai. Essa é também a característica própria do cristão. Sem gratuidade, perdemos a alma do evangelho, da nossa pastoral, da nossa ação evangelizadora. A pastoral e a ação evangelizadora só existem quando há gratuidade. Sem ela, a religião se torna barganha e comércio.

A Assembléia das Igrejas nos compromete ainda mais no processo de conversão pastoral, para que nossas paróquias sejam sempre mais comunidades que testemunhem a vida de Deus Trindade, engajadas no projeto de seu Reino.

Viva Cristo Rei! Vica o leigo missionário de Jesus Cristo e de seu Reino!

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Bispo Auxiliar de São Paulo
e Vigário Episcopal da Região Sé