Maria, Eucarístia e Sacerdócio

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31/05/2010 - 00:00

Maria, Eucaristia e Sacerdócio

Às vésperas da conclusão do Ano Sacerdotal, o papa Bento XVI está dedicando suas catequeses nas audiências na Praça de São Pedro ao tema do ministério ordenado. Começou no dia 14 de abril, falando da importância do múnus de ensinar, inspirando-se na passagem evangélica em que Jesus demonstra sua compaixão pela multidão, “porque era como ovelhas sem pastor”.

O papa tem ressaltado que vivemos uma situação de emergência educativa, num contexto marcado por “tantas filosofias contrastantes, que nascem e se espalham, criando uma confusão acerca da decisão fundamental, como viver, porque não sabemos mais, geralmente, de quê e por quê somos feitos e onde andamos”. As outras catequeses darão continuidade ao tema, completando a reflexão sobre o tríplice múnus do sacerdote ordenado (mestre, sacerdote e pastor), sempre relacionando-os ao momento atual.
Desejo unir-me às reflexões do Papa sobre o sacerdócio, ressaltando a vivência eucarística e a devoção a Maria como fontes da espiritualidade sacerdotal. Elas são duas colunas indispensáveis de sustentação da fé e do ministério do sacerdote.

Através da Eucaristia, o sacerdote se une ao Cristo, Sumo Sacerdote, que se entregou ao Pai pela salvação da humanidade. Há uma unidade profunda entre sacerdócio e Eucaristia, pois esta está no centro da vida e da atuação do padre.

A Eucaristia é o legado mais precioso que Jesus deixou aos apóstolos: “Fazei isto em memória de mim”. O sacerdote recebeu o legado de tornar presente o Cristo, de celebrar o memorial da Páscoa, de sua paixão, morte e ressurreição. A Eucaristia resume tudo o que Jesus disse, tudo o que ele fez e tudo o que ele é permanentemente para nós. Como consequência, a Eucaristia resume o que deve ser a vida do sacerdote, como outro Cristo. Isto deverá ser lembrado e ressaltado na próxima festa de Corpus Christi.

A devoção a Maria brota também do mistério eucarístico, e é outra coluna que sustenta a espiritualidade sacerdotal. Maria foi entregue ao discípulo no momento supremo do sacrifício de Jesus na cruz, e o discípulo continua acolhendo Maria em sua casa todas as vezes que celebra a Eucaristia.
Por causa da cruz, cria-se uma nova família de Jesus. A mãe de Jesus, modelo de fé, e o discípulo amado tornam-se uma família a partir do momento em que o discípulo acolhe a mãe. Como é inspirador imaginar a vida do discípulo João com Maria em sua casa! Como continua sendo inspirador para o discípulo de hoje a presença de Maria em sua vida!

Receber Maria em sua casa significa para o discípulo, e de modo especial para o discípulo sacerdote, confiar em sua proteção materna, sentir sua presença constante de mãe, significa imitá-la em sua oração de louvor e agradecimento a Deus (o Magnificat), significa acompanhá-la em suas atitudes de serviço a quem necessita, imitá-la em sua atenção às necessidades dos outros, dizer sim a Deus com coragem, como ela disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua vontade”, e, principalmente, aprender a seguir os passos de Jesus durante toda a vida, como ela seguiu! Feliz quem ouve a palavra de Deus e a põe em prática.

Receber Maria significa tê-la como mãe, companheira e conselheira, sabendo que ela conhece, melhor do que nós, quais são os desejos de Deus a nosso respeito. Se aprendemos a consultar e a escutar Maria em todas as coisas, ela se torna para nós a mestra incomparável dos caminhos de Deus. Receber Maria é ter também a certeza de tê-la como companheira em todos os momentos da vida, pois ela estará sempre ao nosso lado, como esteve ao lado de Jesus até o momento derradeiro da cruz.

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Bispo Auxiliar de São Paulo
e Vigário Episcopal da Região Sé