Economia a serviço da Vida: face brilhante do ministério do leigo

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01/03/2010 - 00:00

Deus criador nos chama a participar ativamente de sua obra. O cuidado da vida nos faz artífices e colaboradores de seu plano de amor, do qual o mundo é uma expressão. Nossa missão é contribuir para a humanização, porque a vontade de Deus é que “todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). O cuidado das pessoas está intimamente ligado com o cuidado da natureza. Dessa forma, a tarefa de humanização exige a sustentabilidade, ou seja, o cuidado da casa onde habitamos.

Olhando com o olhar de Jesus para a realidade da vida das pessoas concretas e do mundo em que vivemos, constatamos com Ele que “a messe é grande, e os operários são poucos” realmente. É grande o número de pessoas que vivem em condições desumanas, carecendo do básico para viver com dignidade, num cenário de grandes desigualdades sociais e de degradação ambiental. Esse é o grande desafio para a economia que deve ser a administração em vista do Bem Comum. A tentação da economia moderna é “assentar-se sobre os pilares do interesse individual e de uma falsa ética utilitarista”, que deturpam as ações das pessoas e também as políticas econômicas, porque se voltam sempre para os interesses egoístas dos indivíduos e para proteger o patrimônio e os investimentos dos ricos, em detrimento dos pobres, da distribuição das riquezas, da preservação da natureza. O texto da CF cita Ghandi: “O teste da verdadeira organização de um país não é o número de milionários que possui, mas a ausência de fome em sua população”.

Os leigos cristãos são protagonistas neste “ministério” de orientar a economia para o serviço da vida. Trata-se de uma missão divina, a ser realizada em nome de Deus. É no altar da vida e das realidades terrenas que os leigos prestam seu culto cotidiano e permanente de Deus. É ali o espaço constante de seu sacrifício e de sua santificação, lugar singular de encontro com Deus. Basta lembrar apenas uma afirmação de Jesus, entre muitas outras que poderiam ser citadas: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40).

O magistério da Igreja relembra constantemente este aspecto da identidade do leigo cristão, como o faz Aparecida, citando o documento Lumen Gentium do Concílio Vaticano II e Puebla: “Os fiéis leigos são ‘os cristãos que estão incorporados a Cristo pelo batismo, que formam o povo de Deus e participam das funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Eles realizam, segundo sua condição, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo’. São ‘homens da Igreja no coração do mundo, e homens do mundo no coração da Igreja’”. Muito lembrada também é a afirmação da exortação apostólica de Paulo VI sobre a evangelização no mundo contemporâneo:  “O espaço próprio de sua atividade evangelizadora é o mundo vasto e complexo da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos ‘mass media’, e outras realidades abertas à evangelização, como são o amor, a família, a educação das crianças e adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento” (EN 70).
A CF 2010 reforça, portanto, este aspecto do ministério do leigo em sua missão de administrador dos bens materiais segundo o evangelho. É um forte apelo à conversão, para que a economia solidária seja modelo e fonte de critérios para todas as suas ações. Trata-se de uma transformação profunda, porque significa mudança de mentalidade e de modelo de vida de nossa sociedade.

Um nível tão profundo de mudança como este tornaria permanente as ações de solidariedade que acontecem em momentos de catástrofe, e estas seriam expressão não apenas da capacidade humana de fazer algumas ações de solidariedade, mas da vocação de ser pessoa solidária.

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Bispo Auxiliar de São Paulo
e Vigário Episcopal da Região Sé